Israel expande ofensiva enquanto ONU pede uma “trégua humanitária”

Militares israelitas prometiam mais uma noite de bombardeamentos e de incursões na Faixa de Gaza, com palestinianos a dizer que a "resistência está preparada". Na Assembleia Geral da ONU, foi aprovada uma resolução da Jordânia que não tem a palavra "refém" ou "Hamas".

As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) anunciaram na sexta-feira à noite que as “forças terrestres” iam “expandir” a “atividade ofensiva” dos últimos dias, marcada por incursões limitadas na Faixa de Gaza com tanques e homens para atacar alvos do Hamas. O grupo terrorista respondeu dizendo que a “resistência está preparada”. A informação da expansão da ofensiva, avançada pelo porta-voz das IDF, o contra-almirante Daniel Hagari, surgiu quando a Assembleia Geral das Nações Unidas se preparava para aprovar uma resolução que pedia uma “trégua humanitária imediata” em Gaza. E quando a União Europeia já tinha pedido “pausas humanitárias” no conflito.

“Nas últimas horas aumentámos os ataques em Gaza. A Força Aérea ataca amplamente alvos subterrâneos e infraestruturas terroristas, de forma muito significativa. Na continuação da atividade ofensiva que realizámos nos últimos dias, as forças terrestres estão a expandir a atividade terrestre esta noite”, escreveu Hagari no Twitter (rebatizado X), após dar uma conferência de imprensa. “As IDF trabalham de forma poderosa em todas as dimensões para alcançar os objetivos da guerra”, acrescentou.

O anúncio surgiu depois do aumento dos bombardeamentos, aos quais o Hamas respondeu com o lançamento de mais rockets contra Israel. Ao princípio da noite, havia indicação de que as ligações telefónicas e de Internet tinham sido cortadas no território, com o Hamas a acusar Israel de “perpetrar massacres”. Confrontado com o anúncio da expansão da ofensiva, o Hamas disso contudo que “a resistência” estava “preparada”, avisando o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que “os restos dos seus soldados vão ser engolidos pela terra de Gaza”.

Mais cedo, o Hamas tinha também acusado Israel de “abrir caminho a um novo massacre a ser cometido contra” os palestinianos, depois de Hagari acusar o grupo terrorista de “travar a guerra a partir dos hospitais” de Gaza. Em causa as alegadas provas que apresentou de que os seus militantes estavam a atuar a partir do hospital de Shifa, o maior do enclave, escondendo inclusivamente ali combustível. Algo que o Hamas negou.

Três semanas depois do ataque surpresa do Hamas de 7 de outubro, que deixou 1400 mortos em Israel, a prometida ofensiva terrestre em Gaza parecia iminente. Isto depois de dias de bombardeamentos constantes, que terão causado mais de sete mil mortos no território palestiniano, segundo as contas do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.

O intensificar das ações israelitas surgia depois de se terem falado em avanços nas negociações para um eventual cessar-fogo e para a libertação dos mais de 200 reféns que o grupo terrorista levou para Gaza. A Al Jazeera tinha dito mais cedo que as negociações, mediadas pelo Qatar, estavam a “progredir e numa fase avançada”. Após o anúncio das IDF, responsáveis disseram à CNN que as negociações continuavam apesar de tudo.

Diplomacia

Enquanto as sirenes soavam na Faixa de Gaza e em Israel, nas Nações Unidas, a embaixadora dos EUA, Linda Thomas-Greenfield, reiterou na Assembleia Geral que “não há justificação para o terror” do Hamas. Mas insistiu também que “as vidas dos palestinianos têm que ser protegidas”, explicando que “os EUA deixaram claro em conversas públicas e privadas que Israel exerce o seu direito, de facto a sua responsabilidade, de defender o seu povo contra o grupo terrorista, mas deve fazê-lo ao abrigo das regras de guerra”.

Thomas-Greenfield criticou, como o embaixador israelita Gilad Erdan tinha feito na véspera, o texto da resolução a votação – preparado pela Jordânia em nome dos países árabes. A diplomata disse que havia duas palavras que faltavam: Hamas e reféns – apesar de reconhecer que se pede a libertação “imediata e incondicional” de todos os civis que estão “a ser ilegalmente mantidos em cativeiro”. Ainda assim, defendeu que “estas são omissões do mal e dão cobertura e fortalecem a brutalidade do Hamas”, alegando que “nenhum estado membro deve permitir que isso aconteça”. Os EUA apoiavam por isso uma emenda ao texto para corrigir essas “omissões gritantes”, mas esta não foi aprovada.

Na Assembleia Geral, ao contrário do que acontece no Conselho de Segurança, ninguém tem direito de veto. As resoluções (e as emendas) precisam do apoio de dois terços dos Estados membros para passar, mas não são vinculativas. A emenda teve apenas 88 votos a favor (incluindo o de Portugal), 55 contra e 23 abstenções.

A resolução da Jordânia pedia uma “trégua humanitária”, sendo que uma versão inicial falava de “cessar-fogo imediato”. O texto condenava “todos os atos de violência que têm como alvo os civis palestinianos e israelitas, incluindo todos os atos de terrorismo e ataques indiscriminados”, mas não mencionava o Hamas. A resolução foi aprovada com 120 votos a favor (incluindo de Portugal), 14 contra e 45 abstenções.

Também a União Europeia teve problemas em chegar a consenso em relação à linguagem. No final, os líderes dos 27 pediram a implementação de “corredores humanitários” e a adoção de “pausas por necessidades humanitárias”. O rascunho inicial usava o singular – “pausa humanitária”. Apesar de ter sido este o consenso, tanto o presidente francês, Emmanuel Macron, como o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, pediram uma “trégua humanitária”.

susana.f.salvador@dn.pt

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