Enquanto os cinco candidatos no palco do terceiro debate dos republicanos, em Miami, trocavam ataques e procuravam mostrar aos eleitores que são a melhor opção para desafiar o domínio de Trump na corrida à nomeação do seu partido para as presidenciais de 2024, o ex-presidente voltava a evitar o confronto com os rivais, apostando antes num comício – a apenas 18 quilómetros dali. Uma escolha que já fizera nos dois anteriores debates, confiante que a sua vantagem nas sondagens é tal que nem vale a pena estar presente. E os números parecem dar-lhe razão.
Guerra entre Israel e Hamas, Ucrânia, aborto, economia, foram muitos os temas debatidos num confronto tenso entre Ron De Santis, Nikki Haley, Vivek Ramaswamy, Tim Scott e Chris Christie – os candidatos que se qualificaram para este debate da NBC depois de o Comité Nacional Republicano ter subido a fasquia mínima para os 4% nas sondagens e os 70 mil doadores únicos em 20 estados ou mais, deixando de fora o governador do Dakota do Norte, Doug Burgum, e o ex-governador do Arkansas Asa Hutchinson. Só um assunto os uniu: o ataque a Trump. E mesmo este foram menos agressivos do que nos debates anteriores.
“Quem vai passar a próxima semana e meia a tentar evitar a prisão e os tribunais não pode dirigir este partido ou este país”, afirmou o ex-governador de New Jersey Chris Christie, referindo-se aos problemas judiciais de Trump. Já DeSantis, longínquo segundo nas sondagens (com 18% face aos 61% do ex-presidente, segundo o último estudo da CBS News) garantiu que “Trump é um homem muito diferente daquilo que era em 2016”, instando-o a aparecer para se explicar aos eleitores republicanos. Mas o governador da Florida nem dedicou ao assunto mais de 30 segundos, nem chegou ao ponto de acusar o milionário de não ter “tomates” para aparecer nos debates, como fizera nos dias anteriores.
E os restantes candidatos foram ainda menos agressivos. Questionado porque se considera melhor candidato do que Trump, o empresário Ramaswamy optou por culpar a presidente do Comité Nacional Republicano, Ronna McDaniel, e não Trump, pelas sucessivas derrotas do partido nas eleições. As últimas na passada terça-feira na Virgínia, Pensilvânia e Ohio.
A ex-embaixadora na ONU Nikki Halei fez uma breve referência à dívida nacional, que se acumulou no mandato de Trump, enquanto o senador da Carolina do Sul Tim Scott preferiu focar-se na necessidade de os republicanos ganharem votos entre os independentes. E se atacar alguém que não está em palco é sempre mais complicado, a AP conclui que nenhum dos rivais de Trump “se esforçou muito” e que o debate de quarta-feira só veio confirmar que não participar pode ter sido uma decisão acertada.
Até porque se não viraram os ataques mais duros contra ele, os cinco candidatos em palco não hesitaram em se lançar uns contra os outros. Sobretudo Haley e Ramaswamy. A ex-embaixadora na ONU e o empresário, os dois filhos de imigrantes indianos, foram trocando picardias até ao momento em que Haley decidiu não responder a uma pergunta sobre proibir o Tik-Tok para rebater os argumentos do rival. E Ramaswamy partiu para o ataque pessoal, acusando: “A sua própria filha usou a aplicação durante muito tempo, por isso se calhar devia começar por resolver isso.” O que levou Haley a pedir ao adversário para “deixar a minha filha fora disto” e a chamar-lhe “escumalha”.
Com o seu estilo combativo, Ramaswamy conseguiu destacar-se nos três debates, mas tal não se tem refletido nas sondagens, onde continua a não passar dos 5%.
A dez semanas do início do processo das primárias no Ohio, e apesar dos quatro processos contra ele em tribunal, Trump continua a contar com o apoio, aparentemente incondicional, da sua base. Num comício numa localidade próxima de Miami, o ex-presidente dedicou pouco a falar sobre os seus adversários. Rodeado de apoiantes envergando os bonés vermelhos com a sigla MAGA – Make America Great Again, Trump preferiu focar-se já no seu provável duelo com o presidente Joe Biden nas presidenciais do próximo ano. “O problema dele não é a idade. O problema é que ele é completamente incompetente”, disse sobre o rival democrata que estará prestes a fazer 82 anos se for reeleito. O próprio Trump terá 78.
Fonte: dn.pt