Dólar cai para R$5,70 em dia de alta volatilidade, com foco em riscos de recessão nos EUA

A Bolsa recuou 1,27%, aos 125.772 pontos, segundo dados preliminares.

O dólar fechou em queda de 0,44% nessa sexta-feira, 2, aos R$5,709, em dia marcado por alta volatilidade no mercado de câmbio.

Um dia depois de atingir R$5,734, a maior cotação desde 21 de dezembro de 2021, a moeda norte-americana oscilou entre os sinais durante a sessão e chegou a atingir a máxima de R$5,793, até firmar queda no final da tarde.

Já a Bolsa recuou 1,27%, aos 125.772 pontos, segundo dados preliminares. O Ibovespa acompanhou os índices de Wall Street e foi pressionado por uma forte queda nos papéis da Petrobras, afetados pelo recuo dos preços do barril de petróleo no exterior.

O dia foi marcado por temores de que a economia dos Estados Unidos pode estar caminhando para uma recessão, após a divulgação de dados de emprego mais fracos do que o esperado.

O chamado “payroll” (folha de pagamento, em inglês) mostrou que a criação de vagas de emprego desacelerou para 114.000 em julho e a taxa de desemprego aumentou para 4,3%, o maior nível desde outubro de 2021.

Analistas consultados pela Reuters esperavam abertura de 175.000 postos de trabalho e manutenção da taxa de desemprego em 4,1%. No mês anterior, 179.000 vagas foram abertas, em dado revisado para baixo.

Os números reforçam a tese de que o início de um ciclo de afrouxamento monetário do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), com queda na taxa de juros, pode acontecer na próxima reunião do colegiado, em setembro.

Uma taxa alta nos Estados Unidos, tidos como a economia mais segura do mundo, desestimula investimentos em ativos de risco por puxar os investidores aos títulos ligados ao Tesouro norte-americano, chamados de treasuries. Isso significa que, quanto mais o Fed cortar os juros, melhor para o real e outras moedas emergentes, além do próprio mercado acionário.

No entanto, a desaceleração da economia norte-americana – resultante, na visão de analistas, de uma taxa de juros alta por tempo demais – tem sido vista como o prelúdio de uma recessão.

“A contração da economia não aparece no Produto Interno Bruto (PIB) aos poucos: ela vem de repente. A taxa de desemprego está virando nos últimos meses, e toda vez que há uma inflexão na taxa, há uma recessão. É assim desde 1940, e foi o caso em 2008 e, mais recentemente, em 2020, com a pandemia”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

“Dados secundários costumam trazer uma sinalização de que a economia está deteriorando, notadamente: o aumento da inadimplência, pedidos de auxílio-desemprego mais acelerados, abertura menor de vagas.”

Os temores de uma recessão têm levado o mercado a cobrar por uma queda de juros mais agressiva na próxima reunião do Fed, que, no encontro dessa quarta-feira, optou por manter a taxa de referência inalterada, na faixa de 5,25% e 5,5%.

De acordo com a ferramenta CME Watch, que colhe apostas sobre a política monetária norte-americana, 67,5% dos investidores estimam que os juros irão cair em 0,5 p.p., enquanto os 32,5% restantes esperam 0,25 p.p.

Um corte maior, porém, não parece estar no horizonte das autoridades dos EUA. Em entrevista coletiva na quarta-feira, o presidente da autarquia, Jerome Powell, afirmou que reduzir os juros em um ritmo mais agressivo do que o normal não é “algo que o colegiado está pensando no momento”.

Nessa sexta, o presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, ainda afirmou que o banco central deve agir de forma “consistente”, rechaçando a pressa do mercado em apostar em cortes maiores.

“Nunca queremos reagir de forma exagerada aos números de um mês”, disse Goolsbee em uma entrevista à Bloomberg TV. Mesmo assim, disse ele, “o nosso objetivo absoluto agora é que queremos chegar a algo como o pleno emprego, e não ultrapassar o nível normal e deteriorar”.

O banho de água fria afastou investidores dos mercados acionários globais. Na Europa, o índice de referência STOXXX 600 caiu 2,73%, a 497,85 pontos, atingindo o menor nível em mais de três meses.

Nos Estados Unidos, o Dow Jones perdeu mais de 1,80%, enquanto Nasdaq e S&P 500 recuaram 1% e 2%, respectivamente. O “medidor de medo” de Wall Street – o VIX – chegou ao nível mais alto desde março de 2023, e os rendimentos dos títulos do Tesouro de dez anos caíram 17 pontos-base, para 3,8%, acompanhando as apostas de cortes maiores do Fed.

O exterior contaminou o Ibovespa, na visão de Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital. “Tínhamos antes um discurso de ‘soft landing’, ou seja, de pouso suave em relação à desaceleração da economia, mas isso pode estar se revertendo para um ‘hard landing'”, diz.

“Já o dólar chegou a bater a máxima na região dos R$5,80, mas acabou se enfraquecendo durante o dia por conta dos dados norte-americanos, dos movimentos das Bolsas no exterior e da queda dos treasuries… Por consequência, os juros futuros daqui seguiram o mesmo fluxo, o que trouxe um alívio ao real.”

O índice ainda foi afetado pelas quedas de quase 3% dos papéis ordinários e preferenciais da Petrobras, após o barril de petróleo Brent perder 2,82% no mercado exterior, devido à escalada de tensões no Oriente Médio – outro fator de estresse para a cena doméstica, por levar investidores a ativos mais seguros.

A política monetária do Banco Central (BC) também continuou no radar. O Comitê de Política Monetária (Copom) optou por manter a taxa básica de juros do país – a Selic – em 10,50% ao ano.

Para alguns analistas, a falta de sinalizações sobre uma possível alta nos juros é motivo de preocupação.

O comunicado “não foi tão agressivo quanto poderia ter sido, dada a deterioração das perspectivas de inflação e do equilíbrio de riscos”, disse Alberto Ramos, economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs.

Na véspera, as tensões no Oriente Médio e a decisão do Copom também afetaram os mercados. O dólar subiu 1,43%, a R$5,734, e a Bolsa recuou 0,20%, aos 127.395 pontos.

Fonte: Notícias ao Minuto

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