Herdeiro do negócio imobiliário do pai em Nova Iorque, Donald Trump expandiu-o ao ponto de se tornar um bilionário e uma figura pública. Agora as suas propriedades naquele estado, incluindo algumas das mais conhecidas como a Trump Tower, ou o icônico 40 Wall Street, podem vir a ser liquidadas. O julgamento civil que começa nesta segunda-feira poderá vir a ter pesadas consequências financeiras e representar uma simbólica derrota para o empresário que um dia lançou o livro The art of the deal (A arte da negociação).
O juiz do Supremo do Estado de Nova Iorque Arthur Engoron ainda vai ter que esclarecer o que pode acontecer aos negócios da família Trump. Certo é que na terça-feira passada, antes do início do julgamento civil contra a empresa Trump Organization e sua equipe, o que inclui Donald Trump e os seus filhos Jr. e Eric, Engoron deu razão à procuradora Letitia James, que iniciou o processo judicial no caso em que a empresa e Trump foram acusados de sobrevalorizar os seus ativos de forma fraudulenta.
Ao dar razão à procuradora no caso de valorização fraudulenta das propriedades, o juiz disse que a empresa de Trump vive num “mundo de fantasia”.
O magistrado considerou que houve “fraude continuada” e descreveu um sistema de sobrevalorização de ativos relacionados, por exemplo, com a emblemática Trump Tower em Nova Iorque – onde o empresário viveu antes de se mudar para a Flórida – e outras propriedades do grupo de “812 milhões e 2,2 mil milhões de dólares” – para negociar empréstimos mais vantajosos com os bancos. Num caso, foi inflacionada a área de um edifício comercial em 300 por cento, e valorizaram os apartamentos com rendas controladas da mesma forma que os edifícios onde os proprietários são livres para definir as rendas. “Esse é um mundo de fantasia, não o mundo real”, sentenciou o juiz.
Em consequência, Engoron ordenou o cancelamento das licenças comerciais de Donald Trump e dos seus filhos no estado de Nova Iorque e pediu às partes que propusessem “liquidatários” encarregados de gerir a “dissolução das empresas” em questão.
No julgamento que começa hoje, Engoron vai decidir se Trump e os seus associados violaram outras leis do estado de Nova Iorque. Além disso, vai considerar se é o caso de aplicar penas ainda maiores do que a procuradora Letitia James solicitou, entre as quais 250 milhões de dólares em multas, a proibição a Trump e à Trump Organization em obter novos empréstimos de qualquer banco e operar em Nova Iorque durante cinco anos, bem como a interdição de Trump, dos filhos e de outros executivos da empresa para operarem ou possuírem negócios no estado de Nova Iorque.
Uma hipótese é entregar o controle das empresas a um administrador judicial para, posteriormente, liquidá-las num leilão público.
Apesar de considerar que existem muitas incertezas sobre os próximos passos, John Coffey, professor da faculdade de direito da Universidade de Columbia, comentou à NPR que Trump “corre grandes riscos”.
Não é a primeira vez que Trump é obrigado a pagar por via judicial. Em 2017, desembolsou 25 milhões de dólares para resolver um litígio de acusações de fraude ligadas a um projeto a que chamou de “Universidade Trump”. Em 2019, foram 2 milhões de dólares para pôr fim a acusações de desvio ilegal de fundos de caridade para pagar a sua ação política. Mas a primeira vez que foi condenado foi em dezembro passado: 17 acusações de fraude fiscal e falsificação de registros comerciais.
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