Sem comunicações e com a fome à espreita, Gaza entra em nova fase da invasão

Operações militares continuam nos hospitais. Com o oeste da cidade de Gaza sob controlo israelita, Tel aviv vai começar novo capítulo, indiferente ao colapso das condições mínimas da população.

Apesar do coro de apelos internacionais e da resolução do Conselho de Segurança da ONU para a criação de pausas e de corredores humanitários, a operação terrestre israelita deverá prosseguir para sul, depois de os militares terem dito que já controlam o oeste da cidade de Gaza. Os residentes e deslocados a leste de Khan Yunis foram avisados por panfletos de que deverão abandonar a área, tal como os residentes no norte da Faixa de Gaza foram antes da entrada de milhares de soldados israelitas. A norte e a sul as telecomunicações deixaram de funcionar devido à falta de combustível e a fome pode ser o próximo grande inimigo da população.

Os serviços de telefone e de internet entraram em colapso na Faixa de Gaza, com os operadores locais, Paltel e Jawwal, a explicarem que tal se deve ao fim de “todas as fontes de energia”. Além das consequências óbvias, outra é digna de registo: a agência da ONU no enclave, UNRWA, anunciou que sem comunicações não é possível a coordenação para a entrada de camiões com ajuda humanitária.

A falta de combustível obrigou também a que a última padaria que estava em funcionamento das 130 existentes em Gaza encerrasse portas. “Com o inverno a aproximar-se rapidamente, os abrigos inseguros e sobrelotados e a falta de água potável, os civis enfrentam a possibilidade imediata de morrer à fome”, afirmou a diretora do Programa Alimentar Mundial da ONU, Cindy McCain, para a qual a “única esperança é abrir outra passagem segura” para levar alimentos.

No complexo do hospital al-Shifa, as forças israelitas alegam ter encontrado um túnel do Hamas. Informaram também ter recuperado o cadáver de uma refém, Yehudit Weiss, nas imediações do hospital. Noutras comunicações, os militares dizem ter encontrado armas no hospital al-Quds e um túnel no hospital Rantisi.

“Ganhámos o controlo da parte ocidental da cidade de Gaza”, afirmou o ministro da Defesa Yoav Galant, que anunciou a entrada “na próxima fase” da invasão, sem explicar quais as próximas operações, embora os avisos à população de Khan Yunis falem por si.

Tensão à vista em Berlim

O presidente turco visita esta sexta-feira a Alemanha, e as previsões são de encontros tensos com o presidente Frank-Walter Steinmeier e com o chanceler Olaf Scholz. Recep Tayyip Erdogan tem sido uma das vozes mais críticas de Israel, ao passo que Berlim, por razões históricas, tem mantido um apoio total a Telavive. Ao contrário de vários líderes europeus, o chefe do governo alemão tem mostrado oposição a um “cessar-fogo imediato”.

Antes de viajar para Berlim, Erdogan não deixou nada por dizer. Na sua opinião o Hamas não é uma organização terrorista, como reconhecido pela UE e Estados Unidos, mas um partido político, disse que Israel é um “estado terrorista” e pediu para que o Tribunal Penal Internacional julgue os líderes israelitas. “Enquanto amaldiçoamos o governo israelita, não esquecemos aqueles que apoiam abertamente estes massacres e aqueles que se esforçam por os legitimar”, afirmou perante os deputados turcos, apontando para os EUA e outros aliados de Israel.

Noutra ocasião, Erdogan acusou o governo de Telavive de “fascismo” – um “absurdo”, segundo Scholz. Também Netanyahu respondeu, ao dizer que “ele próprio [Erdogan] bombardeou aldeias turcas dentro das fronteiras da Turquia. Não aceitamos a sua prédica”, afirmou o primeiro-ministro israelita em referência aos ataques a localidades curdas.

Ao contrário de visitas anteriores, desta vez o líder turco não terá palco para a sua retórica inflamada e, ao contrário do que chegou a estar previsto, não irá assistir ao jogo de futebol entre as seleções dos dois países, que se realiza no sábado.

Fonte: dn.pt por cesar.avo@dn.pt

Notícias Relacionadas
Continue Lendo
Rede Jovem News