Rússia força ucranianos a lutarem contra o próprio país

Human Rights Watch acusa Moscou de crimes de guerra enquanto agência da ONU aponta para o ataque a ONG em Kherson.

As ações russas na guerra com a Ucrânia foram denunciadas no mesmo dia pelo Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) e pela organização não-governamental Human Rights Watch (HRW). A primeira condenou a política russa de atacar organizações humanitárias; já a segunda aponta para o “crime de guerra” que é a prática contínua de forçar civis dos territórios ocupados a lutar contra o exército do seu próprio país.

“As autoridades russas forçam aberta e ilegalmente os homens nas áreas ocupadas da Ucrânia a lutarem contra o seu próprio país”, disse Hugh Williamson, diretor da HRW para a Europa e Ásia Central. “Menos visível é a sua prática de pressionar os civis ucranianos detidos, que não têm onde se esconder ou fugir, a juntarem-se às forças russas.”

A HRW chegou à fala com três ucranianos presos em Donetsk que, além das condições indignas de encarceramento – sem aquecimento, nem água corrente -, queixam-se de pressão crescente para se voluntariarem. Uma advogada de um dos reclusos contou à ONG que quem recusa é torturado e, em resultado, muitos acabam por ceder e são enviados diretamente para a frente. Esta prática configura um crime de guerra. “Pressionar os ucranianos a lutarem contra o seu próprio país é depravado e ilegal”, considerou Williamson. O direito humanitário internacional proíbe que uma parte num conflito armado obrigue os residentes dos territórios que ocupa a servirem nas suas forças armadas.

Um dos maiores ataques a Kherson desde que a guerra começou desenrolou-se na noite de terça para quarta-feira. “A cidade foi fortemente atingida por sistemas de foguetes de lançamento múltiplo e por drones de combate do tipo Shahed iraniano-russo”, afirmou o chefe militar da região Oleksandr Prokudin. Em consequência, nove pessoas ficaram feridas, incluindo quatro crianças e, no que respeita a danos materiais, foram danificados três blocos de apartamentos, um jardim de infância e um centro de saúde, entre outras infraestruturas.

Mais tarde soube-se pelo OCHA que houve instalações de organizações humanitárias atingidas pelo ataque russo. “Estou horrorizada com a notícia de que outra onda de ataques indiscriminados por parte da Federação Russa danificou instalações e abastecimentos essenciais de, pelo menos, três organizações humanitárias em Kherson”, escreveu a responsável na Ucrânia daquela agência da ONU, Denise Brown, em comunicado.

As organizações atingidas em Kherson são a Cruz Vermelha ucraniana e a ONG Shchedryk, cujos armazéns e respetivo material de ajuda ardeu na totalidade. As instalações da ONG HEKS/EPER também foram atingidas. “O nível de destruição é enorme e, com o início do inverno, a ajuda é mais necessária do que nunca”, realçou Brown.

Apoio maciço português

Os europeus estão longe da unanimidade quanto ao apoio da UE à Ucrânia no que se refere ao financiamento e fornecimento de equipamento militar ao país (60% a favor e 36% contra), bem como o apoio à integração na UE (61%-30%), conclui o último Eurobarómetro. Porém, os portugueses destacam-se pela esmagadora maioria favorável à assistência militar a Kiev (82%), quando nalguns países como Chipre e Bulgária a taxa de rejeição é superior a 60%.

De notar ainda que a maioria dos portugueses (76%) mostra-se satisfeita com a atuação do Governo em resposta à invasão russa – quinto valor mais alto na UE -, bem como com a reação de Bruxelas (79%, o segundo país com maiores níveis de satisfação a par da Dinamarca).

Fonte: dn.pt por cesar.avo@dn.pt

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