As luzes, decorações, árvores de Natal e a música estão este ano ausentes de Belém, a cidade na Cisjordânia onde se acredita que Jesus Cristo tenha nascido. Na praça da Manjedoura, não longe da Basílica da Natividade, o presépio tem este ano um menino Jesus envolto numa mortalha branca, em homenagem aos milhares de crianças mortas nos bombardeamentos em Gaza, enquanto à sua volta arame farpado e escombros acrescentam mais uma camada sinistra ao que seria a tradicional cena da natividade. Mas este ano as autoridades decidiram deixar as celebrações natalícias dentro de portas, exceto as estritamente religiosas, e Belém, que costuma receber multidões nesta época do ano, é comparada pelo repórter da Associated Press (AP) a uma “cidade fantasma”.
Belém vive do turismo: 70% das suas receitas dependem dos visitantes, mas este ano é para esquecer. “O Natal acabou, já não vemos o Natal, é suposto ser para os nossos filhos, mas já não temos Natal”, lamentou Victor Tabah, de 77 anos, ao Washington Post. A família tem uma loja de souvenirs há mais de seis décadas e nunca conheceu um período tão parado. “Não culpo ninguém por esta situação, nem o Hamas nem ninguém. Temos de nos culpar a nós próprios, temos de ser fortes e temos de continuar”, afirmou.
Uma cristã norte-americana diz que sem as cores, a música e as ruas a transbordar de gente, “o Natal é mais real do que nunca” enquanto espera a “chegada do príncipe da paz”.
As celebrações foram canceladas, mas não as cerimônias religiosas, como o frade franciscano Rami Asakrieh faz questão de esclarecer ao diário norte-americano. “É impossível celebrar quando tantas pessoas – de ambos os lados – perderam tanto. Cancelamos as festividades em sinal de solidariedade para com as vítimas da guerra”, disse o pastor da Igreja de Santa Catarina.
Para alguns dos poucos cristãos na cidade, porém, a sobriedade e as ruas vazias fazem mais sentido. “Sentimos o Natal mais real do que nunca, porque estamos à espera da chegada do príncipe da paz. Estamos à espera de um milagre que ponha fim a esta guerra”, disse à AP a norte-americana Stephanie Saldana.
“Preço muito elevado”
Nos dois dias anteriores, 14 soldados israelitas morreram em operações de combate na Faixa de Gaza, engrossando a lista de óbitos para 153, enquanto do lado do Hamas o mais recente balanço aponta para 20.424 mortos no enclave.
Segundo informações do exército israelita, quatro soldados foram mortos quando o veículo em que seguiam foi atingido por um míssil antitanque. Os restantes foram mortos em combates separados, todos no centro e no sul da Faixa de Gaza. A exceção deu-se no norte de Israel, onde um soldado foi atingido mortalmente por um ataque do Hezbollah.
“A guerra cobra-nos um preço muito elevado, mas não temos outra escolha senão continuar a lutar”, disse o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, ao iniciar uma reunião do executivo. Na mesma ocasião, reiterou que o conflito “vai ser longo”. Na véspera, o líder israelita agradeceu o presidente dos EUA Joe Biden pela resolução do Conselho de Segurança da ONU, que não apela para um cessar-fogo, e milhares de pessoas juntaram as vozes em Telavive para gritar “Bibi, não te queremos mais”.
O porta-voz das forças de defesa de Israel confirmam não haver fim à vista para a guerra, mas a mensagem não é igual à de Netanyahu. Segundo Daniel Hagari, as forças armadas levam a cabo “uma operação longa e difícil que continuará por mais algum tempo”. Enquanto isso, informou, as operações terrestres no sul e no norte da Faixa de Gaza foram expandidas, tendo lutado contra militantes do Hamas “em combate corpo a corpo” nos últimos dias em Khan Younis, no sul de Gaza.
Irã alvo de mais acusações
O Departamento de Defesa dos Estados Unidos acusou o Irã de ter atacado um navio cargueiro no oceano Índico com um drone de guerra. O ataque provocou um incêndio a bordo, não havendo notícia de ferimentos entre a tripulação de maioria indiana. O MV Chem Pluto, que seguia da Arábia Saudita para a Índia, navega com o pavilhão da Libéria, é operado por uma empresa neerlandesa e é propriedade de uma empresa japonesa, segundo o Departamento de Defesa norte-americano.
Já a empresa de segurança marítima Ambrey diz que o navio está associado a Israel. Horas antes, a tensão entre Washington e Teerã tinha aumentado. Os EUA acusaram o Irã de estar “profundamente envolvido” no planeamento de ataques dos rebeldes houthis do Iémen contra navios mercantes no Mar Vermelho, tendo dito que dez navios tinham sido atacados com drones e mísseis.
Macron apreensivo com paróquia de Gaza
O presidente francês expressou “a sua profunda preocupação” com a “situação dramática” da paróquia católica de Gaza, onde duas fiéis foram “assassinadas de forma indigna”, no dia 16, por um soldado israelita. Durante a conversa telefônica com o cardeal Pierbattista Pizzaballa, na véspera do Natal, Emmanuel Macron realçou que naquela paróquia “centenas de civis de todas as religiões vivem sob bombas e balas há mais de dois meses” e transmitiu as suas condolências pela morte das duas paroquianas, lê-se no comunicado do Eliseu.
No dia 16, mãe e filha, ambas cristãs, foram mortas por um soldado israelita em frente à única igreja católica de Gaza. No dia seguinte, o Papa Francisco condenou a morte dessas duas mulheres. Na véspera da missa de Natal na Igreja da Natividade, em Belém, Macron pediu ao patriarca que “envie uma mensagem de paz e solidariedade a todos os cristãos da Terra Santa e lhes assegure que a França está ao seu lado”.
Fonte: dn.pt por cesar.avo@dn.pt





