“Hesitei em vir manifestar-me atrás das bandeiras francesas e dos políticos de direita, mas a importância da luta contra o antissemitismo prevaleceu”, disse à AFP Nathalie Cassard, 53 anos, uma eleitora de esquerda que fez parte dos 105 mil parisienses que desfilaram na marcha Pela república, contra o antissemitismo.
Outras manifestações decorreram em Lyon, Bordéus, Estrasburgo e Nice e foram marcadas pela controvérsia porque o partido de Marine Le Pen se juntou (o seu pai foi condenado por declarações antissemitas, mas a líder da União Nacional sempre disse que o antissemitismo era uma linha vermelha a não cruzar pelos seus militantes), o que levou a França Insubmissa de Jean-Luc Mélenchon, por sua vez também criticada pela ambivalência face ao antissemitismo, a boicotar a iniciativa.
Na primeira fila da marcha esteve a primeira-ministra Élisabeth Borne, os presidentes da Assembleia Nacional (a iniciativa foi convocada pela presidente Yaël Braun-Pivet) e do Senado, e os anteriores chefes de Estado Nicolas Sarkozy e François Hollande. O atual não participou, pelo que recebeu algumas críticas, mas num artigo publicado na véspera no Le Parisien Emmanuel Macron condenou o “insuportável ressurgimento do antissemitismo desenfreado” e pediu para que a França se una “sob os seus valores e o seu universalismo”.
Desde 7 de outubro, as autoridades registaram mais de 1200 atos antissemitas em França. Entre estes, há cerca de 200 mensagens pró-Hamas ou de apoio explícito aos atos terroristas do grupo islamista.
“Quando se sabe que, num mês, se registaram três vezes mais atos antissemitas do que em todo o ano de 2022, é preciso agir”, considerou o senador Bruno Retailleau, de Os Republicanos (centro-direita).
Entre os anónimos manifestantes, judeus admitiram sentir medo e terem de ocultar sinais exteriores que os identifiquem. “Nunca na minha vida teria pensado em participar neste tipo de marcha”, disse Jérôme, um “judeu laico” de 54 anos. “É como reabrir cicatrizes com 3 000 anos.”
Abderrahim, de 39 anos, foi um dos muçulmanos que quiseram juntar-se à denúncia do antissemitismo. “Se somos muçulmanos a sério, temos de vir”, declarou, para depois considerar que os que não saem à rua “têm medo de ser vistos como traidores”.
Fonte: dn.pt