Uma sondagem do Conselho Europeu dos Negócios Estrangeiros (ECFR, sigla em inglês) revela divergências consideráveis entre europeus e ucranianos sobre como a guerra terminará, a interpretação que há da força militar da Rússia e os termos de adesão da Ucrânia à União Europeia e à OTAN.
Essas divergências traçam mesmo um cenário desconfortável numa altura em que se aproxima a nova cúpula da OTAN, argumentam os autores.
A sondagem, levada a cabo na Ucrânia e em 14 outros países europeus, revela que a determinação da Ucrânia em lutar e o apoio europeu para fornecer armas ao país invadido pela Rússia não foram afetados pelos avanços russos no campo de batalha. Os entrevistados na Estônia (74%), na Suécia (66%), na Polônia (66%), na Grã-Bretanha (59%), nos Países Baixos (58%) e em Portugal (57%) são os que mais defendem o apoio militar à Ucrânia – em sentido contrário, Bulgária (63%), Grécia (54%) e Itália (53%) são os únicos em que a maioria dos inquiridos pensam que aumentar o fornecimento de munições e armas à Ucrânia é uma “péssima ideia”.
No entanto, essa aparente unidade dá lugar a uma grande divisão entre ucranianos e europeus sobre como esta guerra deve terminar e até que ponto o apoio deve ir. Apenas na Polônia (53%), na Estônia (45%), na Suécia (41%) e na Alemanha (40%) há uma grande parte da população que defende um aumento dos gastos com a defesa nacional; em todos os países inquiridos a maioria da população opõe-se ao envio de tropas para a Ucrânia.
Embora os ucranianos queiram mais armas e munições porque acreditam que podem vencer a guerra, a maioria dos europeus quer dar armas e munições à Ucrânia para colocá-la numa melhor posição nas negociações com a Rússia para acabar com a guerra. Um total de 58% dos ucranianos acredita mesmo numa vitória no campo de batalha, valor que aumenta para 69%, caso a Ucrânia receba mais armas e munições, mantendo alta a confiança nas Forças Armadas ucranianas e no presidente do país, Volodymyr Zelensky. Menos consensual são as potenciais soluções de acordo para colocar um ponto final ao conflito, pois menos de um terço dos ucranianos (30%) acredita num acordo negociado e 71% opõem-se a uma adesão à OTAN no âmbito de um acordo que inclua a não recuperação do território ocupado.
Enquanto os ucranianos pensam que a Ucrânia deveria tornar-se estado-membro da União Europeia, de forma a assinalar a vitória na guerra, os europeus estão divididos sobre a adesão. Portugal é o país onde essa adesão é mais vista como uma “boa ideia” (59%), contra os 20% que consideram uma “má ideia”. O ceticismo é maior na Alemanha (54% acham “má ideia” e 31% “boa ideia”), Bulgária (50% vs. 26%), República Checa (48% vs. 36%) e França (40% vs. 36%).
A sondagem, publicada na antecâmara da cúpula anual da OTAN, sugere que é pouco provável que os líderes da aliança encontrem apoio interno para o envio de tropas ou aumento na despesa de defesa para ajudar a Ucrânia na guerra.
Fonte: dn.pt