O ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, anunciou neste sábado que já foram mortos 12 comandantes do Hamas desde o início da guerra, mas que ainda falta eliminar o líder do grupo na Faixa de Gaza. “Vamos chegar a Yahyan Sinwar e eliminá-lo. Se os residentes de Gaza chegarem lá antes de nós, isso vai encurtar a guerra”, afirmou numa conferência de imprensa, mostrando uma fotografia de Sinwar e convidando os palestinos a matarem-no.
Pouco depois do ataque surpresa do Hamas a Israel, em 7 de outubro, em que morreram 1.400 pessoas, as autoridades israelitas já tinham dito que Yahyan Sinwar e Mohammed Deif, o comandante máximo das Brigadas Al-Qassam (a ala armada do grupo terrorista palestino), eram os alvos a abater. Ambos estarão escondidos na rede de túneis que cruza a Faixa de Gaza e que foram construídos para aguentar os bombardeamentos de Israel. Desde o início da guerra, estes já terão causado a morte de quase 9.500 pessoas (um terço delas crianças), segundo os números do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.
“No final da guerra não haverá mais Hamas em Gaza”, insistiu o ministro da Defesa. “Não haverá mais uma ameaça de segurança de Gaza a Israel e Israel terá liberdade absoluta para empreender qualquer ação de segurança que precisar contra quem quer que levante a sua cabeça em Gaza [para ameaçar Israel]”, acrescentou Gallant, que confirmou um total de 28 mortos entre os militares israelitas desde o início da ofensiva terrestre.
O avanço das tropas israelitas prossegue na Faixa Gaza, incluindo uma incursão durante a noite na zona sul. A cidade de Gaza está alegadamente cercada há vários dias e continuam também os bombardeamentos. Nesse sábado, segundo o Hamas, pelo menos 15 pessoas morreram e 70 ficaram feridas num ataque à escola das Nações Unidas de Al-Fakhura, no campo de refugiados de Jabalia. A escola “é usada como abrigo para famílias deslocadas”, segundo a Agência da ONU para os refugiados palestinos. “Pelo menos um ataque atingiu o recreio onde havia tendas para famílias deslocadas. Outro atingiu a escola onde as mulheres estavam fazendo pão”, indicaram em comunicado.
Israel não tinha nesse sábado assumido a autoria deste ataque, ao contrário do da véspera contra uma ambulância que estaria à entrada do hospital Al-Shifa. A Força de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) alega que as ambulâncias estão sendo usadas pelos terroristas do Hamas, tendo sido um deles o alvo do bombardeamento. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, escreveu no Twitter (rebatizado X) estar “horrorizado” com o ataque contra a ambulância, sendo de novo criticado pelo embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, que diz que ele “ignora completamente o fato de o Hamas usar intencionalmente as ambulâncias com fins terroristas”.
Nesse sábado, as autoridades de Gaza (controladas pelo Hamas) suspenderam as saídas de estrangeiros e cidadãos com dupla nacionalidade pela fronteira de Rafah, a única com o Egito, depois de Israel recusar a saída dos palestinos feridos para serem tratados nos hospitais egípcios. A Casa Branca revelou na sexta-feira que um terço dos nomes na lista de feridos a ser transferido, fornecida pelo Hamas, era de combatentes e membros do grupo terrorista, explicando que isso era “inaceitável para o Egito, para os EUA e para Israel”. A fronteira teria estado por isso fechada a todas as saídas, apesar de ter continuado a entrar ajuda humanitária – pelo menos 30 caminhões.
Por todo o mundo repetem-se os apelos a um cessar-fogo, seja em manifestações – incluindo em Israel – mas também à volta de mesas diplomáticas. O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, reuniu-se nesse sábado em Amã com os chefes da diplomacia de cinco países árabes – Jordânia, Arábia Saudita, Qatar, Egito e Emirados Árabes Unidos – , que defendem um cessar-fogo imediato. Mas os EUA insistem que este só daria tempo ao Hamas e defendem apenas “tréguas humanitárias”, sendo que na véspera o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, rejeitou-as sem a libertação prévia dos cerca de 240 reféns que o Hamas levou para a Faixa de Gaza.
A Turquia anunciou, entretanto, ter retirado o seu embaixador de Israel, com o presidente Recep Tayyip Erdogan dizendo que considera Netanyahu pessoalmente responsável pelas mortes de civis em Gaza. “Netanyahu já não é alguém com quem podemos falar”, teria dito. Antes da guerra em Gaza, Ancara tinha vindo a aproximar-se de Israel – Erdogan reuniu pela primeira vez com o primeiro-ministro israelita em Nova Iorque, em setembro. Blinken estará hoje e amanhã na Turquia, não estando ainda confirmado um encontro com o presidente turco.
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