As atenções estão viradas para a Faixa de Gaza, onde Telavive diz que vai ampliar as operações militares para lá do norte – e na qual deu autorização para a entrada de dois camiões-cisterna por dia com combustível, mas na Cisjordânia o conflito é o mesmo, com contornos diferentes. A mais recente operação militar naquele território terminou com cinco palestinianos mortos, o mais recente episódio na maior espiral de violência das últimas duas décadas.
Numa operação que começou às 22.30 de quinta-feira, hora local, e se prolongou por várias horas, militares israelitas entraram no campo de refugiados de Jenin em mais de 80 veículos, para atacar membros de grupos islamistas. Tal como em Gaza, cercaram hospitais para atingir os seus objetivos.
De acordo com os militares israelitas, a operação, conduzida pela Brigada Kfir, tinha como finalidade declarada apreender explosivos naquele campo que tem reconhecidamente combatentes entre a sua população: há dois anos foram criadas as Brigadas Jenin. Ainda segundo Telavive, o exército israelita foi recebido a tiro, tendo um drone atingido um grupo de homens armados que estavam a disparar contra as forças de Israel.
Outros palestinianos que lançavam explosivos foram alvejados durante os confrontos. No total, morreram cinco homens e foram feridos 14. Não há notícia da apreensão de explosivos, mas de seis espingardas de assalto em Jenin.
Em pouco mais de um mês, Telavive encarcerou mais de 1750 palestinianos da Cisjordânia, e as suas tropas e colonos mataram quase 200 pessoas.
O Crescente Vermelho Palestiniano denunciou a invasão do Exército Israelita ao Hospital Ibn Sina, em Jenin, impedindo o pessoal médico de desempenhas as suas funções. “As forças de ocupação pararam e revistaram várias ambulâncias no Hospital Ibn Sina e impediram-nas de ajudar os feridos e de transportar os doentes”, escreveu a organização.
Noutro incidente, já na manhã de sexta-feira, dois palestinianos que seguiam num automóvel abriram fogo contra tropas num cruzamento perto da cidade de Hebron, no sul da Cisjordânia, o que se saldou na morte dos dois atacantes. Na véspera, um posto de controlo em Jerusalém também havia sido alvo de um ataque com três homens a disparar de um veículo: um soldado foi assassinado e cinco ficaram feridos, tendo os atacantes sido mortos (dois deles do Hamas, segundo o Shin Bet, o serviço de segurança israelita).
Os ataques israelitas na Cisjordânia têm ocorrido com uma frequência quase diária desde o ano passado e intensificaram-se ainda mais desde o início da guerra de Gaza, em 7 de outubro, na sequência do ataque do Hamas em solo israelita.
Desde então, segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), 194 palestinianos foram mortos – 51 dos quais menores e oito por colonos – e mais de 2700 ficaram feridos em incidentes com as forças de segurança israelitas ou com colonos israelitas. Aliás, o órgão da ONU contabiliza 248 ataques de colonos aos palestinianos desde 7 de outubro.
Segundo as forças israelitas, foram detidos mais de 1750 palestinianos na Cisjordânia, dos quais mais de mil alegadamente ligados ao Hamas.
Foi em Ramallah, na Cisjordânia, que o chefe da diplomacia da UE se encontrou com o primeiro-ministro da Autoridade Palestiniana, Mohammad Shtayyeh. Josep Borrell disse que deve ser a Autoridade Palestiniana, controlada pela Fatah, o maior partido da Organização pela Libertação da Palestina, fundado por Yasser Arafat. “Poderão necessitar de ajuda da comunidade internacional, e nós ajudá-los-emos, mas tem de regressar a Gaza”, disse Borrell sobre um órgão com cada vez menos peso político.
2005 foi o ano das últimas eleições presidenciais na Palestina. Na única vez que Mahmud Abbas se apresentou a votos, recebeu 62,5% dos sufrágios.
Já Shtayyeh disse que a comunidade internacional deve pressionar Israel a abrir mais pontos de passagem para permitir que a ajuda humanitária chegue a Gaza. Também agradeceu a ajuda humanitária da UE, mas disse que a prioridade é uma trégua. “Se me dão de comer hoje, mas matam-me amanhã, a comida não serviu para nada”, afirmou.
A única concessão do Governo de unidade nacional israelita foi a autorização para a entrada diária de dois camiões com combustível para “permitir a manutenção mínima necessária dos sistemas de água, esgotos e saneamento, a fim de evitar pandemias que poderiam alastrar a toda a zona”.
Uma medida que foi criticada pela extrema-direita presente na coligação governamental, mas também por outros partidos israelitas. Esta medida “transmite fraqueza, dá oxigénio ao inimigo e permite que Sinwar [líder do Hamas em Gaza], se sente confortavelmente no seu bunker com ar condicionado, veja as notícias e continue a manipular a sociedade israelita e as famílias dos raptados”, criticou o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich.
Fonte: dn.pt por cesar.avo@dn.pt





