Argentina – candidato da direita é favorito nas eleições presidenciais

Libertário Javier Milei é o favorito nas sondagens em plena crise de inflação e pobreza, face ao peronista Sérgio Massa e à conservadora Patricia Bullrich.

Os argentinos vão neste domingo às urnas para eleger o próximo presidente num clima de “desesperança”, com a inflação anual chegando aos 140% em setembro e 40% da população na pobreza. “Há mais de dez anos que a economia não cresce e há uma atribuição de culpa coletiva, para os peronistas e não peronistas”, disse ao DN o investigador do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, Andrés Malamud. Não é por isso de se estranhar que o favorito à vitória seja o candidato de ruptura Javier Milei. “Nestes dez anos governaram Cristina [Kirchner], [Maurício] Macri e Alberto [Fernández]. Não há ninguém do que ele apelida a ‘casta política’ que seja inocente”, explicou Malamud.

Quase 36 milhões de eleitores elegem o presidente e o vice-presidente, mas também metade dos deputados e um terço do Senado. O voto é obrigatório para quem tem entre 18 e 70 anos e opcional para os de 16 e 17 anos e os maiores de 70. Para evitar uma segunda volta a 19 de novembro, o candidato à presidência precisa ter 45% dos votos ou 40% e mais de dez pontos percentuais sobre o principal rival.

O economista libertário Milei, da coligação A Liberdade Avança, venceu as primárias de agosto com mais de 30% dos votos. E a maioria das sondagens diz que o representante da direita radical irá repetir essa vitória, com uma percentagem semelhante. A sua proposta mais falada é a da dolarização da economia, acabando com o Banco Central da Argentina, tendo também prometido rever a legalização do aborto – os seus princípios são “vida, liberdade e propriedade”.

Malamud explicou, contudo, que o mais disruptivo de Milei, congressista de 52 anos, é ele não ser nacionalista e ser antipapa. “A sua líder política mais apreciada no mundo é a [ex-primeira-ministra britânica] Margaret Thatcher, que ganhou a guerra das Malvinas. E chamou o Papa Francisco de comunista”, lembrou o investigador.

Logo atrás nas sondagens, com uma diferença inferior a um ponto percentual em algumas delas, está o candidato da coligação peronista União pela Pátria, o atual ministro da Economia Sérgio Massa. O presidente Fernández optou por não se recandidatar e esteve afastado da campanha, tal como a vice-presidente Kirchner. O advogado de 51 anos representa uma versão mais moderada do peronismo, prometendo reduzir a dívida e fortalecer as reservas do Banco Central para melhorar a economia.

“Massa é um milagre, porque é o ministro da Economia da quase hiperinflação mas é um candidato viável. E isso tem duas explicações. A primeira é que ele é muito esperto, mesmo muito hábil. E a segunda é que a oposição é muito incompetente”, disse Malamud, que milita num partido da coligação Juntos pela Mudança da conservadora Patricia Bullrich, a terceira nas sondagens – apesar de ter sido segunda nas primárias. As promessas da antiga ministra da Segurança de Macri, de 67 anos, passam por recuperar a “ordem”, cortar nos gastos e eliminar impostos sobre as exportações agrícolas.

“Este é o paradoxo da política argentina. Quem tem mais possibilidade de ganhar uma segunda volta frente a Milei é Bullrich, mas é a que tem menos possibilidade de chegar à segunda volta”, explicou o investigador do ICS. Nas sondagens, o eventual duelo Milei-Massa traduz-se num 41%-39,9%, já um Milei-Bullrich num 32,3%-37,4%. Malamud referiu ainda que não existe a possibilidade de união entre peronistas e conservadores contra o libertário para a segunda volta: “Milei não é visto como uma ameaça à democracia por parte importante das duas coligações. Não está sendo ostracizado”.

E se Milei ganhar? Qual será o cenário? “A hiperinflação é evitável, mas não é certo que seja evitada, porque Milei a está procurando. Ele tem um projeto de dolarização e, para isso, precisa que o peso não valha nada. E está conseguindo. Por outro lado, se ganhar, vai ter uma hperminoria no Congresso”, explicou Malamud. Atualmente, tem apenas três deputados, sendo que agora não se vai renovar totalmente a Câmara dos Deputados. “Ele precisa de um terço da Câmara para evitar um impeachment“, lembrou o investigador, alegando que “se não tiver uma blindagem, um escudo legislativo, será destituído. É a lei na América Latina”. E ninguém – nem o próprio Milei – parece disponível para alianças que permitam essa blindagem.

Fonte dn.pt por susana.f.salvador@dn.pt

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