Os rebeldes houthis do Iêmen realizaram um ataque inédito contra Israel neste domingo, 15, lançando o que chamaram de míssil hipersônico contra a região central do estado judeu, 2.040 km distantes de sua base.
Não houve feridos. Segundo o porta-voz houthi Yahua Sarea, o modelo balístico percorreu a distância em 11 minutos e meio. Às 06h32 (00h32 em Brasília), o aplicativo oficial de alerta de ataques apontava que sirenes soaram em Tel Aviv e mais de 140 localidades ao seu redor.
Segundo moradores, foi ouvido um estrondo típico da quebra da barreira do som e rastros de fumaça eram visíveis. Destroços do míssil, ou dos interceptadores lançados contra ele, caíram perto de uma estação de trem, sem causar danos.
O premiê Benjamin Netanyahu convocou uma reunião de seu gabinete e disse que iria cobrar “um preço pesado” pelo ataque. “Qualquer um que necessite de um lembrete está convidado a visitar o porto de Hodeidah”, disse.
Foi uma referência à instalação destruída por Israel em julho, após um único drone houthi também voar cerca de 2.000 km, enganar as defesas aéreas e explodir em Tel Aviv, matando uma pessoa.
Os rebeldes estão envolvidos na guerra entre o estado judeu e o grupo terrorista palestino Hamas, iniciada há quase um ano, em 7 de outubro de 2023. Ambas as agremiações, assim como o Hezbollah libanês, são apoiadas e bancadas pelo Irã, arqui-inimigo de Israel e dos Estados Unidos, fiadores de Tel Aviv.
Desde o começo da guerra, os houthis atacam navios comerciais no Mar Vermelho, que consideram ligados aos rivais. São combatidos por uma força americana-britânica, além de provocar reação de outras nações ocidentais, como a França.
Eles também lançaram mísseis e drones contra Eilat, o principal porto meridional de Israel no Mar Vermelho, que fica a cerca de 1.800 km de suas bases, mas sem nunca causar danos significativos.
O ataque de julho acendeu um alerta entre os militares israelenses. Armados pelo Irã, os houthis têm um sofisticado arsenal de mísseis balísticos de aviões-robô, mas ninguém sabia nada acerca de tecnologia hipersônica – algo que Teerã diz ter desenvolvido no modelo Fattah, com velocidade de 15 mil km/h.
Já na frente norte da guerra, o atrito entre Israel e o Hezbollah, 20 projéteis foram disparados na manhã do domingo pelo grupo fundamentalista. Não houve feridos, mas Netanyahu disse novamente que a situação não é sustentável, elevando o temor de que, com o conflito em Gaza reduzindo de intensidade, ele se volte para o Líbano.
Até aqui, os ânimos foram contidos. O Irã até hoje não exerceu a vingança prometida pelo assassinato, em sua capital, do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em 31 de julho.
Horas antes, um chefe militar do Hezbollah havia sido explodido por um míssil israelense em Beirute. Até aqui, a retribuição do grupo foi tolhida por um ataque preventivo de Israel no fim de agosto, e ficou por isso. Radicais livres no processo, os houthis agora entraram no jogo, mas não citaram os assassinatos como sua motivação, e sim Gaza.
Entra na equação a pressão militar americana, que até a semana passada mantinha dois porta-aviões na região. Um foi embora, mas outro grupo ficou, além ao menos um submarino de ataque e vários reforços em bases.
O atentado de 7 de outubro matou 1.170 pessoas, a mais mortífera ação do tipo na história israelense. Os meses seguintes deixaram, segundo os palestinos divulgaram neste domingo, 41.206 mortos até aqui.
A questão da capacidade de ataque, de lado a lado, ganhou um elemento novo, envolvendo a Rússia de Vladimir Putin, aliado do Irã e que vive às turras com os EUA e o Ocidente desde que invadiu a Ucrânia em 2022.
Na sexta, 13, segundo relatos vazados à mídia, o presidente Joe Biden e o premiê britânico, Keir Starmer, expressaram preocupação com a suspeita de que Putin possa estar fornecendo tecnologia para acelerar a produção de uma bomba nuclear por Teerã.
Não foram apresentadas evidências, apenas um raciocínio: como os iranianos firmaram um acordo militar com Moscou e já forneceram, segundo o Ocidente, mísseis de curta distância para Putin poupar os seus de maior alcance na guerra contra Kiev, essa seria uma moeda de troca. O Kremlin nega.
A Agência Internacional de Energia Atômica diz que o Irã investiu muito na produção de matéria-prima para uma bomba desde que os EUA sob Donald Trump deixaram o acordo que impedia isso em troca do fim de sanções.
Só que, entre ter o material e montar a bomba a obter a capacidade de instalá-la de forma empregável num míssil, há um caminho, e os russos, segundo essa visão, podem fornecer o atalho. A lógica é a mesma que incentiva Israel, que tem 90 ogivas atômicas, a usar qualquer ataque retaliatório do Irã como justificativa para atacar as instalações nucleares da teocracia.
Fonte: Notícias ao Minuto