O comissário da economia, Paulo Gentiloni afirmou, nessa quinta-feira, em Bruxelas, que a Comissão Europeia está atenta ao protesto dos agricultores, mas não prevê impactos econômicos que possam resultar de eventuais perturbações das cadeias de abastecimento.
“É claro que, enquanto Comissão, estamos ouvindo e agindo em relação às questões que nos chegam dos agricultores. Não vejo no horizonte [de previsão] uma perturbação da cadeia de abastecimento resultante desta situação”, afirmou o comissário, à margem da apresentação do boletim macroeconômico intercalar de inverno, em que Bruxelas prevê que o crescimento econômico, para Portugal, permaneça moderado no início deste ano, mas admite uma recuperação gradual mais adiante.
Em termos anuais, a previsão é de “um crescimento do PIB de 1,2% em 2024 e 1,8% em 2025”, o que representa um dos mais acentuados abrandamentos, quando comparado com os outros países da União Europeia. No entanto, o comissário da economia, Paulo Gentiloni, cita os casos do Reino Unido e do Japão, que registraram fortes quebras na economia, e desvaloriza.
Paulo Gentiloni ironiza mesmo, dizendo que “compraria para a zona euro” o abrandamento registrado na economia portuguesa, porque “é um abrandamento numa economia que ainda está crescendo”.
“Teve um forte crescimento no ano passado de 2,3%, que ainda vai crescer este ano 1,2% e no próximo ano 1,8. Portanto, é claro que existem desafios. Mas vemos em Portugal um crescimento sólido do emprego”, frisou, apontando para “o quadro geral” e para as “notícias desta manhã sobre o Japão ou o Reino Unido”.
“O fato de a UE ter evitado a recessão é, de qualquer forma, positivo e o fato de alguns países, como Portugal, continuarem a registrar um elevado nível de crescimento é muito positivo”, sublinhou.
Relativamente ao boletim de inverno, a Comissão refere que “o consumo privado deverá se beneficiar de um aumento constante no emprego e nos salários, compensando em grande medida os maiores gastos das famílias com os juros do crédito à habitação”.
“A implementação do Plano de Recuperação e Resiliência vai continuar apoiando o investimento”. Mas, numa estimativa sobre a balança comercial, Bruxelas espera que os bens importados sejam em maior número do que a exportações.
Sobre a inflação, Bruxelas prevê um abrandamento, admitindo mesmo que, no próximo ano, possa cair abaixo dos dois por cento, para 1,9%, devendo situar-se em 2,3% este ano.
“A inflação do Índice Harmonizado de Preços ao Consumidor desacelerou consideravelmente em 2023, passando de um pico de 10,2% (ano a ano) no 4º trimestre de 2022 para 2,4% (ano a ano) no 4º trimestre de 2023”, refere a Comissão, salientando que “os preços da energia contribuíram substancialmente para a desinflação, ajudados numa fase posterior por alimentos e bens industriais não energéticos”.
“Prevê-se que a inflação do HICP continue diminuindo ao longo do horizonte de previsão, impulsionada pela queda dos preços da energia e menores aumentos nas commodities alimentares. Os preços dos serviços também estão previstos para contribuir para a desinflação, mas a um ritmo muito mais lento, uma vez que o crescimento esperado dos salários e do emprego deverá apoiar a procura dos consumidores”, lê-se no boletim.
“Na primeira metade de 2024, espera-se que o processo de desinflação seja temporariamente atenuado por efeitos de base no setor energético e pelo restabelecimento das taxas normais de IVA para produtos alimentares essenciais. No geral, prevê-se que a inflação anual do HICP diminua de 5,3% em 2023 para 2,3% em 2024 e 1,9% em 2025, o que é inferior às previsões de outono para ambos os anos”, sublinha Bruxelas.
Ainda sobre 2023, Bruxelas salienta que a economia portuguesa “acelerou no último trimestre” do ano passado, impulsionada pela “recuperação do sentimento econômico e um sólido crescimento do emprego”.
A Comissão Europeia confirma os dados apresentados no boletim de outono dizendo que “o crescimento econômico “desacelerou de 6,8% em 2022 para 2,3% no ano passado”.
A quebra do consumo privado e do investimento, refletindo o impacto de taxas de juro mais elevadas, são as causas apontadas por Bruxelas como responsáveis pelo abrandamento do crescimento econômico.
Já no segundo semestre, de acordo com estas estimativas intercalares de inverno, “tanto o consumo como o investimento se recuperaram”. No entanto, “a contribuição das exportações líquidas para o crescimento tornou-se negativa, devido a uma dinâmica de “crescimento mais fraco no turismo estrangeiro e uma queda nas exportações de bens”.
Fonte: dn.pt