Países dividem-se entre apoio e críticas à ordem de evacuação de Gaza

O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abba, avisou que a deslocação da população da Faixa de Gaza significará "uma segunda Nakba", aludindo ao êxodo de centenas de milhares de palestinos durante o conflito desencadeado após a criação do Estado de Israel, em 1948.

Muitos países e organizações que já se pronunciaram sobre a ordem de evacuação de Gaza, emitida nesta sexta-feira por Israel, pediram a suspensão do ultimato, alertando para as consequências, mas os aliados lembram o direito de Jerusalém de defender-se.

O Egito, principal mediador no conflito entre Israel e o Hamas, denunciou a “intransigência israelita”, bem como o apoio norte-americano e britânico e garantiu que continua em contato com Israel e com os seus aliados ocidentais para estabelecer uma trégua.

A posição foi tomada por fontes que pediram anonimato à agência de notícias espanhola Efe, mas que garantiram que o Egito está “tentando preparar o terreno” para um possível ataque terrestre de Israel, eventualmente com a criação de uma zona tampão do lado palestino, perto da passagem fronteiriça de Rafah, que liga o enclave à península do Sinai.

O governo egípcio ainda não se pronunciou oficialmente.

Noutro dos vizinhos de Israel e da Faixa de Gaza, o Rei da Jordânia apelou ao respeito “pelo direito humanitário internacional” e alertou o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken contra qualquer tentativa de deslocar os palestinos de todas as terras palestinas ou causar seu deslocamento.

Abdullah II, cujas forças de segurança têm lançado gás lacrimogêneo contra “as centenas” de pessoas que chegam à fronteira, sublinhou que “a crise não pode espalhar-se para os países vizinhos e exacerbar a questão dos refugiados”.

O monarca lembrou a Blinken a “necessidade de abrir corredores humanitários urgentes” para levar a ajuda necessária ao enclave palestino e pediu “para se proteger os civis e parar a escalada da guerra contra Gaza”.

Também o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, fez um alerta a Antony Blinken, que representa o maior aliado de Israel.

Abbas avisou que a deslocação da população da Faixa de Gaza significará “uma segunda Nakba”, aludindo ao êxodo de centenas de milhares de palestinos durante o conflito desencadeado após a criação do Estado de Israel, em 1948.

Na Turquia, a preocupação dirige-se sobretudo à possibilidade de o Líbano entrar no conflito, tendo as autoridades pedido aos seus cidadãos em Beirute para se manterem afastados da parte sul do país, que faz fronteira com Israel.

Embora não representem as posições oficiais dos seus países, milhares de pessoas no Médio Oriente estão nas ruas manifestando apoio aos palestinos contra os ataques aéreos israelitas que atingem Gaza e sublinhando o risco de eclosão de um conflito regional mais amplo caso Israel avance mesmo para uma invasão terrestre na faixa costeira.

De Amã, na Jordânia, à capital do Iêmen, Sanaa, os muçulmanos saíram às ruas após as orações semanais para mostrar solidariedade para com os palestinos, enquanto em Bagdade, dezenas de milhares de pessoas reuniram-se na Praça Tahrir, no centro da capital do Iraque, para protestar contra “o grande mal, a América, que apoia o terrorismo sionista contra os nossos entes queridos na Palestina”.

Também envolvida numa guerra, a Rússia decidiu criticar os acontecimentos em Israel e em Gaza, com o Presidente, Vladimir Putin, alertando que as baixas civis de uma operação terrestre israelita na Faixa de Gaza “serão inaceitáveis”.

“A operação terrestre em Gaza e o uso de armas pesadas em bairros residenciais terão sérias consequências para todas as partes”, disse, classificando o surto de violência no Médio Oriente como “uma grande tragédia” que “é o resultado do fracasso da política dos EUA naquela região”.

Na Europa, as posições divergem, com os apoios tendendo mais para o lado Israelita.

Na Itália, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Antonio Tajani, comparou o Hamas ao grupo Estado Islâmico (EI) e às SS nazis.

“O Hamas é como o ISIS [o EI], como as SS, como a Gestapo, fazem as mesmas coisas, são terroristas, assassinos e usam o povo palestino como escudo, o que não é justo”, afirmou Tajani durante uma visita de apoio a Israel.

Embora tenha dito esperar “que a paz possa ser alcançada e que a reação de Israel não cause muita tragédia entre a população civil”, Tajani sublinhou considerar que “Israel tem o direito de se defender”.

No Reino Unido, outro dos principais aliados de Israel, o ministro da Defesa, Grant Shapps, também mencionou o direito de Jerusalém de se defender e saudou a ordem dada pelo Governo de Benjamin Netanyahu para evacuar o norte de Gaza antes de entrar no território para “perseguir os terroristas”.

Israel ordenou nesta sexta-feira a retirada, em 24 horas, de mais de um milhão de pessoas do norte da Faixa de Gaza, antes de avançar numa operação terrestre para aquele território.

Uma medida que a ONU considera impossível de cumprir “sem ter consequências humanitárias devastadoras”, como referiu o porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas, enquanto o comissário-geral da Agência das Nações Unidas para os Palestinos, Philippe Lazzarini, descrevia a situação em Gaza como “um inferno à beira do colapso”.

Fonte: dn.pt

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