Os países favoráveis à redução ou à eliminação dos combustíveis fósseis reagiram fortemente neste sábado contra a oposição do líder da OPEP a qualquer acordo na COP 28 que vise o petróleo, o gás e o carvão.
“Acho que é uma coisa muito repugnante os países da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) oporem-se a colocar a fasquia onde deve estar” em relação ao combate às alterações climáticas, disse aos jornalistas a ministra da Transição Ecológica espanhola, Teresa Ribera, cujo país detém a presidência semestral do Conselho da União Europeia (UE).
A ministra da Transição Energética francesa, Agnès Pannier-Runacher, disse estar “atordoada” e “zangada”.
As duas ministras estavam reagindo às palavras do secretário-geral da OPEP, o kwaitiano Haitham al-Ghais, que nesta semana pediu “urgentemente” aos 23 países-membros ou associados para “rejeitarem proativamente” qualquer acordo que vise os combustíveis fósseis nas negociações climáticas.
A intervenção provocou uma série de reações em Dubai, onde o futuro dos combustíveis fósseis está no centro das negociações e a nação líder da OPEP e do bloco de países árabes, a Arábia Saudita, está sendo cada vez mais acusada de obstrução nas negociações de um acordo na 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas de 2023 (COP 28), que ocorre em Dubai e termina na terça-feira.
“Nada põe mais em perigo a prosperidade e o futuro dos habitantes da terra, incluindo os cidadãos dos países da OPEP, do que os combustíveis fósseis“, disse Tina Stege, enviada para o clima das Ilhas Marshall, que se localizam no Pacífico e estão ameaçadas pela subida das águas do mar.
Entretanto, “nenhum país quer ser a nação designada como causadora de problemas”, acrescentou um membro da equipe da presidência da COP 28, que vê especialmente as manobras sauditas como uma técnica típica para efeitos de negociação.
A OPEP tem um pavilhão próprio na COP 28. Sete manifestantes realizaram um breve protesto hoje de manhã, de acordo com um vídeo da organização não-governamental 350.org.
“A reação da OPEP mostra que tem medo dos crescentes apelos à saída dos combustíveis fósseis e à transição energética. Existe agora uma possibilidade real de que a COP 28 envie um sinal sobre o início do fim dos [combustíveis] fósseis“, afirmou Helena Spiritus do Fundo para a Proteção da Natureza (WWF, na sigla em inglês).
Um negociador de um país a favor da eliminação progressiva dos combustíveis fósseis disse que o grupo árabe na ONU é o único com uma oposição total.
As posições estão se endurecendo à medida que a COP 28 entra na sua reta final, com o regresso dos ministros dos países participantes para levar as negociações a uma conclusão bem-sucedida até terça-feira.
Os países emergentes e em desenvolvimento exigem compensações dos países ricos para assinarem o abandono dos combustíveis fósseis. Os termos “equidade” e “justo” são as palavras mais ouvidas entre esses países. Nos bastidores, os ministros estão negociando para encontrar uma fórmula capaz de combinar um sinal forte a favor da saída dos combustíveis fósseis e o reconhecimento de que os países em desenvolvimento não devem sacrificar o seu desenvolvimento econômico.
O ministro do Meio Ambiente canadiano, Steven Guilbeault, que desempenha um papel fundamental nas discussões, mostrou relativo otimismo, dizendo à agência de notícias AFP que estava “bastante confiante” em ter uma menção aos combustíveis fósseis no texto final.
Os negociadores veteranos nas cúpulas climáticas da ONU disseram hoje que o esforço para afastar o mundo dos combustíveis fósseis ganhou tanto impulso que atingiu um inimigo poderoso, a indústria petrolífera.
“Acho que [os países produtores de petróleo e a indústria petrolífera] estão em pânico”, disse Alden Meyer, analista do ‘think tank’ climático E3G.
“Talvez os sauditas não consigam fazer sozinhos o que estiveram fazendo durante 30 anos, que é bloquear o processo”, acrescentou Meyer.
A ex-presidente da Irlanda Mary Robinson disse: “Eles estão com medo. Acho que estão preocupados”.
A enviada para o clima da Alemanha, Jennifer Morgan, sugeriu que qualquer pedido de bloqueio de um acordo seria sentido mais pelos pequenos países vulneráveis ao aumento do nível do mar causado pelo aquecimento global.
Fonte: dn.pt





