Aumentou nas últimas horas a pressão interna e externa para que o governo de unidade nacional israelita consiga a libertação dos mais de 230 reféns, com o Hamas a divulgar um vídeo com três mulheres, no qual uma delas pede a sua libertação em troca de todos os prisioneiros palestinianos. O primeiro-ministro israelita prometeu tirar todos do cativeiro – no dia em que uma refém foi extraída e em que se soube que outra morreu – e descartou a hipótese de um cessar-fogo, tendo comparado os ataques terroristas de dia 7 ao bombardeamento de Pearl Harbor.
“Vocês causaram-nos tanto dano que nunca serão capazes de compensá-lo, pelo que o menos que podem fazer é salvar todos que podem ser salvos a qualquer preço”, disse uma familiar de um refém do Hamas, no domingo à noite, quando o ministro da Defesa de Israel se encontrou com famílias afetadas com os raptos de dia 7. Yoav Gallant ouviu críticas e pedidos para que o governo aceda às condições do Hamas: libertação de todos os reféns (os islamistas afirmam manter entre 200 e 250 pessoas, Telavive diz que são mais de 230) por todos os prisioneiros palestinianos.
Há dias, o responsável da Autoridade Palestiniana pelos prisioneiros palestinianos, Qadura Farès, estimava em declarações citadas pela Al Jazeera que o número de reclusos é superior a dez mil, quando em julho era metade. Mas Gallant recusou o pedido dos familiares, alegando que as condições não o permitem e que o objetivo do Hamas é o de criar divisões e desconfiança no governo. A resposta, afirmou, está no nível de pressão em Gaza. “Quanto maior a pressão, maiores as hipóteses.”
Horas depois, foi a vez do Hamas empurrar a pressão para Telavive ao divulgar um vídeo com três reféns. Em pouco mais de um minuto, a mulher que está ao meio, mais tarde identificada como Daniel Aloni, dirigiu-se em hebraico a Netanyahu: “Prometeste libertar-nos a todos. Em vez disso, sofremos o teu fracasso político e militar.”
A refém, que foi raptada com a filha quando visitavam a família no kibutz Nir Oz, recordou que ninguém das forças de segurança foi em auxílio daquela comunidade, para depois perguntar qual é o objetivo das operações terrestres em Gaza: “Querem matar-nos a todos com um exército?”. Depois de dizer que estão a ser mantidas em “condições insuportáveis”, Aloni, cada vez mais emocionada, termina com um apelo para a imediata libertação de todos os prisioneiros palestinianos. “Libertem-nos a todos. Deixem-nos voltar para as nossas famílias!”. Em resposta, Netanyahu classificou o vídeo como “cruel propaganda psicológica”, identificou cada uma das reféns – as outras duas são Yelena Trupanova e Rimon Kirsht – e prometeu “trazer para casa todas as pessoas raptadas e desaparecidas”.
No mesmo dia, sortes diferentes para duas raptadas. A soldada Ori Megidish foi extraída de Gaza numa operação noturna e, segundo o exército israelita, encontra-se bem de saúde. Já Shani Louk, uma germano-israelita de 23 anos raptada quando participava num festival de música em 7 de outubro, foi dada como morta pelo governo israelita. Segundo o Haaretz, o Instituto de Medicina Legal identificou um osso recolhido no local do festival como sendo da base do crânio de Louk e que o fragmento indicava uma lesão à qual não poderia sobreviver.
Netanyahu recebeu o apoio do anterior primeiro-ministro, Yair Lapid, sobre “qualquer decisão” para libertar os raptados. “Daremos todo o nosso apoio a qualquer decisão e iniciativa, a qualquer preço, que leve ao retorno dos reféns”, disse o líder da oposição, que ao mesmo tempo apelou para a execução dos principais dirigentes do Hamas. Em conferência de imprensa, Netanyahu mostrou-se satisfeito com os “progressos sistemáticos” alcançados pelos militares em Gaza e desfez qualquer dúvida sobre os apelos para “pausas humanitárias”.
“Os apelos para um cessar-fogo são apelos para que Israel se renda ao Hamas. Isso não acontecerá”, garantiu, tendo comparado a situação com apelos para os Estados Unidos concordarem com uma trégua após terem sido atacados em Pearl Harbor pelos japoneses. Netanyahu, líder de um governo com 20% de apoio dos eleitores, sacudiu a pergunta sobre se iria demitir-se : “A única coisa que eu vou fazer com que se demitam é o Hamas. Vamos mandá-los para o caixote do lixo da história. É esse o meu objetivo. É essa a minha responsabilidade.”
Fonte: dn.pt por cesar.avo@dn.pt





