O presidente da Ucrânia garantiu, numa entrevista à AP, que a guerra com a Rússia está numa nova fase, sendo esperado que o inverno vá complicar os combates. “O inverno é toda uma nova fase da guerra”, afirmou Volodymyr Zelensky, admitindo que a contraofensiva do verão não teve os resultados esperados. “Não vamos recuar, estou satisfeito. Estamos lutando com o segundo (melhor) exército do mundo, estou satisfeito“, disse, acrescentando, porém: “estamos perdendo pessoas, não estou satisfeito. Não conseguimos todas as armas que queríamos, não posso estar satisfeito, mas também não posso reclamar muito“.
Zelensky disse ainda querer aumentar a produção interna de armas da Ucrânia, que permitiria ao país não estar tão dependente de fornecedores externos. Nesse sentido, o presidente ucraniano declarou esperar que os aliados concedam à Ucrânia licenças para fabricar e reparar as suas armas, ao mesmo tempo em que pretende empréstimos baratos do ocidente para financiar esses planos.
Do outro lado da barricada, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, afirmou que o seu exército está avançando “em todas as frentes” na Ucrânia. “As tropas russas estão infligindo danos de forma eficaz e firme às forças ucranianas, reduzindo significativamente a sua capacidade de combate”, declarou Shoigu, acrescentando que as forças armadas ucranianas perderam mais de 125.000 militares nos últimos seis meses.
Shoigu adiantou ainda que a Rússia está construindo um total de sete campos de treino em território ucraniano ocupado, dois dos quais já estão prontos para serem utilizados. O responsável russo da Defesa disse também que está prevista mais formação do pessoal militar para 2024, de modo a completar as tarefas da “operação militar especial”.
No plano diplomático, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo afirmou que Moscou não reconhece sinais de Kiev ou do ocidente de que exista vontade de uma solução política para a guerra na Ucrânia. “Até agora não vimos qualquer sinal de Kiev ou dos seus senhores de que estão prontos para um acordo político”, disse Sergei Lavrov em Skopje, onde participou na 30ª reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
Por outro lado, “se ouvirmos os dirigentes da OTAN e da União Europeia, eles dizem apenas uma coisa: temos o dever de apoiar a Ucrânia, porque se a Ucrânia for derrotada, será a derrota de todo o ocidente”, acrescentou o chefe da diplomacia de Moscou. Para “iniciar um processo político são necessários dois, como no tango, mas os tipos do outro lado não dançam tango, dançam breakdance“, acrescentou.
Por isso, salientou, a Rússia não vê motivos para rever os objetivos da sua campanha militar na Ucrânia, que Putin definiu como a “desmilitarização e desnazificação” do país vizinho. Cabe recordar que, no início de outubro, Volodymyr Zelensky assinou um decreto formal que confirma “a impossibilidade de realizar negociações com o Presidente da Federação Russa, Vladimir Putin” e vincula todos os cidadãos ucranianos.
Estas declarações de Lavrov surgem no dia em que foi conhecido o resultado de uma sondagem que mostra que, pela primeira vez desde o início do conflito, uma maioria dos russos (74%) disse que gostaria que Vladmir Putin assinasse de imediato um acordo de paz. Esta auscultação foi levada a cabo pela Russian Field, uma empresa de sondagens apartidária sediada em Moscou, e noticiada pela The Economist.
A ONU anunciou que a guerra na Ucrânia já causou cerca de 900.000 movimentos de refugiados e pessoas deslocadas, em que se incluem as que tentam regressar às suas casas como as que as abandonam devido às hostilidades. Estes números foram revelados pelo novo diretor para a Europa do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, Philippe Leclerc, que adiantou que muitos dos que regressam fazem-no para zonas relativamente estáveis do país, como a Ucrânia central e ocidental.
Ataque a comboios na Sibéria
A Ucrânia reivindicou a responsabilidade pelos ataques contra uma linha ferroviária russa na Sibéria, atingindo dois comboios, no mais recente incidente de sabotagem reportado em território russo, mas o primeiro a milhares de quilômetros da frente de batalha. O primeiro ataque ocorreu na quarta-feira e o segundo ontem. A linha Baikal-Amur tem mais de 4.000 quilômetros de extensão e corre ao longo das fronteiras da China e da Mongólia.
Também nessa sexta-feira, a Rússia anunciou que deteve um cidadão com dupla nacionalidade, russa e italiana, suspeito de realizar ataques de sabotagem contra uma ferrovia e uma base aérea, sob as ordens da Ucrânia.
Com Informações das agências Lusa e DN.pt