No último Conversa com Bial (Globo) de 2024, que foi ao ar nessa sexta-feira, 13, Gilberto Gil falou sobre sua derradeira turnê, Tempo Rei. Aos 82 anos, o cantor baiano afirmou entender as limitações naturais que a idade lhe impõe.
“Há o reconhecimento de um desgaste natural, do físico, do corpo, mas da mente também. Tem uma hora que cansa”, diz ele, que, neste ano, fez shows no Japão e na Coreia do Sul com a turnê Aquele Abraço.
Segundo ele, Tempo Rei, que começa em março de 2025, será sua última turnê com grandes públicos e viagens longas. “Quero ter um descanso desse tipo de coisa. Agora, eventualmente, vou continuar subindo no palco vez ou outra”, explica.
Não que o tempo de estrada com seus filhos e netos não seja proveitoso. Gil diz que adora viajar de ônibus e de trem pela Europa. Na turnê mais recente, foi acompanhado da família inteira, incluindo netos, noras, genros e agregados. Passar a noite viajando, conta, é um de seus momentos de reflexão e paz.
Protesto
No programa, o cantor também falou sobre a morte do filho Pedro Gil e relembrou as canções de protesto que fez na ditadura militar (1964-1989). Foi quando o apresentador Pedro Bial exibiu um trecho de uma performance de O Seu Amor, dos Doces Bárbaros, grupo que incluía, além de Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gal Costa.
Na música, o quarteto canta o verso: “O seu amor, ame-o e deixe-o ser o que ele é”. Era uma paródia com um dos lemas da ditadura militar, “Brasil, ame-o ou deixe-o”.
“Ali não havia intenção poética, era intenção propagandística”, afirmou Gil. “Fizeram o slogan ‘Brasil: ame-o ou deixe-o’ e fizemos ‘ame-o e deixe-o’. O poeta tem esse trabalho de corrigir”, falou, arrancando aplausos da plateia.
Infância
Ainda na entrevista, Gil relembrou com Bial alguns dos momentos mais marcantes da sua infância em Ituaçu, no sertão baiano, nos anos 1950.
“Em frente à fogueira de São João em Ituaçu, com cinco ou seis anos de idade, ouvindo as músicas dos violeiros, o cheiro de casca de laranja seca que a gente colocava na fogueira para estimular o fogo. Depois que a gente já tinha dançado a festa toda, assava milho e batata-doce na brasa que sobrava da fogueira”, lembrou.
“A música veio para mim aos dois, três anos de idade. Era batucada na mesa depois do jantar, na velha mesa de madeira. Tudo aquilo vinha naturalmente”, lembrou. “Agora, o falar das coisas, isso foi aprendizado. Foi ouvindo Gonzaga falando dos boiadeiros. Aprendi muito com Caetano quando o conheci, aprendi muito com Chico, Vinícius, Caymmi e tantos outros.
Fonte: Notícias ao Minuto