Mais de meio milhão de deslocados na última semana em Gaza

A sul e a norte a população fugiu das zonas indicadas pelo exército de Israel. EUA voltam a criticar falta de plano pós-guerra.

No dia em que Israel celebrou o dia da Independência e os palestinianos comemoraram a Nakba (a “catástrofe” decorrente da expulsão do território de 700 mil pessoas), os habitantes da Faixa de Gaza continuaram a ser empurrados de um lado para outro, mais de meio milhão na última semana, num processo sem fim à vista, e por vezes para encontrarem a morte. Em Rafah, os Médicos Sem Fronteiras e a ONG ActionAid anunciaram a pausa nas suas operações devido às condições no terreno, enquanto o secretário-geral da ONU se mostrou “horrorizado” com a intensificação das operações militares no sul do enclave.

Os bombardeamentos das forças israelitas mataram pelo menos 80 pessoas nas últimas horas, disse o Hamas, em ataques não só à volta de Rafah, mas também no centro e no norte da Faixa de Gaza. Segundo o porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres está “horrorizado” com a crescente atividade militar de Israel em Rafah e arredores. “Estes acontecimentos estão a impedir ainda mais o acesso humanitário e a piorar uma situação que por si só já é terrível”, disse Farhan Haq.

Na última semana não chegou comida ao território, e na segunda-feira camiões de assistência foram bloqueados e alvo de vandalismo por parte de extremistas israelitas. Uma ação condenada na terça-feira pelo ministro dos Negócios Estrangeiros britânico. “Os ataques de extremistas a caravanas de ajuda humanitária a caminho de Gaza são chocantes. Os habitantes de Gaza estão em risco de fome e precisam desesperadamente de mantimentos”, disse David Cameron.

Também a ONG Human Rights Watch criticou Israel por ter executado pelo menos oito ataques contra caravanas e instalações de organizações humanitárias – e, pior, Telavive não avisou dos ataques que mataram ou feriram 31 trabalhadores.

Em Nuseirat, no centro do território, um correspondente da Al Jazeera conta que o edifício de três pisos que ficou em destroços albergava dezenas de deslocados de Rafah chegados há três dias à procura de um porto seguro. Mas as Nações Unidas têm repetido desde dezembro que “não há lugares seguros”, apesar de mais de meio milhão – quase um quarto da população – ter saído do local onde estava na última semana, sob indicações de Israel. “Estão exaustos, famintos e constantemente assustados”, caracterizou a agência da ONU para os refugiados palestinianos, UNRWA.

Os EUA, o principal aliado de Israel, vão enviar o conselheiro de segurança nacional Jake Sullivan a Israel e à Arábia Saudita no fim de semana. Segundo o site Axios, o governo israelita comprometeu-se a não iniciar uma operação de envergadura em Rafah. O objetivo da visita é tentar Israel com um acordo de normalização diplomática com Riade em troca do fim da guerra em Gaza. Enquanto isso, o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano Vedant Patel criticou a ausência de um plano do governo israelita para o futuro de Gaza. Desta forma, os combatentes do Hamas “continuarão a surgir e Israel continuará a estar sob ameaça”.

Autor: cesar.avo@dn.pt

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