Quando a porta da casa dos avós se fecha para sempre

As gerações do século passado que ainda estão vivas e lúcidas, nesse mês de Natal, considerado o Mês das Famílias, param para lembrar dos pais e avós e dos momentos inesquecíveis que eles lhes proporcionaram.

Para muitos das gerações dos anos 30, 40 até as gerações das décadas de 70 e 80, que ainda estão vivos e lúcidos, um dos momentos mais tristes de suas vidas, que suas memórias ainda trazem à tela das lembranças e recordações, é quando a porta da casa dos avós se fecha para sempre.

Eles se lembram com nostalgia e dor no coração que, uma vez fechada aquela porta, não houve mais tardes felizes reunindo tios, primos, sobrinhos, pais, irmãos e irmãs: “Não precisávamos ir a restaurantes aos domingos ou à quitandinha da praça da igreja matriz. Íamos para a casa dos nossos avós, lá tinha muita coisa gostosa pra gente comer”.

Os mais antigos se lembram de que no Natal toda a família se reunia. A mesa era muito longa e sempre farta, toda a família se acomodava ao seu redor, mas os que não cabiam se sentavam em bancos de madeira, tocos e tamboretes, mas todos se serviam e ficavam com seus pratos na mão. Mesmo as famílias mais pobres tinham frutos trazidos das roças, carne de porco, uma leitoinha, uma galinha caipira, uma cachacinha de alambique e guaraná, pois nunca faltava guaraná para as crianças. Fome ninguém passava.

Hoje a casa está fechada; só resta a poeira, as teias de aranha, grilos cantando, o mato em volta da tapera e a ferrugem nas fechaduras e na cerquinha de arame farpado. Colocam uma placa de venda, mas ninguém quer aquela casa. Ela é antiga, muito antiga. Tem que ser demolida, remodelada, reformada ou reconstruída. E isso fica muito caro! Ninguém nem sabe o que vale a casa dos seus avós. A casa dos avós não tem valor; na verdade, não tem preço; seu valor é imaterial.

E assim passam-se os anos. Não há mais presentes para desembrulhar, para trocar, amigos secretos, risos, micos, abraços, feliz natal, “bença” vó, “bença” vô. Nada disso. Não tem mais fritos pra comer, bolos, doces, pamonhas, coalhada, polenta de milho verde, curau, biscoito de polvilho assado no forno do fogão à lenha… Não se faz mais massa caseira, nem doces, tudo é industrializado. Os avós sempre tinham café pronto, passado no coador de pano, quentinho em cima da trempe do fogão caipira, com aquele cheirinho gostoso da fumaça da lenha; tinha sempre um pãozinho fresco, um vinho, um licor, água de pote de barro. Tudo acabou.

Essas gerações do século passado ainda se lembram com nostalgia e lamentam: “Quando a casa dos avós se fecha, nós nos encontramos adultos, sem perceber quando deixamos de ser crianças”. Hoje não há mais aquelas músicas tocadas na viola, no velho acordeom ou rodada no disco de vinil (os LPs) numa vitrola a pilha Rayovak ou nas fitas K7.

Os avós vão embora cedo demais. E quando eles nos deixam ficam a saudade e as boas lembranças. E o que aquelas gerações têm a dizer: “Obrigado vô, obrigado vó, por tudo quanto nos ensinaram e pelo bom exemplo que nos deixaram, mesmo que, em vida, não tenhamos dito estas palavras de gratidão”. Agora, no túmulo, nossos antepassados nunca nos ouvirão.

Colaboração de Carlos Ferreira e adaptação de Flávio Clark | Fotos: Álbum de Famílias e Reproduções

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