A plataforma de propriedade chinesa tem cerca de 142 milhões de utilizadores na UE, predominantemente jovens europeus, o que a torna um território de campanha crucial para quem procura o voto dos jovens.
Mas alguns candidatos estão a rejeitar intencionalmente a plataforma, receando que o governo chinês possa ter acesso a dados sensíveis e que a desinformação possa distorcer a votação.
Ursula von der Leyen, a principal candidata do Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita, renunciará ao TikTok durante o período que antecede a votação, confirmou a sua equipa de campanha na sexta-feira passada, numa medida destinada a manter a posição cada vez mais dura do seu executivo em relação à plataforma.
Na segunda-feira à noite, von der Leyen – que está atualmente a fazer malabarismo com as duas funções de campanha eleitoral e de chefe da Comissão Europeia – também se recusou a excluir uma potencial proibição geral do TikTok na UE, se continuar à frente do executivo.
Questionada durante um debate com os principais candidatos, em Maastricht, sobre a possibilidade de seguir o exemplo dos EUA, onde o Presidente Biden assinou um projeto de lei que poderá proibir o TikTok, von der Leyen afirmou: “Não está excluído”.
“Sabemos exatamente o perigo do TikTok”, acrescentou.
Dos dez principais candidatos oficiais no chamado processo Spitzenkandidaten, apenas dois – Terry Reintke, dos Verdes, e Marie-Agnes Strack-Zimmerman, dos Liberais – estão a fazer campanha ativa no TikTok.
Mas evitar a plataforma de partilha de vídeos pode ter um custo eleitoral, uma vez que os partidos marginais, em especial os de extrema-direita, angariam seguidores e potenciais eleitores com conteúdos pessoais e politicamente carregados.
Quando as políticas colidem com a política
No final de fevereiro, a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, publicou o seu primeiro TikTok, exatamente um ano depois de a sua instituição ter banido a aplicação dos dispositivos de trabalho dos funcionários.
No seu perfil, Metsola pode ser vista a preparar waffles belgas, a imitar uma música de Taylor Swift e a promover o Twistees, um icónico snack da marca maltesa.
Em entrevista na semana passada, Metsola justificou a sua decisão de ir contra as suas próprias regras: “Havia uma escolha a fazer — vamos para essa plataforma das redes sociais (…) ou não”.
“Quatro países vão votar aos 16 anos, um país votará aos 17 anos”, acrescentou. “O que não quero é que esses jovens recebam as suas notícias potencialmente de fontes de propaganda ou desinformação. Então dissemos “vamos lá, vamos passar a nossa mensagem, e espero que, quando as crianças estiverem a navegar, recebam algo que os faça pensar: ‘ooh, eu gosto disto, vou votar’”.
Gabriele Bischoff, eurodeputada alemã dos Socialistas e Democratas, de centro-esquerda, que está a candidatar-se à reeleição, também se lançou na mesma aventura por medo de deixar os candidatos de extrema-direita ocuparem o espaço no TikTok.
“Não fazia isso (usando o TikTok) há muito tempo, mas depois vi como os partidos de direita estão a usá-lo e a inundar as redes sociais”, disse ela à Euronews, acrescentando que usa um dispositivo separado para postar os seus vídeos de forma a evitar uma possível vigilância ou roubo de dados.
A eurodeputada dos Verdes, Tilly Metz, também no TikTok, concorda: “Se queremos mesmo dirigir-nos também aos mais jovens, acho que não podemos deixar novamente os partidos de extrema direita estarem no TikTok enquanto dizemos, com uma espécie de arrogância, não, não gosto do TikTok”, disse à Euronews num debate eleitoral no início deste mês.
“Não se trata de dançar na mesa”, acrescentou Metz. “Mas é realmente sobre como nos dirigimos e como chegamos aos jovens, e como lhes damos também a possibilidade de reagir”.
Mas outros, como von der Leyen, estão a evitar intencionalmente a plataforma num claro sinal de desafio contra a China, perante as crescentes alegações de interferência chinesa no Parlamento Europeu e à medida que o bloco empunha o seu novo livro de regras digital para manter o TikTok sob controlo.
Raphaël Glucksmann, que lidera a lista do Partido Socialista Francês, disse ao canal de televisão francês France 2 no início deste mês que renunciou ao seu TikTok, com 60.000 seguidores, devido à sua posição sobre a China: “É uma questão de consistência”, disse, “esta rede social é uma bomba (de dinheiro) ao serviço do Partido Comunista Chinês.”
Entretanto, alguns dos seus rivais franceses passaram a dominar a arte do TikTok para consolidar a sua popularidade. Jordan Bardella, o jovem protegido de Marine le Pen e principal candidato pelo Rassemblement National, de extrema-direita, tomou o TikTok de assalto.
Bardella tem uns impressionantes 1,2 milhões de seguidores na plataforma, tornando-o de longe o deputado mais seguido do Parlamento Europeu na plataforma. O seu conteúdo vai desde aparições públicas encomendando um ‘croque monsieur’ na sua França natal, a discursos denunciando a Comissão de von der Leyen perante o Parlamento Europeu.
Apesar de a plataforma ser uma ferramenta fundamental na caixa de ferramentas de campanha dos candidatos e do próprio Parlamento Europeu, Bruxelas está a aumentar a pressão sobre o TikTok.
No início deste mês, o TikTok foi pressionado a suspender uma versão da sua aplicação em França e em Espanha, depois de a Comissão de von der Leyen ter lançado uma investigação formal por receio de danos na saúde mental dos menores, ao abrigo da chamada Lei dos Serviços Digitais (DSA).
É a segunda investigação aberta ao TikTok ao abrigo da DSA, o novo regulamento digital da UE que pode levar as plataformas a serem multadas com coimas pesadas ou a serem suspensas temporariamente.
A plataforma foi igualmente convidada a intensificar a sua luta contra a desinformação no período que antecede o escrutínio de junho.
Na Alemanha, país natal de von der Leyen, alguns deputados também apelaram a uma posição mais dura em relação ao TikTok, incluindo uma potencial proibição geral, invocando preocupações de segurança.
O serviço de porta-voz do Parlamento Europeu disse à Euronews, em comunicado, que a sua presença no TikTok se destina a promover “conteúdos fiáveis relacionados com o Parlamento, o seu trabalho e impacto” e a “responder a conteúdos destinados a espalhar desinformação” contra a instituição.
“Milhões de jovens cidadãos, muitos dos possíveis primeiros eleitores, utilizam esta plataforma para obter informações sobre os temas que lhes interessam. A antecipação de narrativas de desinformação (…) é essencial para aumentar a resiliência da sociedade e ainda mais importante a poucos meses das eleições europeias”, acrescentou o comunicado.