Macron e protestos na Europa juntam voz ao clamor do islã para um cessar-fogo

Líderes aliados de Israel e centenas de milhares nas ruas criticam a estratégia de Telavive e exigem fim das hostilidades. Países árabes e islâmicos querem uma conferência internacional para lançar as bases da paz e de uma Palestina independente e soberana.

Cada dia que passa a situação humanitária agrava-se em Gaza – a começar pelos hospitais – e, em paralelo, o apoio a Israel esbate-se, as críticas sobem de tom e aliados e inimigos declarados coincidem na necessidade de Telavive parar as operações militares. O presidente francês pediu para os israelitas pararem com os bombardeamentos horas antes de a capital francesa, mas também a belga e a inglesa serem palco de manifestações multitudinárias nas quais se exigiu o fim das hostilidades e o estabelecimento do Estado da Palestina. Sem surpresa, foram também essas as conclusões de uma cimeira extraordinária ocorrida em Riade que juntou chefes de Estado e de governo dos países islâmicos e árabes.

Em entrevista à BBC, Emmanuel Macron recentrou o apoio de França a Israel. Reconhecendo o direito daquele país a proteger-se e nunca deixando de condenar as ações terroristas do Hamas, o chefe de Estado disse que “não há justificação” para os ataques à Faixa de Gaza, tendo por isso instado os israelitas para “pararem estes bombardeamentos”. Sem querer entrar em discussões jurídicas sobre possíveis crimes de guerra, Macron declarou: “De facto, hoje, os civis são bombardeados. Estes bebés, estas senhoras, estes idosos são bombardeados e mortos. Não há razão para isso e não há legitimidade. Por isso, exortamos Israel a parar.”

A entrevista de Macron teve lugar quando decorria a iniciativa anual pela paz de França, Paris Peace Forum, depois de na Índia o secretário de Estado norte-americano Antony Blinken ter admitido que na estratégia israelita para combater o Hamas “foram mortos demasiados palestinianos”. Às observações do presidente francês, o primeiro-ministro israelita respondeu de forma célere: “Os crimes que o Hamas comete hoje em Gaza serão cometidos amanhã em Paris, Nova Iorque e em qualquer parte do mundo”, afirmou Benjamin Netanyahu em comunicado.

Os reparos dos aliados foram também ouvidos em Telavive. A ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Annalena Baerbock, ao lado do homólogo, Eli Cohen, disse que Israel tem de “respeitar o direito humanitário internacional e a obrigação de distinguir entre objetivos civis e militares”. Além disso, reiterou o sentido de urgência da assistência humanitária a Gaza. Mas também apontou para a Cisjordânia, que “não deve ser arrastada para este turbilhão de violência”, alertou. As autoridades israelitas têm conduzido operações militares no território, nas quais cerca de 180 palestinianos foram mortos.

Tensão em Londres

Nas ruas da Europa centenas de milhares mostraram opor-se à operação militar israelita. A maior manifestação decorreu em Londres, na qual 300 mil pessoas se juntaram, segundo a polícia. A tensão estava ao rubro porque o governo não queria que a comemoração do dia do Armistício da I Guerra Mundial coincidisse com a marcha pró-Palestina. Mas o chefe da polícia disse não haver bases para a proibição da mesma, e em resposta a ministra do Interior Suella Braverman assinou um artigo no The Times em que criticou a polícia que tutela e os participantes das manifestações anteriores (que foram pacíficas), tendo dito que naquelas “turbas” cheias de “manifestantes do ódio” e “islamistas” há simpatizantes com o terrorismo.

Coincidência ou não, houve uma contramanifestação da extrema-direita, a qual se envolveu em distúrbios com a polícia, que deteve cerca de cem pessoas. No final, Sunak condenou as “cenas inaceitáveis” nas ruas de Londres. “Isso é verdade para os rufias da English Defence League que atacaram agentes da polícia e invadiram o Cenotáfio, e é verdade para aqueles que entoaram cânticos antissemitas e brandiram cartazes e roupas pró-Hamas no protesto”, reagiu.

“Parem o massacre em Gaza e na Cisjordânia. Cessar-fogo imediato”, era a mensagem da faixa que abriu a manifestação em Paris, convocada por partidos e associações de esquerda e de extrema-esquerda. Terá sido a maior concentração pró-Palestina em França em solidariedade com os palestinianos desde o início da guerra Israel-Hamas. As manifestações começaram por ser proibidas pelo ministro do Interior, Gérald Darmanin, tendo invocado o perigo de desordem pública e do antissemitismo que poderia estar associado, mas um tribunal superior disse que a autorização ou proibição tem de ser analisado caso a caso.

Em Bruxelas, a polícia contou mais de 20 mil participantes na chamada marcha europeia pela Palestina, na qual se apelou para a União Europeia e os seus Estados-membros exigirem um cessar-fogo imediato no conflito.

Outros protestos decorreram em Edimburgo, Barcelona, Santander ou Pamplona.

Frente unida

Reunidos na capital da Arábia Saudita, líderes de países árabes e islâmicos – incluindo Ebrahim Raisi, no que foi a primeira visita de um presidente iraniano a Riade em 11 anos – assinaram uma declaração na qual “recusam-se a caracterizar esta guerra como autodefesa ou a justificá-la sob qualquer pretexto”. Os países da Organização de Cooperação Islâmica e da Liga Árabe exigem o fim imediato do conflito na Faixa de Gaza, o aumento da assistência humanitária e garantias de que Israel será responsabilizado pelos seus crimes.

A declaração afirma que o único caminho para a paz é a criação de um Estado palestiniano independente com Jerusalém Oriental como capital, mas para tal tem de se realizar antes uma conferência internacional de paz para lançar um “processo credível baseado no direito internacional” para acabar com “a ocupação israelita do território palestiniano”.

No norte de Gaza, esvaziado em 200 mil pessoas nos últimos três dias, segundo o exército israelita, o maior hospital deixou de ter energia nem combustível, quando há 39 bebés em incubadoras e pelo menos dois bebés prematuros morreram, segundo a ONG israelita Médicos pelos Direitos Humanos. As forças israelitas disseram que iriam ajudar à transferência dos bebés para outra unidade e desmentiram que estejam a alvejar quem saia do al-Shifa.

Fonte: dn.pt por cesar.avo@dn.pt

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