No início da noite, um edital de uma mesa da União de freguesias do Seixal, Arrentela e Aldeia de Paio Pires era exemplo de um terramoto eleitoral. Nessa zona popular do Distrito de Setúbal, o Chega estava em primeiro lugar, seguido do PS e da AD. No conjunto dos distritos do sul, o Chega seguia em segundo na maior parte dos distritos, ganhando no Algarve. O partido de André Ventura ia buscar votos a toda a esquerda, sobretudo ao PS, com a AD a manter quase a sua votação e a IL a progredir ligeiramente.
Em Beja, distrito em que os comunistas perderam o último deputado no Alentejo. O PS perde aí 12 pontos percentuais em relação a 2022; o Chega sobe 11 pontos percentuais; a AD fica com a mesma percentagem, da soma de PSD e CDS em 2022; e a CDU desce mais de 3 pontos percentuais, perdendo o seu representante.
Os totais eleitorais mostram que o grande vencedor da noite é André Ventura, que mais do que duplicou o número dos votos. A AD, somados ao PSD e CDS na Madeira, é a força mais votada. A direita democrática ganha, mas não aumenta significativamente o número dos seus votos em relação a 2022. O grande derrotado da noite é o Partido Socialista, que baixa quase 12 pontos percentuais. O Chega torna-se o primeiro partido no Distrito de Faro.
As previsões da um terremoto
No início da noite eleitoral, depois das primeiras previsões das estações televisivas mostravam um grande convulsão política com a subida do Chega. Nessa altura, André Ventura fez a sua primeira intervenção da noite, assinalando o que considerou ser o final do bipartidarismo em Portugal.
“O que tenho para dizer é agradecer. Hoje sinto-me realizado. Sinto que apesar de não ter vencido, que era a grande meta que tínhamos estabelecido, conseguimos fazer algo histórico em Portugal. Vamos ver se se confirma”, indicou, defendendo que os valores projetados, que definiu como uma “grande vitória”, permitem “ao Chega negociar um Governo”.
O presidente do Chega considerou também que, “a confirmarem-se as projeções” dos resultados, hoje “é o dia que assinala o fim do bipartidarismo em Portugal”.
André Ventura defendeu também que, “segundo tudo indica, haverá uma maioria forte à direita para governar” e isso “significa que a partir desta noite temos de começar a trabalhar para que haja um governo estável em Portugal”.
“Agora temos uma maioria nas mãos, os portugueses deram-nos uma maioria, seremos totalmente irresponsáveis se não a concretizarmos com um Governo que espero que amanhã possa começar a ser feito”, salientou.
Medina culpa Marcelo
No Hotel Altis, sede dos socialistas em noite eleitoral, notava-se o desânimo. No princípio da noite, o ministro das Finanças criticou a decisão presidencial de interromper a legislatura e convocar novas eleições, apontando para a instabilidade resultante do novo quadro político, e afastou a reedição de um “Bloco Central” PSD/PS, como prejudicial à democracia.
De acordo com o titular da pasta das Finanças, o PS regista uma derrota, que é “assumida globalmente” por todo o partido, e a Aliança Democrática (AD) vence, mas com um resultado inferior ao alcançado pelo antigo líder social-democrata Pedro Passos Coelho nas legislativas de 2015.
“Estamos perante umas eleições que não deviam ter acontecido neste tempo, que foram prematuramente marcadas antes de metade de um mandato de maioria absoluta. O quadro que resultará destas eleições é de grande de fragilidade e instabilidade”, advertiu.
O ministro das Finanças alertou que o sistema político “fica dependente de uma força de extrema-direita com um peso grande”.
“Uma força que, durante muitos anos, não teve representação parlamentar, depois ganhou-a, mas não tem capacidade de expor e resolver problemas concretos das pessoas. Agora, ficam com a capacidade de influenciar a agenda da direita moderada na próxima legislatura”.
Interrogado se, nesse quadro de Governo minoritário do PSD, o PS deve viabilizá-lo, Fernando Medina remeteu essa decisão para “os órgãos dos partidos”.
Em relação a um eventual entendimento governativo entre PS e PSD, Fernando Medina advogou que, entre os dois partidos, “há muitas áreas em que não há convergência”.
“Mas acho que uma das piores coisas que podemos fazer no nosso sistema político é formar qualquer tipo de bloco central formal ou informal”, acrescentou.
Taco a taco até ao fim
Já passava da meia-noite e ainda não estava prevista a hora de intervenção de Pedro Nuno Santos e de Luís Montenegro. Na ausência do líder da AD, coube a Nuno Melo, proclamar vitória. “Com os dados que temos, podemos dizer, neste momento, que a AD venceu as eleições”, garantiu.
“Queria saudar de muito positivo a adesão dos portugueses às urnas”, começou por dizer Nuno Melo, líder do CDS-PP, partido que faz parte da AD.
Nuno Melo assinalou, “democraticamente e com respeito”, mas “o PS teve uma clamorosa derrota”, porque “cai de uma maioria absoluta para um resultado inferior a 30%.
“O PS perdeu as eleições”, proclamou.
Minutos depois, o líder do PS, Pedro Nuno Santos reconhecia a derrota, numa sala cheia que o interrompeu várias vezes com gritos de “25 de Abril sempre, fascismo nunca mais”. Pedro Nuno Santos começou o discurso com elogio aos portugueses, devido ao aumento da participação eleitoral e agradecendo aos seus votantes. “Em segundo lugar, agradecer aos que votaram no PS e acreditaram no nosso projeto”.
Finalmente, o líder do PS afirmou que os socialistas seriam oposição.
“O partido Socialista será a oposição. Nós vamos liderar a oposição. Pretendemos recuperar os portugueses descontentes da AD”.“Só vencido quem desiste e não desistimos”, garantiu.
Fonte: dn.pt