Rebeca Andrade, Flavia Saraiva, Jade Barbosa, Julia Soares e Lorrane Oliveira escreveram, na tarde desta terça-feira, mais um capítulo da cada vez mais linda história da ginástica artística brasileira. As cinco ginastas conquistaram, no último salto, o bronze por equipes nas Olimpíadas de Paris-2024, uma medalha olímpica inédita e há muito tempo aguardada.
Foi de Rebeca a nota final, no salto, um 15.100 em um Cheng lindamente executado, que garantiu o bronze para a equipe no último momento. Antes do último aparelho, o Brasil ocupava o sexto lugar. Com as notas do salto, as brasileiras ultrapassaram China, Canadá e Grã-Bretanha.
Com histórico recente de pódios individuais, o Brasil não tinha ainda a conquista para seu conjunto, um feito que prova o amadurecimento da modalidade e que expõe o brilho de suas atletas. O ouro ficou para a equipe dos Estados Unidos, capitaneada por Simone Biles, e a prata para a Itália.
Teve sangue, suor e muito brilho na Bercy Arena, em Paris. Antes mesmo de as apresentações começarem, durante o aquecimento, Flávia Saraiva caiu das barras, bateu com o rosto no chão e abriu o supercílio, sangrando muito. Mas também houve riso, suspense e emoção até o fim. Fora do pódio até o último salto, o Brasil obrigou muita gente a assistir à final com calculadora na mão. E acabou conquistando a medalha pela força de seu conjunto e pela luz de Rebeca.
Melhor ginasta do Brasil e uma das melhores do mundo, Rebeca Andrade, de 25 anos, apresentou-se nos quatro aparelhos, assim como Flávia Saraiva, de 24, que foi à luta com curativo no supercílio e tudo. As duas estão classificadas também para a final do individual geral, quinta-feira. Caçula da equipe e finalista da trave, Julia Soares, de 18 anos, completou o time no solo e na trave. Veterana, Jade Barbosa, de 32 anos, foi a terceira competidora do Brasil no salto, enquanto Lorrane, de 26 anos, se apresentou nas barras assimétricas.
O Brasil começou pelo seu aparelho mais fraco, as assimétricas. Ficou em quarto após a primeira rotação e ainda desceu para sexto depois de trave e solo. No salto de Rebeca, tomou o pódio de assalto. Veja abaixo como a seleção se apresentou em cada um deles.
Barras assimétricas
Lorrane Oliveira foi a primeira brasileira em ação. A ginasta é especialista nas barras e entregou uma apresentação sólida, segura. Com um ligeiro erro de postura e um pequeno passo na saída, recebeu 13.000 na pontuação, um pouco menor do que a nota da classificatória, de 13.233.
Com um curativo no supercílio depois de receber atendimento médico, Flavinha Saraiva foi a segunda brasileira a se apresentar nas assimétricas. Fez uma série fluida, sem grandes percalços, apenas um pequeno desequilíbrio, e saiu com um sorriso aberto no rosto. A nota, 13.666, foi ligeiramente menor do que os 13.800 da classificatória, mas boa o suficiente para devolver a segurança a Flavinha, que ainda teria outros três aparelhos pela frente.
Rebeca praticamente cravou sua série. Acertou a ligação de elementos que não fez na classificatória e fez uma saída praticamente cravada. Saiu com um sorriso no rosto e a certeza de que brilhou em seu aparelho favorito, recebendo 14.533.
O Brasil terminou a primeira rotação em quarto lugar, somando 41.199, atrás de Estados Unidos, China, Itália e Canadá. Mas os aparelhos mais fortes ainda estavam por vir.
Trave
Com sua entrada-assinatura, o Soares, Julia abriu as séries do Brasil na trave. Finalista no aparelho, Julia emendou com um triplo giro de cócoras perfeito, seguiu com uma sequência acrobática, desequilibrou-se e caiu. Perdeu uma ligação de elementos por causa da falha, mas voltou para a trave e completou sua série sem outros erros, com uma saída quase cravada. Ao fim, dirigiu-se ao banco com expressão muito abalada, já aguardando uma nota abaixo do esperado: 12.400.
Entre as seleções adversárias diretas, no entanto, os erros também se sucederam. A chinesa Zhou Yaqin, por exemplo, teve duas quedas e recebeu 12.300, muito abaixo dos 14.866 da classificatória.
Flávia Saraiva mostrou que se recuperou não só do ferimento no supercílio como também da frustração de não ter se classificado para a final da trave, seu melhor aparelho, após uma queda na classificatória. Nesta terça, Flavinha simplificou uma sequência de acrobacias e teve um desequilíbrio grande, mas se manteve firme na trave, não caiu e fechou bem. Foi importante ter passado sem queda, garantindo a boa nota de 13.433.
Chegou a vez da estrela brasileira Rebeca Andrade. A ginasta teve um desequilíbrio grande quase no fim, mas fez uma série boa, com alto grau de dificuldade, e cravou a saída, recebendo 14.133, um pouco abaixo dos 14.500 de domingo.
Ao fim da segunda rotação, o Brasil desceu para o sexto lugar, agora também atrás de Grã-Bretanha e Romênia. Enquanto isso, Simone Biles cravava as barras e saía muito aplaudida. Os EUA pareciam estar fazendo uma competição à parte, deixando as outras seleções brigando pela prata e o bronze.
Solo
Ao som de Cheia de Manias, do Raça Negra, e de Milord, da cantora francesa Edith Piaf, Julia Soares apresentou giros perfeitos junto ao solo, mortais seguros, graça, samba no pé e ainda mandou beijinhos para o público. Só teve dificuldade na chegada da terceira diagonal, com um passo grande pra trás, e recebeu 13.233, surpreendentemente abaixo dos 13.500 de domingo. A essa altura, já tinha muita gente com calculadora na mão.
Como uma fada, Flavinha encantou a plateia com uma série graciosa e animada, ao som do cancan. A brasileira não fez sua série mais difícil, mas acertou cada salto e acrobacia e deu show de simpatia. Recebeu um bom 13.533.
Candidatíssima a medalha no solo, Rebeca teve dificuldade de cravar a chegada de duas acrobacias, mas evitou erros graves. Com uma série de enorme dificuldade, foi muito aplaudida e recebeu 14.200. Ao fim da terceira rotação, o Brasil seguia em sexto.
Salto
Chegou o aparelho da redenção brasileira, que não começou tão bem, mas encerrou de forma apoteótica. Para abrir, Jade Barbosa fez um DTY, o Yurchenko com dupla pirueta. Um bom salto, mas um pouco baixo. Com isso, chegou muito agachada, com o pé fora da linha, recebendo 13.366. Nesse momento, as perspectivas de medalha diminuíram.
Flavinha acertou o DTY. Não foi tão cravado quanto o da classificatória, mas foi um bom salto, que recebeu 13.900 e manteve a chama da esperança do Brasil acesa.
Chegou então a hora dela. Com um Cheng lindamente executado, Rebeca Andrade fechou as apresentações brasileiras com um salto digno da campeã olímpica e mundial que é e recebeu a espetacular nota de 15.100. Com isso, o Brasil somou 164.497 pontos e ficou à espera do fim das apresentações das adversárias.
O ouro americano já estava garantido e a briga pela prata e pelo bronze ficou entre Brasil, Itália e Grã-Bretanha. Os dois países ainda estavam completando suas apresentações. A britânica Alice Kinsella precisava de 13.834 na trave para sua equipe ultrapassar o Brasil e ficar com o bronze. Tirou 13.600. E as cinco incríveis ginastas brasileiras puderam comemorar, com sorrisos abertos lavados por lágrimas de alegria.
Quando são as outras finais? 🗓️
- Final do individual geral (Rebeca Andrade e Flavia Saraiva): quinta-feira, 1, às 13h15
- Final do salto (Rebeca Andrade): sábado, 3, às 11h20
- Final das barras assimétricas (sem Brasil): domingo, 4, às 10h40
- Final da trave (Rebeca Andrade e Julia Soares): segunda-feira, 5, às 07h30
- Final do solo (Rebeca Andrade): segunda-feira, 5, às 09h20
Fonte: globo.com e ge