Espanha – Maioria de Sánchez esconde divisões, tensão na rua e não é “cheque em branco”

Líder socialista conseguiu os esperados 179 votos favoráveis e toma hoje posse para o novo mandato. Nos próximos dias dará a conhecer o novo Governo de coligação. Amanhã está previsto mais um protesto em Madrid contra a amnistia aos independentistas catalães.

A maioria absoluta que Pedro Sánchez conseguiu na sua investidura para um novo mandato à frente do Governo espanhol esconde uma profunda divisão, deixada desde logo clara nos alertas que os vários partidos que deram o seu voto ao líder socialista fizeram questão de fazer. O apoio na investidura não é um “cheque em branco”, lembraram os independentistas bascos do Bildu, com os independentistas catalães do Junts a dizer que se não houver “progresso” no que foi acordado, então não vão apoiar qualquer proposta do Governo. Ainda antes disso, o Sumar – parceiro de coligação do PSOE – ameaça dividir-se e as ruas, incentivadas pela direita, prometem não dar descanso a Sánchez. Uma nova manifestação está marcada para sábado.

O líder da oposição, Alberto Núñez Feijóo, foi um dos primeiros a cumprimentar Sánchez no hemiciclo, depois de serem conhecidos os resultados da votação de investidura – os esperados 179 votos a favor, uma maioria absoluta dos 350 possíveis, contra 171. Feijóo confirmou aos jornalistas que disse a Sánchez que está a cometer um “erro”, mas que “ele é responsável pelo que acaba de fazer” – em causa está a amnistia para os dirigentes independentistas catalães.

“Aos 179 deputados e deputadas que comprometeram o seu voto e que representam mais de 12,6 milhões de cidadãos que no passado 23 de julho decidiram seguir, avançar em vez de retroceder. Muito obrigado”, escreveu Sánchez no X (antigo Twitter), colocando os agradecimentos nas quatro línguas cooficiais em Espanha.

O líder socialista, que toma posse para o novo mandato hoje às 9h00 de Lisboa, conseguiu uma maioria absoluta na primeira votação. Além do PSOE, teve o apoio dos deputados do Sumar, de Yolanda Díaz, da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), do Junts per Catalunya, do Bildu, do Partido Nacionalista Basco (PNV), do Bloco Nacionalista Galego e da Coligação Canárias. “Frente ao seu ódio, a nossa alegria”, escreveu Yolanda Díaz na rede social X , publicando uma foto com Sánchez e a legenda “Venceu a maioria do sim”.

Mas os desafios que tem pela frente ficaram claros nos vários avisos que os porta-vozes dos partidos que o apoiaram deixaram no púlpito. A porta-voz do Bildu, Mertxe Aizpurúa, por exemplo, lembrou que o apoio dos independentistas bascos não é um “cheque em branco” e exigiu avanços na área do soberania e dos direitos sociais. Também o PNV, adversário do Bildu, avisou que não aceitará imposições de outros. “A experiência da legislatura anterior diz-nos que, em vez de partilharem uma visão conjunta, alguns grupos pensaram que tinham o direito de desenvolver todo o seu programa eleitoral e o resto de nós teve que chegar até eles através de factos consumados e isso acabou”, disse Aitor Esteban.

Divisões no Sumar?

E a lua de mel de Sánchez à frente do Governo promete ser curta, havendo já divisões dentro do Sumar de Yolanda Díaz – a sua parceira de coligação. A aliança à esquerda do PSOE reúne 16 partidos e espera conseguir cinco ministérios, apesar de as negociações não estarem ainda fechadas. A expectativa é que os nomes do Governo vão sendo conhecidos ao longo do dia de hoje ou no fim de semana.

Um desses partidos do Sumar é o Podemos. “Ainda há tempo para retificar que se corrija o possível veto ao Podemos no Governo”, disse ontem a secretária-geral, Ione Belarra, atual ministra dos Direitos Sociais, alegando que o PSOE prefere “uma esquerda dócil”. Na véspera, o ex-líder Pablo Iglesias, que nunca teve uma relação fácil com Sánchez, tinha dito que o Podemos iria atuar de forma independente no Congresso. Caberá a Yolanda Díaz conseguir manter unido o Sumar, sabendo que o Governo depende de todos os votos.

Outro desafio para Sánchez virá das ruas, onde a tensão aumenta. Ontem, deputados socialistas foram atingidos com ovos à saída de um café próximo do Congresso. As manifestações contra a amnistia têm sido diárias diante da sede do PSOE, na Rua Ferraz, tendo sido convocada uma grande manifestação para sábado em Madrid. Feijóo já confirmou que estará presente. Ontem, o porta-voz dos socialistas no Congresso, Patxi López, deixou um aviso ao PP: “Não continuem a alimentar a besta porque ela acabará por vos devorar.”

Portugal como exemplo

A instabilidade política em Espanha ameaça ter consequências económicas. Ontem, o presidente da Mercadona, Juan Roig, avisou que a divisão entre os espanhóis “não é nada boa nem para a economia, nem para Espanha”. E usou Portugal para dar um exemplo: “Se este mesmo problema que temos em Espanha tivéssemos em Portugal, onde a Mercadona está em plena expansão, abrandaríamos os investimentos, e isso não pode acontecer”. Roig, que falou num fórum sobre o Corredor do Mediterrâneo, afirmou que os empresários e os trabalhadores “são os que geram riqueza no país e postos de trabalho” e insistiu que é necessário “um quadro de estabilidade”.

O primeiro-ministro português, António Costa, foi um de vários líderes europeus que felicitaram Sánchez pela reeleição.”Estou certo de que continuará a trabalhar para o desenvolvimento das relações entre Portugal e Espanha, em particular das regiões transfronteiriças”, escreveu Costa no X.

Fonte: dn.pt por susana.f.salvador@dn.pt

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