Uma das histórias mais bonitas e emocionantes de políticos tocantinenses é a do deputado Antônio Jair Abreu Farias, o Jair Farias, nascido em 21 de julho de 1970 (53 anos), cearense de Monsenhor Tabosa, filho mais novo de Francisco Feitosa Farias (in memoriam) e Maria Abreu Farias.
É uma história que faz rir e chorar. Afinal, não dá pra acreditar que ele, saindo de onde saiu, passando pelo que passou e vivendo o que viveu, chegasse onde chegou. Jair Farias saiu de uma situação de muita pobreza, fome e dificuldade para estar sentado, hoje, numa cadeira junto aos mais nobres do estado, ter seu nome na galeria dos mais conceituados deputados da história da Assembleia Legislativa do Tocantins e dispor ainda de muito futuro pela frente.
Em 1972, a família do seu Francisco Farias desembarcou na pequena Sítio Novo, uma cidadezinha encravada no longínquo extremo norte de Goiás, na época uma região de muita pobreza, denominada Bico do Papagaio, longe de tudo, distante 1.386 km de Goiânia, a capital de Goiás.
Um pouco da história de Sítio Novo
O povoamento onde se ergue hoje a sede municipal de Sítio Novo deve-se às famílias de três senhores (Pedro Lima, Manoel Ferreira da Costa e Firmino Latarano), que se fixaram naquelas terras por volta de 1948.
A origem do nome justifica-se por ter sido, no início, um povoado de muita fartura – para quem tinha condições financeiras – por suas terras férteis e diversos sítios, onde se desenvolvia basicamente a agricultura, a extração de madeira e coco babaçu e muita caça, formando, assim, uma economia de subsistência. Sítio Novo deu origem à cidade do mesmo nome, que se caracteriza por densos babaçuais.
Os primeiros moradores resolveram se fixar na localidade, construindo suas moradias e cultivando a terra na produção de arroz, feijão, milho e algodão, além de explorarem o babaçu como fonte de renda. Paralelamente à exploração do babaçu e ao desenvolvimento da agricultura, crescia o número de pequenos estabelecimentos comerciais.
Sítio Novo foi elevado à categoria de distrito por força da Lei nº 01/63, de 9 de fevereiro de 1963, da Câmara Municipal de Itaguatins.
Infância e adolescência de Jair Farias
A vida de Jair Farias na cidade de Sítio Novo começa em 1972, quando chegou do Nordeste. Sua família, numerosa e muito pobre, contava com 14 irmãos – Antônio, José Abreu, Eduardo, Chico Farias, Vicente, Manoel Farias, Júlio, Sebastião, Maria das Dores, Helena, Elizete, Maria Ione, Francisca e Jair (aqui não está em ordem cronológica). Eram muitas bocas para alimentar; então, todos tinham que trabalhar, correr atrás.
Assim, o garoto Jairzinho, caçulinha da prole do casal Francisco e Maria Farias, também teve que por a cara no sol muito cedo, aos seis anos de idade, quando foi convocado para a lida. Mal alimentado, com pouca força, fazia o que dava conta para ajudar a família. “Muitos não acreditam, mas a fome era muita e um dia a gente teve que comer um bicho-preguiça”, lembra o deputado.
No entanto, essa é apenas uma das inúmeras histórias de labuta, lutas e dificuldades que ele e sua família tiveram que enfrentar nos anos 70.
Aos 11 anos, Jair ainda era analfabeto, mas foi com essa idade que ele se sentou pela primeira vez num banco de escola. Apesar disto, o menino não se fez de rogado. Com 12 anos, já havia se tornado o representante da sua escola no desfile de 7 de setembro. Porém, isto nada representa diante do que iria acontecer três anos depois.
Quando ele tinha 15 anos, em 1985, o governador de Goiás era Íris Rezende Machado (in memoriam), que, por questões políticas, afastou a diretora da escola municipal de Sítio Novo. Jair, não concordando com essa decisão de Íris Rezende, organizou uma manifestação de todos os alunos e respectivas famílias pela volta da diretora. Na ocasião, foi feita uma “vaquinha”, visando angariar recursos para enviar a Goiânia dois representantes da escola, com a missão de conversar com o governador do estado para convencê-lo a reconduzir a diretora ao comando da escola. Surpreendentemente, Íris Rezende atendeu a reivindicação dos alunos de Sítio Novo.
Imagine a moral de Jair no meio daquela galera! Na época desse acontecimento, os momentos de grande dificuldade da família Farias já tinham passado. Seu irmão mais velho já havia se tornado vereador e as coisas já estavam um pouco melhores.
Em 1992, com 21 anos de idade, Jair Farias também entra na política e se elege vice-prefeito, assumindo como prefeito por alguns meses, nos anos de 1995 e 1996.
Em 2004, ele foi eleito novamente vice-prefeito e reeleito ao mesmo cargo em 2008, assumindo o comando do Executivo Municipal de 2010 a 2012. Foi reeleito prefeito para a gestão de 2013 a 2016.
A política
Depois dos mandatos de vice-prefeito e de prefeito, Jair Farias se vê com bagagem, prestígio, experiência e credibilidade na cidade e na região para alçar voos mais altos, candidatando-se a deputado estadual.
Em 2018, é eleito deputado estadual, com 22.952 votos; na mesa diretora da Assembleia Legislativa, ocupou o cargo de 1º secretário da Assembleia – biênio 2021/2022.
Nas eleições de 2022, Jair Farias foi reeleito com 31.442 votos – o terceiro mais votado, com votos de 129 municípios tocantinenses.
Jair Farias é casado com Theresa Dávila Cunha Rocha Farias, com quem tem dois filhos: Pedro Henrique e Sofia de Maria. Seu nome hoje é consolidado como a voz do Bico do Papagaio e uma das maiores lideranças políticas do Tocantins. Nos bastidores, comenta-se que, em 2024, ele elege grande parte dos prefeitos do Bico e nas eleições de 2026 poderá alçar voos mais altos.
Documentários
Dois importantes documentários sobre a saga da família Farias no norte de Goiás e no Tocantins – Bico do Papagaio, em Sítio Novo – estão sendo produzidos e serão publicados em livro, ebook e vídeos.
A biografia completa de Jair Farias terá muitas histórias para rir e chorar. Uma delas é sobre a dona Maria Boleira, moradora de Sítio Novo, para quem Jair levava, a pé, bucho de vaca; com uma bacia furada na cabeça, ele evitava passar perto da casa de duas mocinhas que queriam namorar com ele; o rapazote morria de vergonha de passar em frente à casa das moçoilas com aquela “mercadoria” nada cheirosa em sua cabeça; por isso, ele fazia um trajeto que exigia dele andar dois quilômetros a mais.
Como essa, há muitas outras histórias interessantes que o parlamentar Jair Farias ainda lembra com detalhes, como se fosse hoje.
Foto: Flávio Clark