Nações Unidas alertam que 40% da população de Gaza está em risco de fome

Diretor da UNRWA fala em mais de um milhão de pessoas em busca de segurança em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, havendo muitas que têm de dormir ao ar livre protegidas apenas por "frágeis pedaços de plástico".

São dois os alertas feitos este sábado pelas Nações Unidas quanto à situação na Faixa de Gaza devido à guerra entre Israel e o Hamas: 40% da população está em risco de fome e cerca de 100 mil pessoas deslocaram-se para Rafah, a cidade mais a sul do enclave, nos últimos dias, devido ao intensificar dos ataques em Khan Younis e arredores.

A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) informou ontem que “Gaza está a enfrentar uma fome catastrófica. 40% da população corre agora o risco de passar fome. Cada dia é uma luta pela sobrevivência, por encontrar comida e água. Precisamos de abastecimentos regulares e de acesso humanitário seguro e sustentável em toda a Faixa de Gaza”, escreveu a UNRWA numa mensagem publicada na rede social X, partilhando também um vídeo do diretor desta agência que mostra a chegada de um comboio humanitário a Gaza: “As pessoas estão com fome e desesperadas por comida. Comboio da UNRWA na cidade de Gaza esta semana”, referiu Thomas White.

Já o gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) disse ontem à BBC estimar que, pelo menos, 100 mil pessoas se deslocaram para Rafah, a cidade mais ao sul de Gaza, nos últimos dias, devido ao crescendo dos combates em Khan Younis, também no sul, e arredores, degradando o estado de sobrelotação e recursos limitados.

Segundo Thomas White, que se encontra em Rafah, há “bem mais de um milhão de pessoas” em busca de segurança na cidade, uma situação de sobrelotação que está a levar a que milhares de pessoas estejam a dormir ao ar livre “sob frágeis pedaços de plástico”.

Juliette Touma, também da UNRWA, afirmou ontem à BBC que “as necessidades humanitárias no terreno continuaram a crescer enormemente”, acrescentando que “nenhum lugar é seguro em Gaza, nem no norte, nem no centro e nem no sul”.

De acordo informações avançadas ontem pelo Ministério da Saúde do Hamas, pelo menos 165 palestinianos foram mortos e outros 250 ficaram feridos em 14 ataques israelitas em Gaza nas 24 horas anteriores. Desde o início do conflito, a 7 de outubro, morreram 21 672 habitantes de Gaza e 56 165 ficaram feridos pelos ataques do exército israelita, sendo que, segundo a mesma fonte, 70% das vítimas são mulheres e crianças. O jornal israelita Haaretz indicava ontem que estavam contabilizadas a mortes de pelos menos 1300 civis e militares em Israel desde 7 de outubro.

Cerca de 5 300 pessoas precisam de ser retiradas para o estrangeiro, para receberem atendimento médico, na falta de assistência adequada na Faixa de Gaza, afirmou ainda o Ministério da Saúde do território, controlado pelo Hamas.

Segundo o porta-voz deste organismo, Ashraf Al-Qudra, o atual mecanismo de retirada diária de pessoas feridas ou doentes, através da passagem de Rafah para a Península do Sinai, no Egito, “não satisfaz” as necessidades, sendo que apenas 1% dos feridos foram autorizados a sair.

As Forças de Defesa de Israel (IDF) informaram ontem que “batalhas ferozes” estavam a decorrer entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, com as tropas das IDF a operarem em diferentes áreas da região e “atacando células e infraestruturas terroristas”, com o apoio da Marinha através de “assistência de fogo do mar”, resultando na morte de “dezenas de terroristas”.

As autoridades militares israelitas informaram ainda que dois complexos militares do Hamas foram “desmantelados” em Beit Lahia, no norte da Faixa de Gaza, tendo sido localizadas “numerosas armas, dispositivos explosivos, equipamento militar e dispositivos de comunicação nos complexos antes do ataque”.

Pedido de eleições imediatas

O Hamas garantiu que não haverá mais libertações de reféns sem o estabelecimento prévio de um cessar-fogo, pois a sua prioridade é parar a agressão das forças israelitas na Faixa de Gaza “de uma vez por todas” e que isso foi dado a conhecer a todos os mediadores, disse ontem Osama Hamdan à Al-Jazeera, em resposta a notícias publicadas por meios de comunicação israelitas segundo as quais o Hamas estaria a negociar um novo acordo para a libertação de reféns.

O representante do Hamas também negou que tenha sido discutida uma possível libertação em troca de um cessar-fogo de um mês, alegações que foram publicadas em meios de comunicação israelitas. Hamdan tinha já afirmado, em meados de dezembro, esta posição do grupo islamista, sublinhando que todas as questões “podem ser negociadas”.

Centenas de pessoas juntaram-se ontem em Telavive para exigir eleições imediatas e “um Israel melhor”, noticiou o Times of Israel. Os manifestantes exigiam a devolução de todos os reféns detidos pelo Hamas em Gaza, apelando ao governo para não abandonar aqueles que ainda não foram libertados. “Esta é a nossa vida com [Benjamin] Netanyahu no poder. Catástrofe após catástrofe após catástrofe”, cantaram os manifestantes, segundo o jornal.

“Lutar em todas as frentes”

O primeiro-ministro israelita afirmou ontem, em conferência de imprensa, que o país está a “lutar em todas as frentes”, mas avisou que serão precisos mais meses para vencer esta campanha e que os combates só terminarão quando todos os objetivos forem alcançados, nomeadamente derrotar o Hamas e resgatar todos os reféns.

“Para alcançar tal vitória e cumprir nossos objetivos. Precisamos de tempo”, declarou Benjamin Netanyahu, prometendo que “Gaza não será uma ameaça para Israel”. O líder do governo afirmou ainda que as Forças de Defesa de Israel estão a trabalhar para garantir “proteção máxima” aos seus soldados e informou que “mais de 8 000 terroristas foram mortos” e que as capacidades militares do Hamas estão a ser destruídas “passo a passo”.

Fonte: dn.pt por ana.meireles@dn.pt

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