O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse nessa quinta-feira que se for preciso o seu país lutará sozinho e “com unhas e dentes”, depois de o presidente norte-americano, Joe Biden, avisar que os EUA suspenderão o envio de armas a Israel se avançar com a ofensiva de larga escala em Rafah. Para Biden, essa ação militar não vai ajudar Israel a alcançar o objetivo de derrotar o Hamas, considerando que há soluções melhores do que uma operação que põe em causa a vida de muitos civis.
“Durante a Guerra da Independência, há 76 anos, eram poucos contra muitos. Não tínhamos armas, havia um embargo de armas a Israel, mas, com a força da alma, a coragem e a união dentro de nós, vencemos”, afirmou Netanyahu, numa mensagem em vídeo publicada nas redes sociais. “Hoje, somos muito mais fortes. Estamos determinados e estamos unidos em derrotar o nosso inimigo e aqueles que procuram nos destruir”, acrescentou. “Se tivermos que ficar sozinhos, ficaremos sozinhos. Já disse que se for preciso, lutaremos com unhas e dentes. Mas teremos muito mais do que unhas”, concluiu, indicando que Israel vencerá.
Numa entrevista à CNN, transmitida na quarta-feira à noite nos EUA, Biden admitiu que bombas norte-americanas já foram usadas para matar civis palestinos em Gaza e avisou que suspenderá o envio de algumas armas se Israel avançar com a operação de larga escala em Rafah. “Deixei claro que se eles entrarem em Rafah, não vou fornecer armas… que têm sido usadas historicamente para lidar com Rafah, para lidar com as cidades, para lidar com esse problema.”
Os EUA são o principal fornecedor de armas a Israel (69% no período entre 2019 e 2023, segundo os dados do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo), seguindo-se a Alemanha (30%) e Itália (1%). Canadá e Países Baixos já tinham anunciado a suspensão do envio de armas, por receio de que estas pudessem estar contra civis na Faixa de Gaza.
O porta-voz da Casa Branca, John Kirby, deixou claro que, para os EUA, Israel ainda não lançou a operação de larga escala em Rafah – apesar de ter assumido o controle do lado palestino da fronteira. E que espera que não o faça. “Essa é uma escolha que Israel terá que fazer e é uma que esperamos que não faça.” Já o porta-voz das Forças de Defesa de Israel, Daniel Hagari, disse que os israelitas têm armas e munições suficientes para as operações previstas, incluindo em Rafah. “Temos o que precisamos”, indicou.
Em Washington, Kirby também deixou claro que as armas norte-americanas continuam a seguir para Israel, que continua a receber “a vasta maioria de tudo o que precisa para se defender”. Biden tinha deixado claro que ia continuar a enviar mísseis para a Cúpula de Ferro, um dos sistemas de defesa israelitas. Contudo, o presidente já travou o envio de 3.500 bombas na semana passada, por receio de que pudessem ser usadas em Rafah, e também bloqueou o envio de projéteis de artilharia na quarta-feira.
A decisão foi criticada pelos republicanos – o adversário nas presidenciais de novembro, Donald Trump, acusou-o de “estar do lado” do Hamas e disse que ele “abandonou completamente Israel”. O mesmo defendeu o ministro da Segurança Nacional israelita, Itamar Ben Gvir, que nas redes sociais se limitou a escrever Hamas e Biden com um coração no meio.
Deslocados e negociações
Nos últimos dias, pelo menos 150 mil pessoas já terão deixado Rafah, segundo o exército israelita, que disse ter neutralizado 50 “homens armados” na cidade. Israel prossegue os bombardeamentos e avança para a destruição de dezenas de túneis subterrâneos que terão sido encontrados na zona, enquanto o Hamas e a Jihad Islâmica disse que os seus combatentes dispararam rockets e morteiros contra os tanques israelitas, que estão se concentrando nos arredores da localidade.
Uma brigada de tanques israelita assumiu o controle do lado palestino da fronteira com o Egito, um dos principais pontos de entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. Israel diz que os militantes do Hamas se escondem entre os milhares de deslocados, que foram sendo empurrados desde o norte do enclave até o sul. O fechamento da fronteira impediu a retirada de dezenas de feridos, que podiam ser tratados no Egito, assim como a entrada de bens médicos, combustível e alimentos para os hospitais que ainda funcionam, indicou o Ministério de Saúde da Faixa de Gaza, controlado pelo Hamas.
Entretanto, estão suspensas as negociações que decorriam no Cairo para um eventual cessar-fogo e troca dos reféns ainda nas mãos do Hamas. As delegações do grupo terrorista palestino e de Israel deixaram a capital egípcia após dois dias de diálogo indireto, sem avanços aparentes. O Hamas reafirma a sua posição de aceitar a proposta apresentada pelos mediadores, que Israel considerou “suavizada” em relação ao que defendia.
Fonte: Notícias ao Minuto
Autor: susana.f.salvador@dn.pt