O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, estabeleceu dois objetivos para a guerra na Faixa de Gaza. A primeira era “eliminar o Hamas, destruindo as suas capacidades militares e de governo”. A segunda era fazer “tudo o que é possível” para que os cerca de 240 reféns que o grupo terrorista palestiniano fez no ataque de 7 de outubro pudessem voltar a casa.
O primeiro objetivo está bem encaminhado, com o ministro da Defesa, Yoav Gallant, a dizer esta terça-feira que as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) já estão na segunda fase da guerra, controlando todo o norte do enclave palestiniano. Mas em relação aos reféns, as notícias não têm sido boas, com a confirmação de mortes, só cinco libertações em quase 40 dias de guerra e conversas de um acordo que ainda não se concretizou.
“Aguentem, estamos a chegar”, disse o presidente norte-americano, Joe Biden, confiante de que esse acordo é possível. Mas não revelou mais pormenores. “Se e quanto houver algo concreto a relatar, fá-lo-emos”, indicou Netanyahu no X (antigo Twitter), reiterando que o seu coração está sempre com os reféns e as famílias e está a trabalhar sem descanso para a sua libertação.
Esta terça-feira, o Gabinete de Guerra de Israel esperava uma atualização sobre as negociações, depois de o diretor do Shin Bet (a secreta interna israelita), Ronen Bar, ter reunido com o seu homólogo egípcio, Abbas Kamel. Em cima da mesa estará um acordo que prevê a libertação de dezenas de civis em troca de mulheres e crianças palestinianas que estão presas em Israel, uma trégua humanitária e a entrada de combustível e mais ajuda humanitária na Faixa de Gaza, segundo o jornal israelita Haaretz.
O Hamas acusa Israel de travar o acordo, algo que os israelitas negam. Esta terça-feira, as famílias e amigos dos cerca de 240 reféns iniciaram uma marcha de protesto de cinco dias, de Telavive até Jerusalém, para exigir que o governo faça mais por aqueles que estão nas mãos do grupo terrorista palestiniano – que vão desde bebés com nove meses até idosos com mais de 80 anos. Israel confirmou a morte de uma das reféns, a soldado Noa Marciano, de 19 anos, com o Hamas a alegar que ela foi morta num dos bombardeamentos israelitas.
Após o ataque surpresa do grupo terrorista palestiniano, que segundo Israel terá causado a morte a 1200 pessoas – oficialmente estão identificados os corpos de 859 civis e fala-se em 318 militares mortos -, as autoridades israelitas responderam com bombardeamentos e uma invasão terrestre na Faixa de Gaza. De acordo com os números do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, mais de 11 mil palestinianos já foram mortos, incluindo 4600 crianças.
Guterres alvo de críticas
O chefe da diplomacia israelita, Eli Cohen, reiterou que António Guterres “não merece estar à frente das Nações Unidas”. Israel intensificou os ataques contra o secretário-geral da ONU, que acusa de não fazer o suficiente para condenar o Hamas e de ser próximo do Irão – “um país que defende a destruição de Israel, que não deveria ser membro das Nações Unidas, mas pode ver-se como Guterres se senta com eles”. O português voltou a pedir um cessar-fogo.
“Penso que Guterres, tal como todos os países livres, devia dizer de forma clara e bem alto: libertem Gaza do Hamas. Toda a gente disse que o Hamas é pior do que o Estado Islâmico. Porque é que ele não o pode dizer?”, questionou Cohen numa conferência de imprensa dentro do edifício da ONU, em Genebra, onde esteve reunido com representantes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Cruz Vermelha Internacional.
O porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, disse que Guterres apelou “a bem da humanidade” a um “cessar-fogo humanitário imediato”. O secretário-geral, acrescentou, está muito preocupado com “a dramática perda de vidas” nos hospitais em Gaza. Segundo a OMS, das 36 instalações médicas do enclave palestiniano, só 14 se mantêm operacionais. O Hamas, que controla o território, diz que só dez é que estão a funcionar. Na zona norte da Faixa de Gaza, apenas um – o de Al Ahli, onde ainda estarão cerca de 500 doentes.
A OMS tinha dito mais cedo que o maior hospital da cidade, o Al Shifa (no centro do enclave, é “quase um cemitério”, havendo relatos de que as pessoas que estão presas no interior se preparam para enterrar os corpos em valas comuns. Israel alega que o Hamas tem um dos seus postos de comando por baixo do hospital, com os EUA a dizer que as suas informações apontam no mesmo sentido.
Fonte: dn.pt por susana.f.salvador@dn.pt
Foto: © AHMAD GHARABLI / AFP