Israel aumenta ataques a Gaza após chegada de ajuda humanitária e encontro da paz

Perante o anúncio de Telavive e a situação no terreno, cinco agências da ONU recordaram que a situação humana é catastrófica e que é necessária muito mais ajuda. Cimeira no Cairo mostrou divisões.

Vinte caminhões com ajuda humanitária entraram, por fim, na Faixa de Gaza. Um “passo importante”, como comentou o chanceler alemão Olaf Scholz, mas que por si só “não mudará as catastróficas condições médicas”, disse o Hamas, organização islamista que controla o território sob cerco israelita. Depois de um dia de discursos de chefes de Estado e de governo reunidos no Cairo numa cimeira para a paz, Telavive deu o sinal contrário ao anunciar a intensificação de ataques.

Durante o encontro na capital egípcia, o secretário-geral das Nações Unidas apelou para uma “trégua humanitária” na guerra entre Israel e os combatentes do Hamas, e exigiu “ações que ponham fim a este abominável pesadelo”. António Guterres afirmou que o enclave palestiniano está a viver “uma catástrofe humana”, com milhares de mortos e 1,4 milhões de deslocados na sequência da resposta das forças israelitas ao ataque terrorista de dia 7, que passou por cortar o acesso de bens essenciais, advertir a população para sair do norte, e bombardear o território densamente povoado. Segundo o último balanço das autoridades de Gaza, contavam-se 4469 mortos e mais de 13 mil feridos.

Mas o apelo de Guterres caiu em saco roto. Depois de na véspera o ministro da Defesa israelita Yoav Gallant ter explicitado que a operação militar contra o Hamas terá três fases, o porta-voz das forças armadas israelitas informou que o número de bombardeamentos vai aumentar. “Temos de entrar na próxima fase da guerra nas melhores condições, não de acordo com o que nos dizem. A partir de hoje [ontem], estamos a aumentar os ataques e a minimizar o perigo”, disse o almirante Daniel Hagari.

Este avolumar de ataques encaixa na primeira das três fases apresentadas por Gallant, com ataques aéreos e posteriormente “manobras israelitas”, a invasão terrestre para a qual estão mobilizados dezenas de milhares de soldados e centenas de tanques ao longo da fronteira de Gaza.

Com a presença de altos dignitários de duas dezenas de países, além do presidente do Conselho Europeu Charles Michel, e do chefe da diplomacia da UE Josep Borrell, a cimeira organizada pelo regime egípcio pôs a nu a incapacidade de reunir todas as partes relevantes – Israel e Estados Unidos não enviaram representantes – nem de se alcançar um texto consensual.

Apesar de os representantes europeus terem mostrado preocupação para com os civis palestinianos e para o cumprimento do direito humanitário internacional, estes terão exigido “uma condenação clara, colocando a responsabilidade pela escalada no Hamas”, o que os líderes árabes recusaram, segundo fontes consultadas pela AFP. Segundo o New York Times, o ponto de discórdia foi o direito à autodefesa de Israel.

Sem consenso, a presidência do Egito divulgou uma declaração aprovada pelos países árabes na qual se criticou os líderes mundiais por não estarem “à altura das mais baixas aspirações de um povo em sofrimento”. Já o rei da Jordânia não poupou críticas ao Ocidente. “A mensagem que o mundo árabe está a ouvir é muito clara. As vidas dos palestinianos são menos importantes do que as dos israelitas. As nossas vidas importam menos do que as vidas dos outros. A aplicação do direito internacional é opcional, e os direitos humanos têm limites: param nas fronteiras, param nas raças e param nas religiões”, apontou Abdullah II.

O dia tinha começado num tom mais otimista, quando duas dezenas de camiões com material médico, comida enlatada, cobertores e colchões tiveram autorização para passar a fronteira de Rafah. Há mais cem camiões em espera, insuficiente porém para atender a tanta gente. Segundo o diretor para as situações de emergência da OMS, Michael Ryan, seriam necessários 2 mil camiões com ajuda. A caravana não transportou combustível, água ou roupa. Antes de dia 7 passavam em média 500 veículos por dia naquele posto fronteiriço entre o Egito e Gaza.

Perante estes dados e na sequência do aviso de que Telavive iria intensificar os ataques, cinco agências das Nações Unidas afirmaram que a situação humana na Faixa de Gaza é “catastrófica”, tendo a OMS, UNICEF, Programa Alimentar Mundial, PNUD e o FNUAP apelado para uma maior ajuda internacional.

Sobre os reféns mantidos pelo Hamas, uma fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar disse ao jornal alemão Welt am Sonntag que poderão ser libertados “muito em breve”, em resultado de conversações em curso entre Doha e o Hamas.

Telaviv responde a Greta Thunberg

Detida na terça-feira, em Londres, numa manifestação à porta de um encontro de executivos da indústria do petróleo e do gás, a ativista Greta Thunberg publicou na sexta-feira uma foto, nas redes sociais, em que se declara estar “do lado de Gaza” (já antes, em 2021, tinha criticado ataques aéreos israelitas a Gaza).

Desta vez a conta oficial de Israel respondeu no X: “GretaThunberg, o Hamas não utiliza materiais sustentáveis para os seus foguetes, que já chacinaram israelitas inocentes. As vítimas do massacre do Hamas podiam ter sido os teus amigos. Manifesta-te.” Mas a jovem sueca, conhecida também pelos debates nas redes sociais com políticos, não deu troco.

Fonte: dn.pt por cesar.avo@dn.pt

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