Aposta em alta nos juros no Brasil continua apesar de corte nos EUA

A expectativa da maioria do mercado segue por uma manutenção da Selic em 10,50%, enquanto os demais ainda veem uma taxa básica de juros acima de 11% ao final deste ano.

Apesar da forte reação positiva do mercado financeiro nessa sexta-feira, 23, a confirmação de um corte nos juros dos Estados Unidos em setembro não alterou, por ora, as previsões dos economistas para o Brasil.

A expectativa da maioria do mercado segue por uma manutenção da Selic em 10,50%, enquanto os demais ainda veem uma taxa básica de juros acima de 11% ao final deste ano.

Segundo especialistas, o cenário continua inalterado, pois o ciclo de cortes nos juros americanos já era considerado na elaboração dessas projeções.

É possível, porém, que uma eventual desvalorização maior do dólar ante o real e uma queda mais expressiva na curva de juros ajudem a reduzir as expectativas de inflação e a própria alta dos preços. Isso poderia facilitar a missão do Banco Central brasileiro de manter o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dentro da meta de 3% ao ano, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Nos últimos 12 meses, a inflação bateu no teto limite, com uma alta acumulada de 4,50%, o que levou diversas instituições financeiras a apostarem em uma alta na taxa básica de juros brasileira já em setembro.

É o caso da do BTG. Segundo Álvaro Frasson, estrategista-macro do BTG Pactual Portfolio Solutions, por mais que a queda de juros nos EUA ajude a reduzir a aversão a risco dos investidores, o que derruba as expectativas de inflação, a atividade econômica brasileira está muito resiliente, o que torna o IPCA mais resistente.

“Acho difícil o Copom deixar de subir juros aqui porque a atividade doméstica está surpreendendo bastante”, diz Frasson.

O Brasil está com a menor taxa de desemprego em dez anos (6,9%) e com aumento real na renda dos trabalhadores, o que, mesmo com um juro restritivo de 10,50% ao ano, eleva os preços. E a perspectiva é de que a atividade siga em expansão, com revisões altistas a cada semana na expectativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. A mais recente é de 2,23%, com um IPCA de 4,22%.

O BTG, por sua vez, espera uma alta de 2,7% no PIB deste ano, com uma Selic a 11,75% – um acréscimo de 0,25 ponto percentual em setembro, seguido de duas altas de 0,50 cada uma.

As XP têm as mesmas projeções. De acordo com Francisco Nobre, economista da instituição, além da inflação, o risco fiscal também demanda cautela por parte do BC.

“Sabendo que a atividade econômica [no Brasil] está saudável, o Copom tem espaço para subir juros”, afirma Nobre.

Segundo o economista, o maior risco no momento é a saúde da economia dos EUA. Com uma recente alta inesperada na taxa de desemprego americana, para 4,3%, o receio em relação a uma possível recessão voltou à mesa.

“Essa alta de juros nos EUA já estava bem telegrafada; ela não muda a perspectiva macroeconômica. A dúvida é a magnitude do corte por lá”, diz Nobre.

Para ele, um corte de 0,5 ponto percentual na taxa do Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) pode indicar uma maior preocupação da autoridade monetária com a saúde da maior economia do mundo, o que aumentaria o risco de recessão.

“Se as empresas americanas ficarem preocupadas com recessão, elas cortam custos, cortam vagas, e isso acaba gerando recessão, com alta de desemprego. Vira uma bola de neve”, afirma o economista.

As expectativas de inflação funcionam da mesma maneira. Elas são utilizadas no ajuste de preços e acabam sendo uma profecia autorrealizável. Quanto menores as expectativas, menor tende a ser a alta de preços de fato.

Segundo o economista Maílson da Nóbrega, sócio da Tendências Consultoria e ex-ministro da Fazenda, as expetativas de inflação desancoradas são o maior fator de preocupação para o Copom no momento.

“Vejo como cenário mais provável uma elevação de 0,25 ponto percentual na Selic na reunião de setembro”, diz Nóbrega.

Já o Itaú Unibanco está alinhado com a previsão da maioria dos economistas, com expectativa de manutenção da Selic em 10,5% até o fim de 2025, com um PIB de 2,5% este ano.

Para Pedro Castanheira Schneider, economista do banco, o maior risco também é a possibilidade de uma recessão nos EUA. “Por que o Fed está cortando juros? É porque a inflação caiu ou porque ele está com medo de recessão?”

Por enquanto, o Itaú não vislumbra uma contração na maior economia do mundo, o que alivia o cenário brasileiro. “Quando o externo fica benigno, diminui a sensibilidade [do mercado] aos nossos problemas”, diz Schneider.

Porém, se a inflação der indicações de que ficará acima da meta do BC, o economista vê chances de alta na Selic.

O cenário é o mesmo trabalhado pela BRCG Consultoria. “A Selic fica em 10,5% até o fim do ano que vem, sem inflação no centro da meta, mas dentro da banda de tolerância”, diz Lívio Ribeiro, pesquisador associado do FGV Ibre e sócio da BRCG Consultoria.

Para ele, a queda dos juros americanos ajuda o BC a não ter que subir juros, mas não é o principal fator na mesa. Para Ribeiro, o Copom ainda calcula os impactos de uma atividade mais forte, da dificuldade de convergência da inflação para a meta e do risco de desaceleração dos EUA.

Fonte: Notícias ao Minuto

Notícias Relacionadas
Continue Lendo
Rede Jovem News