Como o Fla-Flu, que decide hoje o Carioca, tem “salvado” o torneio nos últimos seis anos

Rubro-negro entra em campo com vantagem por ter vencido no jogo de ida.

Os dias que antecederam a segunda partida da final do Carioca foram movimentados. A discussão entre Luiz Araújo e o técnico Mano Menezes, nos minutos finais do primeiro jogo, ganhou mais holofotes após uma leitura labial revelar o conteúdo da troca de provocações. Para completar, o Fluminense publicou nota na qual criticou a arbitragem e pediu imparcialidade no confronto decisivo com o Flamengo. Tudo isso elevou a temperatura do Fla-Flu de hoje, às 16 horas. Até ontem, cerca de 56 mil ingressos já haviam sido comercializados. O que não chega a ser surpresa. Nos últimos anos, tem sido do clássico a função de garantir um mínimo de atratividade ao torneio.

Detentores de 71 taças em 127 edições, Flamengo e Fluminense já são, historicamente, os maiores campeões. Mas, a partir de 2020, esse protagonismo cresceu, e a dupla estabeleceu um duopólio, que se reflete não apenas na distribuição de títulos (três para o rubro-negro e dois para o tricolor) e no fato de eles terem disputado, juntos, cinco de seis finais.

Numa época de perda contínua de espaço no calendário e de queda no interesse do público pelos Estaduais, é o Fla-Flu quem mais tem levado o torcedor para os estádios no Carioca. Desde 2020, 678.161 pessoas assistiram aos confrontos entre Flamengo e Fluminense pelo campeonato, o que dá uma média de 52.166 por partida.

O desempenho é superior ao dos jogos entre o rubro-negro e o Vasco, que reúne as duas maiores torcidas do Rio. Nos últimos seis anos, o Clássico dos Milhões atraiu 473.084 torcedores, com uma média de 43.007 por confronto.

O apelo maior do Fla-Flu, na verdade, não se limita ao Estadual. Se considerarmos os jogos do Brasileiro e da Copa do Brasil, ele segue como o clássico carioca de maior público desde 2020. Já foram 1.167.894 rubro-negros e tricolores nos estádios — 53.086 por jogo. Já Flamengo x Vasco reuniu um total de 715.038 torcedores (47.669 por confronto) quando incluímos os duelos pela Série A neste recorte dos últimos seis anos.

Equilíbrio em campo

Não é difícil entender o protagonismo atual do Fla-Flu. Ele ocorre num contexto em que o Flamengo se descolou financeiramente de seus rivais locais. Enquanto Vasco e Botafogo amargaram alguns destes anos na Série B, sem sequer enfrentar os rubro-negros pelo Brasileiro, o Fluminense tem conseguido bater de frente com o rival de uma forma regular, o que manteve a rivalidade acirrada.

Em 31 jogos entre os dois desde 2020 (por todas as competições), o equilíbrio predomina. Até o começo desta semana, rubro-negros e tricolores estavam empatados no número de vitórias. Com o 2 a 1 da última quarta, o Flamengo passou a somar 12 contra 11 do rival.

A igualdade de forças fica ainda mais evidente quando se observa o predomínio do Flamengo nos confrontos com os outros rivais neste mesmo período. Contra o Botafogo, venceu dez vezes e perdeu quatro em 15 confrontos no período. Já diante do Vasco a discrepância é ainda maior: são 14 triunfos rubro-negros e apenas dois dos cruzmaltinos em 18 jogos. Um histórico que acaba desmobilizando o torcedor.

Coincidentemente, Vasco e Botafogo se converteram em SAFs nesse período. No primeiro caso, o afastamento do investidor por decisão judicial em meio a uma série de acusações de fraudes nos Estados Unidos fez o projeto naufragar. Já o alvinegro se tornou vitorioso em campo. Mas a visão de negócio de seu proprietário praticamente tirou o Estadual da agenda do clube.

4 a 1 ainda na memória

Do lado do Flamengo, não há desconforto em reconhecer essa força do Fluminense nos clássicos. Todos que estavam no clube em 2023 se recordam da derrota por 4 a 1 no segundo jogo da decisão do Carioca após a vitória por 2 a 0 no primeiro.

“Em 2023 eu estava em campo. Fizemos 2 a 0 e sofremos a virada. Todo mundo tem que pensar dessa maneira: não tem nada decidido. É uma equipe muito qualificada do outro lado”, admitiu o zagueiro Léo Pereira, em entrevista coletiva na última sexta.

Ironicamente, o Fluminense é o único rival dos rubro-negros que não se converteu em SAF. O que não significa que ele não invista no elenco. Mas precisa de algo a mais para compensar a força financeira do outro lado.

“Ele se tornou o clássico mais motivante para o Fluminense. O Flamengo vem sempre com boas equipes e em momentos mais positivos. E isso é motivação extra”, admite ao Globo Abel Braga, técnico tricolor no título de 2022, que aposta num equilíbrio maior hoje.

“Aquele golzinho ali no final (do Keno) foi a sobrevivência. O Fluminense não vai chegar mais morto, entendeu? O Flamengo vai continuar tendo o favoritismo. Mas o Fluminense, pelo potencial que tem, com certeza vai ser muito mais forte do que foi na primeira partida. Vai ser um jogo bom.”

Fonte: extra.com.br

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