Biden “inocenta” Israel de explosão no hospital e desbloqueia ajuda a Gaza

EUA dizem que dados preliminares confirmam versão israelita, de falha num rocket da Jihad Islâmica. Governo de Netanyahu disse que não irá bloquear a entrada de alimentos e água desde o Egito para os civis palestinianos.

O presidente dos EUA, Joe Biden, ilibou esta quarta-feira Israel da explosão ocorrida na véspera no hospital Al-Ahli Arab de Gaza, apontando o dedo “à outra equipa” durante um encontro em Telavive com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu. As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) dizem que a culpa foi de um rocket defeituoso lançado pela Jihad Islâmica Palestiniana, aliada do Hamas. E os primeiros dados dos serviços de informação norte-americanos vão no mesmo sentido. Mas isso não fez calar os protestos no mundo árabe. Biden saiu de Israel não com um cessar-fogo, mas com a promessa de que a ajuda humanitária poderá entrar em Gaza.

A visita do presidente norte-americano (a segunda a uma zona de guerra este ano, depois da ida à Ucrânia) tinha como foco reiterar o apoio dos EUA a Israel após o ataque do Hamas a 7 de outubro e garantir uma resposta humanitária em Gaza, alvo dos bombardeamentos israelitas desde então. Mas a explosão da véspera – que segundo os palestinianos fez pelo menos 471 mortos – pôs tudo em risco, com os israelitas a serem de imediato acusados pelos palestinianos de serem os responsáveis.

Ainda antes de partir de Washington, Biden já sabia que a sua viagem seria apenas a Telavive e já não à Jordânia, onde inicialmente estava prevista uma reunião com o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, e com o líder egípcio, Abdel Fattah al-Sisi. Os palestinianos culparam Israel do ataque ao hospital, com milhares de pessoas a manifestarem-se em várias cidades, desde Beirute à Cisjordânia, Sanaa ou Argel.

Ao chegar a Israel, Biden disse ter ficado “profundamente entristecido e indignado” com a explosão e apontou o dedo aos palestinianos, A Casa Branca explicou depois que continuava a recolher informação, mas que as primeiras indicações dos serviços de informação norte-americanos afastam a responsabilidade de Israel.

Ainda antes de Biden chegar, as IDF tinham apresentado as suas provas de que a explosão no hospital tinha sido causada por uma falha num rocket lançado pela Jihad Islâmica Palestiniana. Esta organização, segundo um porta-voz das IDF, disparou dez rockets na altura do ataque, tendo um deles caído de forma prematura e atingido o parque de estacionamento do hospital. A Jihad Islâmica negou a responsabilidade, insistindo em culpar Israel.

Os militares israelitas alegam contudo que não efetuaram qualquer disparo que pudesse ter causado a explosão. Além do mais, explicam que um míssil teria deixado uma cratera grande no local e mais danos estruturais nos edifícios em volta, mas as imagens do rescaldo do ataque revelam apenas uma zona queimada. O porta-voz das IDF, contra-almirante Daniel Hagari, disse que os danos são resultado do combustível do rocket que se incendiou após atingir o solo.

Os israelitas divulgaram também imagens do que dizem ser o rocket a ter problemas após o lançamento e a cair, atingido o parque do hospital. E um diálogo entre dois alegados membros do Hamas, com um deles a dizer que os destroços são de um rocket da Jihad Islâmica e que este terá sido lançado do cemitério ao lado do hospital.

As explicações não convenceram todos, havendo quem lembrasse que Israel tinha dado ordens para a evacuação de 20 hospitais de Gaza – um deles o Al-Ahli Arab – e que este tinha sido alvo de ataques israelitas ainda no fim de semana.

Ajuda humanitária

Apesar de Biden ter apoiado a versão israelita, deixou também o aviso em relação à resposta ao ataque terrorista do Hamas de 7 de outubro, que causou mais de 1400 mortos em Israel. “Desde que este ataque terrorista ocorreu, temos visto ser descrito como o 11 de Setembro de Israel. Mas para uma nação do tamanho de Israel, foi como se fossem 15 11 de Setembro”, disse Biden, reiterando o apoio dos EUA aos israelitas.

O presidente norte-americano falou do “choque”, da “dor” e da “raiva” que os israelitas sentem por aquilo que aconteceu. “Mas cuidado. Quando sentirem essa raiva, não se deixem consumir por ela. Depois do 11 de Setembro ficámos furiosos nos EUA. E embora procurássemos justiça e obtivéssemos justiça, também cometemos erros”, acrescentou Biden.

A resposta de Israel foi bombardear a Faixa de Gaza, dar ordens para que os palestinianos retirassem do norte do território – em antecipação de uma eventual incursão terrestre – e declarar um cerco total, cortando a água e a luz. Pelo menos 3200 palestinianos já terão morrido nos ataques.

Biden conseguiu garantia de Israel de que não iria travar a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza via Egito. “Tendo em conta o pedido do presidente Biden, Israel não irá impedir o fornecimento de bens humanitários do Egito desde que seja apenas comida, água e medicamentos para a população civil no sul da Faixa de Gaza”, indicou o governo em comunicado, sem indicar contudo a data em que esta ajuda poderá começar a entrar via a fronteira de Rafah.

EUA vetam resolução

Com Biden no terreno, os EUA vetaram uma resolução no Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre o conflito. A moção, proposta pelo Brasil (que atualmente preside a este órgão), pedia uma pausa nos bombardeamentos e corredores humanitários para permitir a entrada de ajuda, ao mesmo tempo que condenava “os crimes terroristas hediondos do Hamas”.

A embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, justificou o veto dizendo que a resolução não reconhecia o direito de Israel a defender-se, explicando ainda que queria dar tempo a Biden no terreno. A resolução teve o apoio de 12 dos 15 membros do Conselho de Segurança – Reino Unido e Rússia (que tinha tentado, sem sucesso, incluir um cessar-fogo duradouro e o fim dos ataques indiscriminados por Israel) abstiveram-se.

“O Conselho de Segurança da ONU, que se tornou completamente ineficaz, mais uma vez falhou no cumprimento da sua responsabilidade“, escreveu no Twitter (rebatizado X) o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. “Os países ocidentais, que não deixam pedra sobre pedra quando se trata de direitos humanos e liberdades, não tomaram nenhuma medida além de colocar lenha na fogueira”, concluiu.

Fonte: dn.pt por:susana.f.salvador@dn.pt

Notícias Relacionadas
Continue Lendo
Rede Jovem News