O exército israelita admitiu nessa quinta-feira ter disparado, com munições reais, contra uma multidão enquanto era distribuída ajuda alimentar no norte de Gaza. As autoridades locais dizem ter causado 104 mortos e, pelo menos, 760 feridos.
As forças israelitas afirmaram que a multidão que esperava a distribuição de alimentos constituía “uma ameaça”, mas fontes ouvidas pela agência AFP negaram a responsabilidade pelo elevado número de mortos, indicando que dezenas de pessoas ficaram feridas em “empurrões e atropelamentos” depois de terem cercado caminhões com ajuda humanitária e iniciado a pilhagem.
O Ministério da Saúde do movimento islamita Hamas, que controla a Faixa de Gaza, declarou 104 mortos, responsabilizando Telavive.
O Ministério da Saúde de Gaza afirmou na quarta-feira que seis crianças morreram de subnutrição e desidratação no norte do território nos últimos dois dias.
Vários países pressionam Israel no sentido de que seja permitida a entrada de mais ajuda humanitária na Faixa de Gaza.
Na quarta-feira, o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu reuniu-se em Jerusalém com a nova coordenadora da ONU para a ajuda humanitária e a reconstrução em Gaza, Sigrid Kaag.
Nas últimas 24 horas entraram na Faixa de Gaza 116 caminhões de ajuda humanitária – 92 dos quais através da passagem de Kerem Shalom, na fronteira com Israel, e 24 através da passagem de Rafah, que liga ao Sinai egípcio.
Esta ajuda não é suficiente, tendo em vista as necessidades prementes do enclave, que enfrenta uma catástrofe humanitária sem precedentes.
De acordo com as Nações Unidas, cerca de 2.300 caminhões entraram em Gaza em fevereiro, menos 50% do que em janeiro.
Perante a dificuldade de fazer chegar a ajuda humanitária por terra, vários países – incluindo a Jordânia, o Egito, o Qatar, a França e os Emirados Árabes Unidos – lançaram por via aérea pacotes de alimentos e mantimentos.
“Consideramos a administração norte-americana, a comunidade internacional, a ocupação e as organizações internacionais responsáveis pelo assassínio de civis que morrem de fome às mãos da ocupação”, acrescenta ainda o comunicado emitido hoje pelo governo de Gaza.

O Hamas acusou “a ocupação” de tentar “matar de fome” os habitantes de Gaza e afirma que mais de 700 mil pessoas estão sofrendo de fome no norte do enclave.
Governo palestino acusa Israel de “massacre atroz”
O governo palestino acusou Israel do “massacre atroz” de civis que aguardavam a entrega de alimentos.
Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros palestino registrou “dezenas de mártires e centenas de feridos” devido a “tiroteios deliberados” dos militares israelitas.
“Isto é parte integrante da guerra genocida do governo de ocupação contra o nosso povo”, segundo a mesma fonte, que afirmou ter ficado “demonstrado que Israel não ouve os apelos internacionais para proteger os civis e, na verdade, faz o oposto”.
“Este massacre é uma nova prova do genocídio e das políticas de ocupação para deslocar a população à força, bem como uma nova prova para a comunidade internacional e para os países que apoiam Israel de que não há alternativa a um cessar-fogo imediato, a única forma para proteger os civis”, lê-se na nota.
Por seu lado, a presidência da Autoridade Palestina destacou que “o assassinato deste grande número de civis em busca de alimento é parte integrante da guerra genocida levada a cabo pelo governo de ocupação contra o povo palestino”.
A presidência exigiu ainda que as autoridades israelitas sejam responsabilizadas perante os tribunais internacionais por estes “crimes horríveis”, sublinhando que “as autoridades de ocupação israelitas têm total responsabilidade” pelo que aconteceu, segundo a agência de notícias palestina WAFA.
Foi ainda criticado o silêncio da comunidade internacional, que encoraja Israel a continuar a “derramar sangue palestino”, tornando necessária uma intervenção internacional “rápida” para “deter a agressão”.
Fonte: dn.pt





