Esta está a ser uma semana difícil para Volodymyr Zelensky na sua tarefa de angariar mais apoios financeiros e militares para a Ucrânia e tentar travar a invasão russa. Depois de ter saído dos Estados Unidos sem conseguir convencer o Congresso norte-americano a desbloquear um pacote de ajuda de cerca de 55 mil milhões de euros, agora tudo aponta para que, no Conselho Europeu de hoje e amanhã, a Hungria bloqueie a atribuição de mais ajuda comunitária a Kiev, mas também a abertura das negociações para a sua adesão à União Europeia. Mesmo depois de ontem Bruxelas ter desbloqueado 10,2 mil milhões de euros em fundos de coesão destinados à Hungria e que estavam congelados.
O presidente ucraniano voltou a instar os aliados na Europa e nos EUA a continuarem a apoiar Kiev, um apelo feiro a partir de Oslo, onde manteve ontem conversações com os líderes dos cinco países nórdicos – Noruega, Suécia, Dinamarca, Finlândia e Islândia. “Não se pode vencer sem ajuda”, afirmou Zelensky, que falou também do esperado bloqueio da Hungria no Conselho Europeu, como já foi ontem reafirmado pelo primeiro-ministro Viktor Orbán. “Pedi-lhe que me desse uma razão. Nem três, nem cinco, nem 10. Diga-me um motivo”, disse Zelensky sobre a sua conversa com Orbán, com quem se cruzou no fim de semana na Argentina. “Estou à espera de resposta”.
Viktor Orbán reiterou ontem a sua oposição à abertura de negociações de adesão à UE com a Ucrânia, chamando-a de um “erro terrível”. Os líderes europeus estarão reunidos hoje e amanhã em Bruxelas para discutir a renovação do seu apoio a Kiev, com um pacote macroeconómico de 50 mil milhões de euros e uma promessa de conversações formais de adesão sobre a mesa.
O primeiro-ministro húngaro ameaça vetar as duas medidas, o que condenaria a cimeira ao fracasso. “Nunca houve um único caso em que a nossa posição sobre qualquer questão política tenha sido determinada pelo facto de recebermos ou não apoio financeiro”, disse ontem Orbán numa entrevista ao jornal pró-governo Mandiner. E repetiu as suas objeções à proposta de início das conversações de adesão à UE com Kiev. “A União Europeia está prestes a cometer um erro terrível e deve ser travada. Mesmo que haja 26 que queiram fazê-lo e nós sejamos os únicos a opor-nos.”
Na mesma entrevista, o primeiro-ministro húngaro também sinalizou que estava aberto a compromissos em relação a “questões financeiras”. “Estou disposto a fazer acordos financeiros sobre questões financeiras, mas não estou disposto a fazer acordos estratégicos ou políticos sobre questões financeiras”, disse Orbán, sem especificar se se referia à ajuda à Ucrânia ou a fundos para a Hungria.
Muitos líderes da UE suspeitam que Viktor Orbán está a explorar a cimeira e o poder do seu veto ao alargamento para chantagear Bruxelas para que retome os pagamentos de transferências suspensos da Hungria. Ontem de manhã, os líderes dos grupos do Parlamento Europeu já haviam manifestado “profunda preocupação” sobre o eventual desbloqueio de verbas suspensas da Hungria pela Comissão Europeia por desrespeito pelo Estado de direito.
Apesar destes receios, Bruxelas anunciou ontem ao final do dia, a menos de 24 horas do início da cimeira, que iria desbloquear o pagamento de fundos de coesão congelados até 10,2 mil milhões de euros destinados a Budapeste. Como justificação, a Comissão Europeia disse considerar que a reforma judicial empreendida na Hungria atendeu a preocupações sobre independência dos juízes.
“É pura coincidência que seja exatamente ao mesmo tempo do Conselho Europeu”, afirmou a vice-presidente da comissão Vera Jourová. Já para o eurodeputado ecologista alemão Daniel Freund, a presidente Ursula von der Leyen está a “pagar o maior suborno da história da UE”.
O regresso de Tusk a Bruxelas
O presidente do Conselho Europeu rejeitou ontem falar sobre o impasse húngaro, reconhecendo apenas que a cimeira vai ser difícil. Charles Michel lembrou também que é preciso respeitar os tratados da UE e que, quando o alargamento é discutido, é preciso unanimidade, sugerindo que vai ser preciso convencer Orbán a mudar de ideias.
“Temos de honrar os nossos compromissos em relação à Ucrânia e continuar a ser um parceiro fiável e forte “, escreveu Michel na carta convite enviada aos chefes de Governo e de Estado da UE na véspera do Conselho Europeu.
O Conselho Europeu de hoje e amanhã marca também o regresso de Donald Tusk a Bruxelas, depois de ontem ter tomado posse como primeiro-ministro da Polónia. O antecessor de Charles Michel anunciou que usará a persuasão nesta cimeira para convencer aqueles que têm dúvidas sobre a importância de continuar a apoiar Kiev.
“O que precisamos hoje é fortalecer esta crença de que a Ucrânia pode vencer esta guerra, que podemos vencer este confronto não só contra a Rússia, mas contra o mundo que é contra os nossos valores e interesses fundamentais. Temos porventura alguns membros mais difíceis do que outros neste contexto e tentarei também persuadi-los a fazer algo mais positivo”, declarou.
No caso da Hungria, Tusk admitiu que existe “uma diferença real” entre Orbán e os outros. Mas que Orbán é um político “muito pragmático”, o que deve ser interpretado como um elogio.
Fonte: dn.pt por ana.meireles@dn.pt





