Uma parte das pessoas ligadas às religiões sempre questiona se na igreja é lugar de falar de política. Esse assunto é um tema bastante complexo e polêmico; por isso, deve ser analisado com inteligência política, responsabilidade social e espiritual, sob o olhar da ética cristã e com o amparo bíblico, observando-se, principalmente, a história do judaísmo e do cristianismo, já que o Brasil é um país de maioria absolutamente cristã, embora exista o conceito da laicidade na concepção do Estado.
Muita gente acha que religião e política não se misturam, mas isso é uma história longa, que precisa de tempo para ser amplamente analisada, dentro do contexto escriturístico, histórico e filosófico, observando-se, sobretudo, os parâmetros fundamentados nos grandes personagens da história de patriarcas da fé e líderes políticos e religiosos – antes, durante e depois de Cristo; essa cultura foi difundida no Brasil desde o tempo do império, quando o país era colônia de Portugal.
Na verdade, na prática, a religião e a política estão entrelaçadas; muitos partidos políticos estão ligados à religião cristã, mas alguns são até mesmo vistos como sendo contra as religiões e a fé. Dos 29 partidos políticos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no momento, pelo menos uns cinco são, declaradamente, cristãos. Dentro do Congresso Nacional, na Câmara dos Deputados, tem a Bancada Evangélica e a Frente Parlamentar Evangélica, e, cotidianamente, são realizados cultos naquele recinto, sempre presididos por pastor evangélico.
Em Palmas, a prefeitura realiza o maior congresso ecumênico da Região Norte do Brasil, o Palmas, Capital da Fé, que reúne milhares de pessoas no período de carnaval. O poder público, por meio da prefeitura municipal e do governo do estado, também apoia, financeiramente, eventos religiosos, tanto evangélicos como católicos.
Através de lei municipal, os principais eventos evangélicos na cidade de Palmas passaram a fazer parte do Calendário Municipal de Eventos Oficiais, como Comadec, Emep, Carnaval com Cristo e outros eventos evangélicos, também realizados no período de carnaval.
Observa-se que, na maioria das câmaras municipais e assembleias legislativas dos estados, normalmente se abrem as sessões com a leitura de um texto bíblico. Mesmo sendo o Brasil um estado laico, a religião está dentro da política e a política está dentro da religião. O estado laico, em sentido estrito, apresenta duas características: a separação administrativa entre Estado e Igreja e a liberdade e proteção de crença. A laicidade é uma singularidade dos estados não confessionais, que asseguram a separação entre o Estado e a Igreja, garantindo a proteção de crenças e a liberdade religiosa (Constituição Federal, Art. 5º, Inciso VI).
Nas igrejas, especialmente nos púlpitos, é permitido que se fale em política partidária, em ano eleitoral ou período eleitoral ou fora deles? Partindo da premissa que todo crente acima de 16 anos (ou a maioria deles) tem um título de eleitor, assim como os cidadãos católicos também, em ano eleitoral, e principalmente no período eleitoral, que vai do início de agosto ao início de outubro, as conversações sobre política tendem a ser acirradas, contínuas e acaloradas. E as igrejas, como segmentos extremamente importantes da sociedade, direta ou indiretamente inseridas no processo político-eleitoral, devem participar dessas discussões ou se omitir?
Este é um tema um tanto delicado, visto que se trata de um segmento que suscita uma avalanche de ideias e opiniões. No entanto, formadores de opinião e entendedores do assunto, tanto de política como de religião, têm o dever, a responsabilidade e a obrigação de opinar e orientar as comunidades sobre a política, lançando luz na mente daqueles – os eleitores religiosos – que têm a responsabilidade de eleger, neste pleito, prefeitos, vice-prefeitos e vereadores, até porque a vida da Igreja depende dos políticos, dos seus votos e das suas decisões.
As igrejas, principalmente as evangélicas, normalmente têm os seus candidatos para as câmaras municipais, as assembleias legislativas e a Câmara dos Deputados, e trabalham duramente para elegê-los ou reelegê-los; elas também apoiam candidatos a prefeitos e vice-prefeitos que têm respeito pela fé das pessoas e pelas religiões.
Embora algumas pessoas considerem que política não deva se misturar com religião e vice-versa, a maior parte delas acha que a igreja deve sim discutir, com sabedoria, a política partidária dentro do recinto religioso; no entanto, alguns acreditam que seria preciso fazer reuniões específicas para falar sobre política, em vez de utilizar os púlpitos dos templos para esse fim ou receber políticos no altar – lugar sagrado destinado à pregação da palavra de Deus e não à realização de comícios ou reuniões políticas.
Pastores e líderes mais modernos defendem que as igrejas precisam abrir suas portas para ouvir o que os pré-candidatos e candidatos têm a dizer. Os evangélicos precisam conhecer as bandeiras, ideias e propostas daqueles que postulam cargos eletivos, pois isso seria uma forma de levar luz à escuridão, já que grande parte das pessoas que frequentam as igrejas não conhece e nem entende muito de política. Por outro lado, a igreja tem o dever espiritual de orar pelos políticos e pelas autoridades e abençoá-los.
Fonte: TSE, FPE e OMEP | Foto: Flávio Clark