Líderes da União Europeia e da China encontram-se esta quinta-feira em Pequim, naquela que é a primeira cimeira presencial desde 2019, e que terá como temas dominantes o posicionamento sobre a agressão russa à Ucrânia e o conflito no Médio Oriente, mas também o futuro da relação comercial entre as duas partes. Ao que o DN apurou, os representantes europeus vão mandatados para apelar a Pequim para que exerça “pressão sobre a Rússia” para que Moscovo ordene “a retirada as tropas da Ucrânia” de modo a fazer “parar a guerra”.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, vão também apelar à China para “prevenir tentativas da Rússia de contornar ou contrariar os efeitos das sanções”, além de apelarem à “defesa da ordem internacional baseada em regras”. Os dois líderes europeus vão também abordar “a situação” no Médio Oriente e “a crise humanitária”, apelando ao “envolvimento diplomático para incentivar a paz na região”, refere uma nota do Conselho.
Do lado de Pequim, o objetivo da cimeira é “traçar um plano” para identificar “áreas-chave” de interesse mútuo que possam “dar um impulso à relação” com o bloco europeu, de acordo com o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Wang Wenbin, o qual entende que “os interesses” na relação de UE-China “superam as diferenças existentes”. Este porta-voz assinalou ainda, a poucos dias da cimeira, que “a UE e a China são parceiros e não rivais”
O encontro acontece, porém, numa altura em que Pequim e Bruxelas enfrentam um braço de ferro sobre questões comerciais, na sequência da investigação lançada em outubro à atribuição de subsídios estatais da China à produção de carros elétricos. O governo chinês considera que a investigação, que pode decidir a favor da aplicação de tarifas às importações de automóveis chineses, se trata de um “ato de protecionismo descarado”.
No Parlamento Europeu, eurodeputados ouvidos pelo DN são quase unânimes a defender que a União Europeia deve exigir um maior equilíbrio na relação comercial com a China. Nuno Melo (CDS) aponta a “falta de reciprocidade” na relação comercial com a China, para a qual há agora “finalmente” a perceção por “pôr em causa a indústria automóvel da Alemanha”. Melo dá também os exemplos “do têxtil, vestuário e calçado”, como indústrias afetadas, com impacto direto em Portugal.
“Nós sabemos que há dumping, ou seja, há um subsídio às exportações chinesas para elas entrarem no nosso mercado mais baratas”, denuncia Paulo Rangel (PSD), lamentando que haja “também restrições grandes em importações europeias [que] se têm agravado (…) com a crise chinesa”.
A União Europeia deve agir para “equilibrar a relação comercial” com a China, defende Margarida Marques (PS), de modo a assegurar às empresas europeias um “maior acesso ao mercado chinês”. Por outro lado, a eurodeputada alerta para a necessária “fiscalização no mercado interno a potenciais distorções e desequilíbrios gerados por investimentos com empresas subsidiadas ou estatais chinesas”.
Rangel considera que a aplicação de tarifas comerciais às importações chinesas não é a solução, defendendo que “tem que haver um grande esforço no sentido de evitar que tenhamos que ter alguma retaliação de tipo comercial ou económico”.
Lembrando que a UE vê a China como “parceiro, competidor global e rival sistémico”, Marques salienta que, no domínio do combate às alterações climáticas, os dois podem atuar como “importantes parceiros”, assim como relativamente à “segurança alimentar”. Mas, também dando contributo para a resolução “nos conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente”.
Já Rangel é crítico da ambiguidade da China face à agressão russa na Ucrânia, considerando que “mesmo que não haja um apoio de tipo militar, tem havido um conjunto de ações que, claramente, beneficiam o regime russo”. O que se traduz “num problema sério nas relações entre a UE e a China”.
O PCP considera que Portugal deve bater-se “nos espaços multilaterais em que participa” pelo “respeito da soberania e princípios do direito internacional, nomeadamente da soberania e independência nacional, rejeitando uma qualquer lógica de confrontação e ingerência como a que tem sido promovida pelos EUA, e com a qual a UE tem alinhado, contra a República Popular da China”.
A anterior cimeira UE-China foi em abril de 2022, por videoconferência, com a Europa ainda no rescaldo da pandemia, e serviu para uma discussão estratégica sobre as relações entre os dois blocos. O tema da saúde pública não vai, por isso, passar ao lado agora que a cimeira ocorre por via presencial, sendo que a UE vai apelar ao reforço da “cooperação na prevenção de pandemias”.
Fonte: dn.pt