Uma equipa do Ministério dos Negócios Estrangeiros israelitas tem vindo a trabalhar numa visão para Gaza num cenário pós-guerra, avançou ontem o Canal 12 de Israel, citado pelo The Times of Israel. Este documento, que deverá ser apresentado em Conselho de Ministros, prevê “total liberdade de ação para as IDF” em Gaza e não contém nenhuma disposição específica para um papel para a Autoridade Palestiniana.
O trabalho desta equipa, criada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros Eli Cohen, tem como princípio orientador que “Israel está a trabalhar para criar um futuro em que os palestinianos se governem a si próprios, sem capacidade para ameaçar Israel”.
De acordo com o The Times of Israel, o documento não contém nenhuma informação precisa sobre um futuro papel da Autoridade Palestiniana, mas sugere um papel para a Fatah.
E termos de segurança, prossegue o jornal, citando o Canal 12, este projeto prevê “total liberdade de ação” para as Forças de Defesa de Israel em Gaza, a prevenção de qualquer rearmamento e “imposição da desmilitarização total” no enclave, o estabelecimento de “zonas tampão” e a supervisão do Corredor Philadelphi ao longo da fronteira Gaza-Egito e na passagem fronteiriça de Rafah.
É também apontado que países como Egito, Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, participem na administração da vida civil, em conjunto com organizações internacionais já ativas em Gaza, incluindo agências da ONU, e com “elementos locais não identificados com o Hamas”.
Este documento foi noticiado no dia em que o ministro da Defesa de Israel anunciou que a população civil de Gaza poderá regressar às zonas do norte à medida que Israel transita gradualmente para a próxima fase das suas operações militares. “Posso dizer-lhes que em breve seremos capazes de distinguir entre diferentes áreas de Gaza”, declarou Yoav Gallant. O que permitiria, adiantou, que Israel começasse a trabalhar no retorno da população local “talvez mais cedo no norte” de Gaza do que no sul. De visita a Israel, o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, reafirmou que o “apoio dos EUA à segurança de Israel é inabalável e Israel não está sozinho”. Austin encontrou-se com Gallant, mas também com o primeiro-ministro Benjamin Benjamin Netanyahu.
Um “conflito sem sentido”
A Igreja Católica, através do Patriarcado Latino de Jerusalém, condenou ontem o que classificou de “conflito sem sentido” depois de duas mulheres terem sido “mortas por atiradores israelitas”, apelando ao fim da guerra entre Israel e o Hamas.
De acordo com o Patriarcado Latino de Jerusalém, a autoridade católica em Israel, um soldado israelita teria morto duas mulheres cristãs que se refugiaram num complexo religioso na Faixa de Gaza no sábado. Anteriormente, este organismo já havia dito que um “atirador” das Forças de Defesa de Israel havia disparado contra elas, quando caminhavam para um convento no complexo da Paróquia da Sagrada Família. Mulheres que o Papa Francisco identificou como Nahida Khalil Anton e sua filha, Samar.
O Patriarcado, que adiantou que várias outras pessoas ficaram feridas, divulgou ontem uma série de fotografias que mostram “graves danos às estruturas” do complexo católico. As Forças de Defesa de Israel têm negado estes acusações, mas ontem os Estados Unidos levantaram preocupações junto de Telavive sobre os relatos de que um atirador israelita mato a tiro duas mulheres num complexo cristão na Faixa de Gaza, disse o porta-voz da Casa Branca, John Kirby.
Ontem também, o Ministério da Saúde da Autoridade Palestiniana anunciou a morte de um jovem palestiniano na sequência de disparos do Exército de Israel durante uma operação militar no norte da Cisjordânia. Em Gaza, o Hamas, que governa o enclave, anunciou a morte de 110 pessoas durante bombardeamentos israelitas no norte do território.
Negociações para cessar-fogo
O primeiro-ministro do Qatar, Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, reuniu-se ontem com os chefes da CIA e da Mossad, sendo que este encontro em Varsóvia (Polónia) teve como agenda um potencial novo acordo para garantir a libertação de reféns israelitas detidos pelo Hamas em Gaza, noticiou a Axios.
No entanto, uma fonte palestiniana adiantou à BBC que as negociações sobre um novo cessar-fogo temporário “ainda não começaram”, apesar do “anúncio repetido de Israel de que está a prosseguir com as etapas de negociação”. Ainda segundo a BBC, o Hamas terá dito aos mediadores que qualquer negociação “não incluiria a discussão de novas tréguas, mas sim um cessar-fogo abrangente, e não negociaria mais nenhuma pausa humanitária”. Já a Al Jazeera avançava ontem que o Hamas estava aberto a “qualquer iniciativa” sobre troca de prisioneiros do Qatar e do Egito, mas que não haveria conversações até à suspensão dos bombardeamentos.
Segundo Osama Hamdan, um alto funcionário do grupo islamista, as alegações de que o Hamas é responsável por frustrar um novo acordo de trégua é “apenas adotar as mentiras da ocupação”.
Fonte: dn.pt