Se esta tragédia não terminar em breve, receio que todo o Médio Oriente se veja envolvido em chamas”, disse Josep Borrell, num um seminário diplomático, em Lisboa, organizado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros português, acrescentando que “as sementes do ódio estão a ser semeadas”.
O aviso surge um dia depois de Saleh al-Arouri, vice-presidente do Hamas, ter sido morto num ataque aéreo israelita em Beirute, capital do Líbano.
Israel não reivindicou a responsabilidade pelo assassinato, mas um conselheiro de Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro israelita, disse, quarta-feira, que o responsável tinha executado um “ataque cirúrgico contra a liderança do Hamas”.
O assassínio de al-Arouri, um dos fundadores da ala militar do Hamas, em solo libanês representa uma ameaça significativa de escalada regional que poderá atrair o grupo militante libanês Hezbollah, que é aliado do Hamas e apoiado pelo Irão.
O aumento das tensões no Mar Vermelho também está a alimentar o receio de uma escalada regional. Uma série de ataques a navios mercantes pelo grupo de rebeldes iemenitas Houthis, apoiados pelo Irão e que controlam uma parte do Iémen, levou os EUA a enviar uma missão naval para a região.
A marinha americana matou dez militantes Houthis quando estes tentavam sabotar um navio operado pela Dinamarca, na segunda-feira. O Irão respondeu com a deslocação de um navio de guerra para o Mar Vermelho, aumentando os receios de uma nova escalada.
A ausência de uma posição unânime enfraquece a UE
Borrell também lamentou o facto de a UE não ter conseguido chegar a um acordo unânime sobre o apelo a um cessar-fogo humanitário em Gaza. Mais de 20 mil pessoas já morreram no conflito em Gaza, que eclodiu na sequência do ataque do Hamas a Israel, a 7 de outubro.
“Não conseguimos chegar a uma posição unânime no Conselho Europeu, apelando a um cessar-fogo. Pelo contrário, limitámo-nos a um acordo mínimo, apelando a pausas humanitárias e a um aumento da ajuda às vítimas”, disse.
“Não existe uma solução ou posição unânime, o que nos enfraquece (a UE)”, acrescentou.
A resolução da Assembleia-Geral da ONU, de dezembro, que apela a um cessar-fogo humanitário em Gaza, obteve o apoio de 17 dos 27 Estados-membros da UE, inlcuindo Portugal. A Áustria e a Chéquia votaram contra a resolução e outros oito membros abstiveram-se, alegando que um apelo conjunto da UE a um cessar-fogo pode prejudicar os esforços israelitas para erradicar o Hamas.
O número de mortes e o grau de destruição em Gaza fez com que os países apelem agora a uma maior contenção, com uma grande mudança de retórica registada pela França. Países tais como a Bélgica, a Espanha e a Irlanda têm sido muito afrivos na defesa do cessar-fogo em Gaza, desde as primeiras fases do conflito.
Borrell sugeriu que uma série de pausas nas hostilidades deveria “evoluir” para um cessar-fogo permanente em Gaza.
Comparando a posição firme do bloco europeu no apoio à Ucrânia depois da invasão da Rússia, Borrell advertiu que o bloco pode ser acusado de ter “dois pesos e duas medidas” no que se refere a Gaza.
“A posição clara e firme da Europa em relação à guerra na Ucrânia não é partilhada por muitos países do mundo, que nos acusam imediatamente de termos princípios geometricamente desalinhados – aquilo a que chamam “dois pesos e duas medidas”, disse o diplomata.
“E penso que, a menos que fechemos os olhos e os ouvidos, é difícil não encarar esta contradição”, acrescentou.
Borrell afirmou, ainda, que o facto de os países da UE terem de apelar sistematicamente a Israel para que respeite o direito internacional humanitário no seu ataque à Faixa de Gaza sugere que o país não está a agir dentro dos limites da lei.
Fonte: euronews.pt