Israel e o Hamas acordaram esta segunda-feira estender por mais dois dias a trégua na Faixa de Gaza, abrindo a porta à possível libertação de mais 20 reféns israelitas e 60 prisioneiros palestinianos. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, fala num “vislumbre de esperança e humanidade no meio da escuridão da guerra”, com os EUA a dizer esperar que a trégua possa ser prorrogada ainda mais tempo.
“Um acordo foi alcançado para estender a pausa humanitária por mais dois dias na Faixa de Gaza”, anunciou o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar, país que tem ajudado nas negociações entre Israel e o Hamas. O grupo terrorista palestiniano confirmou depois a informação, indicando ter conseguido “localizar” mais um grupo de reféns. Numa entrevista à Al-Jazeera, um responsável do Hamas, Khalil al-Hayya, indicou ainda que esperam poder começar a negociar um novo acordo para a libertação dos reféns não incluídos desta vez – nomeadamente os homens e até os soldados. Israel não confirmou de imediato a continuação da trégua humanitária.
Esta segunda-feira, onze israelitas (nove crianças e duas mães) estavam na lista de libertados do Hamas, assim como seis tailandeses. Por seu lado, Israel planeava libertar 33 prisioneiros palestinianos das suas prisões. A confirmar-se estes números, desde o início da trégua, foram libertados 75 reféns – 50 mulheres e crianças israelitas, um homem com dupla nacionalidade russa e israelita, 23 tailandeses e um filipino. Israel, por seu lado, libertou os 150 prisioneiros – jovens e mulheres – que estava acordado.
No ataque surpresa de 7 de outubro a Israel, o grupo terrorista palestiniano terá matado 1200 pessoas (segundo as autoridades israelitas) e raptado 240 pessoas. Em resposta, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, declarou a guerra ao Hamas, iniciando de imediato os bombardeamentos contra a Faixa de Gaza e lançando, há um mês, uma incursão terrestre. De acordo com as autoridades de Gaza, controladas pelo Hamas, 14 854 pessoas já morreram nos ataques israelitas. O grupo terrorista alega ainda que pelo menos 60 reféns terão morrido nesses mesmos ataques.
Outra das cláusulas da trégua inicial de quatro dias, que representou a primeira pausa nos bombardeamentos em sete semanas, era a entrada de ajuda humanitária em Gaza. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, confirmou que no domingo entraram os 200 camiões previstos. Desde a reabertura da fronteira de Rafah, a única entre a Faixa de Gaza e o Egito, a 21 de outubro, já tinham entrado mais de dois mil camiões.
Reações
O secretário-geral das Nações Unidas considerou esta segunda-feira, numa conferência de imprensa, que o prolongar da trégua é um “vislumbre de esperança e humanidade”. Guterres disse esperar que esta possa permitir a entrada de mais ajuda para a população de Gaza “que tanto sofre, sabendo que mesmo com esse tempo adicional, será impossível satisfazer todas as necessidades dramáticas” dessas pessoas.
O presidente norte-americano, Joe Biden, reagiu no X (antigo Twitter): “Tenho insistido consistentemente numa pausa nos combates para acelerar e expandir a assistência humanitária que chega a Gaza e facilitar a libertação de reféns. Continuo em contacto com os líderes do Qatar, do Egito e de Israel para garantir que todos os aspetos do acordo sejam implementados”. Mais cedo, Kirby tinha dito esperar que a trégua possa ser ainda mais alargada, deixando contudo claro que isso dependerá da libertação de mais reféns por parte do Hamas.
Ainda antes de a extensão da trégua ser confirmada, o chefe da diplomacia da União Europeia tinha dito que este objetivo parecia “acessível”. Josep Borrell falava na conferência final da cimeira da União para o Mediterrâneo, na qual 43 países europeus e árabes discutiram o conflito. A Autoridade Palestiniana esteve representada, mas Israel (um dos países fundadores) decidiu na véspera não estar presente. Borrell disse que a reunião “não era contra ninguém, era por e para a paz”.
Segundo disse à agência Lusa o ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, houve no encontro “uma enorme convergência”, associada “a um sentimento de urgência” em torno da “necessidade de uma solução de dois Estados [israelita e palestiniano]”, que todos os países reconhecem “ser a única real possibilidade de uma solução para a paz e a estabilidade a longo prazo”.
E depois da trégua?
O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse esta segunda-feira a um grupo de soldados que, quando a trégua acabar, os combates vão ser “maiores” e acontecer “por toda a Faixa de Gaza”. Este responsável insistiu que as forças israelitas “não vão parar até acabarem” de cumprir os objetivos traçados na resposta ao ataque de 7 de outubro – derrotar o Hamas, libertar os reféns e garantir que a Faixa de Gaza não representa uma ameaça para Israel.
Gallant disse aos soldados, que estão a descansar após dias de combate na Faixa de Gaza, que também os combatentes do Hamas aproveitaram para descansar e se organizar. “Vão encontrá-los um pouco mais preparados, por isso eles vão enfrentar as bombas da Força Aérea primeiro, e depois os projéteis dos tanques e da artilharia, e as garras do D9 [bulldozers] e finalmente os tiros dos combatentes da infantaria”, referiu.
Fonte: dn.pt por susana.f.salvador@dn.pt