Entre técnicos que ainda vão dando cartas na elite do futebol brasileiro e os que já saíram para outras aventuras, há 22 exemplos de técnicos portugueses que deixaram a sua marca em clubes brasileiros.
Abel Ferreira
Técnico mais longevo da história do Palmeiras em uma única passagem, Abel Ferreira é o primeiro treinador palestrino a colecionar pelo menos um título de campeonato estadual, um de campeonato nacional e um de campeonato internacional. Maior campeão internacional do clube (três taças, contra duas de Felipão e uma de Ventura Cambon) e técnico com mais títulos de campeonato no geral (dez, ao lado de Oswaldo Brandão), o português é o primeiro técnico europeu campeão paulista desde o húngaro Bela Guttmann, do São Paulo, em 1957 – levando em conta apenas o Palmeiras, o feito se torna ainda mais raro: o último estrangeiro campeão paulista havia sido o uruguaio Ventura Cambon, em 1950, e o último europeu tinha sido o italiano Caetano De Domenico, em 1940.
Além disso, Abel Ferreira é o único treinador na história do futebol brasileiro a ter no currículo os títulos da Libertadores, do Campeonato Brasileiro, da Copa do Brasil, do Estadual, da Recopa Sul-Americana e da Supercopa do Brasil.
Abel Ferreira é o treinador com mais finais pelo Palmeiras em toda a história: 13 no total. São oito títulos (Libertadores 2020 e 2021, Recopa Sul-Americana 2022, Copa do Brasil 2020, Paulista 2022, 2023 e 2024 e Supercopa do Brasil 2023) e cinco vices (Supercopa do Brasil 2021 e 2024, Recopa Sul-Americana 2021, Paulista 2021 e Mundial 2021).
Quarto treinador na história do Palmeiras a atingir 150 jogos em apenas uma passagem pelo clube, igualando os feitos de Felipão, Luxemburgo e Osvaldo Brandão, é o único estrangeiro a chegar a essa expressiva marca de forma consecutiva – o uruguaio Ventura Cambon (294 jogos) e o argentino Filpo Nuñez (154 jogos) também ultrapassaram o centésimo duelo, mas somando mais de uma passagem pelo Verdão.
No Allianz Parque, Abel já é o treinador que mais comandou e mais venceu com o Palmeiras na história, além de ter estabelecido o recorde de vitórias em sequência no local: dez no total. Em Libertadores, também é o líder com impressionantes 31 vitórias em 47 partidas. Somando toda a comissão técnica portuguesa, são 50 jogos na competição continental, 33 vitórias, só quatro derrotas, incríveis 117 gols marcados e apenas 34 sofridos. Nesse período, mais dois recordes: maior sequência invicta do Palmeiras na história da competição (18 jogos) e maior sequência de invencibilidade fora de casa entre todos os clubes do continente em todos os tempos (22 partidas com mando do adversário ou em campo neutro, com 16 vitórias e seis empates).
Uma das principais revelações de uma geração de jovens técnicos portugueses, Abel Ferreira disse em sua apresentação na Academia de Futebol, em novembro de 2020, que não atravessara o Atlântico para passar férias. Com pouco mais de três anos como treinador profissional, o ex-lateral direito do Sporting Lisboa-POR buscava o primeiro troféu na nova carreira e afirmou ter aceitado o desafio de comandar o Palmeiras porque via no clube a grandeza e as condições necessárias para alcançar o objetivo.
Mas talvez nem ele imaginasse que o sonho poderia se tornar realidade em tão pouco tempo. Campeão da Libertadores com apenas 26 jogos à frente da equipe, Abel só não conquistou um título mais precocemente neste século do que Vanderlei Luxemburgo, que faturou o Paulista de 2020, já em sua quinta passagem pelo clube, com 20 partidas de trabalho. Primeiro técnico estrangeiro a levantar um troféu pelo Verdão desde o argentino Filpo Nuñez, em 1965, entrou definitivamente para o grupo dos lendários comandantes palestrinos ao faturar também a Copa do Brasil em sua temporada de estreia – apenas ele, Del Debbio (1942) e Luxemburgo (1993) conquistaram mais de uma taça no primeiro ano de clube.
Campeão do Paulista, da Recopa Sul-Americana e do Brasileiro em 2022, Abel se tornou o primeiro técnico deste século a levantar três troféus na mesma temporada – em toda história, apenas três obtiveram o feito: Ventura Cambon (1951), Oswaldo Brandão (1972) e Vanderlei Luxemburgo (1993).
Chefiando uma comissão técnica composta por outros quatro integrantes multidisciplinares, implantando ideias claras de jogo, um repertório de ações ensaiadas em campo e um discurso direto e eloquente fora dele, o jovem treinador rapidamente ganhou o respeito do elenco e a admiração do torcedor. O lema “todos somos um” virou mantra, o ensinamento da “cabeça fria e coração quente” se tornou combustível na busca pelas vitórias e o “Avanti, Palestra” a plenos pulmões antes dos jogos, a chama.
Carreira na Europa e estrangeiros no Palmeiras
Primeiro português, 11º europeu e 26º estrangeiro a assumir o comando do Maior Campeão do Brasil na história, Abel Ferreira iniciou a carreira de técnico na equipe sub-19 do Sporting Lisboa-POR em 2011/2012, conquistando o título nacional da categoria já em sua primeira experiência no cargo. Subiu para o time B do Sporting na temporada 2013/2014 e foi contratado pelo Braga B em 2015. Dois anos depois, foi promovido a treinador da equipe principal do Braga e, logo na temporada de estreia na elite do Campeonato Português, em 2017/2018, levou o time à quarta posição com uma campanha recorde em pontos (75), gols (74) e vitórias (24).
Depois de novamente alcançar a quarta colocação com o Braga, transferiu-se ao PAOK-GRE e obteve o vice-campeonato nacional em 2019/2020, garantindo vaga para a fase eliminatória da Liga dos Campeões da Europa, quando eliminou o Benfica-POR do ex-técnico flamenguista Jorge Jesus antes de se aventurar em solo tupiniquim. O último treinador do Palmeiras nascido na Europa tinha sido o italiano Caetano De Domenico, campeão paulista em 1940, ainda na época do Palestra Italia, enquanto o mais recente comandante de fora do país era o argentino Ricardo Gareca, em 2014.
O primeiro técnico estrangeiro foi o italiano Adriano Merlo, que trabalhou em um jogo da campanha do título paulista de 1920, o primeiro da história alviverde, e conduziu a equipe ao bi estadual em 1926, em parceria com Ítalo Bosetti. Ainda na época do Palestra Italia, o uruguaio Humberto Cabelli ficou marcado pela conquista do único tricampeonato paulista do clube (alcançou o título invicto em 1932, levou a taça pela segunda vez seguida em 1933 e deixou o time por um breve período em 1934, mas voltou no mesmo ano e se sagrou campeão com apenas uma derrota).
Presente no tricampeonato paulista de 1932, 1933 e 1934 como jogador, o também uruguaio Ventura Cambon se tornou o treinador estrangeiro com mais partidas disputadas pelo Verdão (é o quarto no geral com 294 jogos) e o técnico que mais vezes assumiu o comando da equipe, de maneira interina ou efetiva, independentemente da nacionalidade, em todos os tempos (15 no total). Campeão paulista em 1944 dividindo o cargo com o ídolo Bianco, Cambon teve seu melhor momento no início da década de 50, quando, já em janeiro de 1951, pegou o time na reta final de um Paulistão praticamente nas mãos do São Paulo e conseguiu levar o Palmeiras ao título estadual de 1950. Meses depois, era ele o treinador na conquista do mais importante troféu da história do clube, o Mundial Interclubes de 1951, e faturou ainda o Torneio Rio-São Paulo e a Taça Cidade de São Paulo daquele ano.
Outro estrangeiro de sucesso foi o argentino Filpo Nuñez, grande maestro da Academia de Futebol do Palmeiras, que brilhou na campanha vitoriosa do Rio-São Paulo de 1965. Além de praticar um jogo coletivo e envolvente, o time alviverde era uma máquina ofensiva: foram 12 vitórias em 16 jogos, apenas uma derrota, e uma média de três gols por partida (49 bolas na rede), com direito a goleadas de 7 a 1 no Santos, 5 a 0 no São Paulo e 4 a 1 no Vasco e no Flamengo. Filpo ostenta até hoje o feito de ser o único técnico nascido fora do país a comandar a Seleção Brasileira, quando o Brasil foi inteiramente representado pelo Palmeiras na partida inaugural do Estádio Mineirão, também em 1965, e venceu a Seleção do Uruguai por 3 a 0.
Nome: Abel Fernando Moreira Ferreira
Data de nascimento: 22.12.1978
Local de nascimento: Penafiel, Portugal