No espaço de horas a Comissão Europeia levantou as restrições à entrada de cereais ucranianos nos cinco países próximos e Kiev anunciou a entrada, pela primeira vez desde a renúncia da Rússia à iniciativa do Mar Negro, de um navio cargueiro num porto seu, sinais de que poderá produzir-se algum alívio na distribuição de produtos essenciais para a segurança alimentar mundial. Na vertente militar, e na senda de vários ataques produzidos pelas forças ucranianas a navios de guerra e a alvos militares no Mar Negro e na Crimeia, o ministro da Transformação Digital assegurou que a frota russa vai encolher.
Segundo Bruxelas, em troca do levantamento do veto da importação, Kiev “concordou em introduzir medidas legais”, como um sistema de licenciamento de exportações para evitar que se verifiquem aumentos no fluxo de cereais para os países vizinhos membros da UE. Enquanto se cumprirem estas condições, que serão vigiadas através da “plataforma conjunta de coordenação” da UE e da Ucrânia criada em junho para monitorizar a situação, a Comissão “abster-se-á de impor novas restrições”.
Enquanto Polónia, Hungria e Eslováquia reiteraram o veto unilateral aos cereais ucranianos, a Roménia quer duplicar o volume do seu trânsito.
É certo que pouco depois de a Comissão ter informado que não iria renovar o veto temporário à entrada de trigo, milho, colza e sementes de girassol, três dos cinco países em questão (Polónia, Hungria e Eslováquia) disseram que iriam impor de forma unilateral a proibição de importar cereais ucranianos, alegando a defesa do mercado e dos agricultores.
Em sentido contrário, a Bulgária e a Roménia não só não irão agir de forma unilateral como o ministro dos Transportes romeno, Sorin Grindeanu, afirmou que é objetivo do seu país duplicar a capacidade de trânsito dos cereais ucranianos nos próximos meses, até quatro milhões de toneladas mensais.
Enquanto Bruxelas terá de afinar com Varsóvia, Budapeste e Bratislava a fórmula para os cereais serem escoados pela Europa, dois navios de carga estão a dirigir-se para os portos da região de Odessa para depois levar cereais para os mercados africanos e asiáticos.
São os primeiros desde meados de julho, quando Moscovo se retirou do acordo assinado com a ONU e começou a atacar as infraestruturas portuárias ucranianas. No mês passado, Kiev anunciou a criação de um “corredor humanitário” no Mar Negro para contornar o bloqueio russo. Desde então, cinco navios utilizaram o corredor para sair dos portos ucranianos, o último dos quais na sexta-feira. O Puma, que estava ancorado em Odessa desde 19 de fevereiro de 2022, transporta 16 mil toneladas de metal e 14 mil toneladas de colza para o porto alemão de Rostock.
Em paralelo ao tráfego marítimo civil, a Ucrânia tem vindo a procurar negar à Rússia a supremacia naval no Mar Negro. Apesar de quase desprovido de Marinha, o país sob ocupação iniciou uma série de ataques nos últimos dias que levaram a danos graves num navio de assalto anfíbio, num submarino, ambos na doca seca de Sebastopol; à destruição de sistemas de defesa aérea também na Crimeia; à captura de plataformas de hidrocarbonetos que eram usadas como postos avançados pelos russos; e a danos em mais dois navios patrulha.
Em entrevista à Reuters, Mykhailo Fedorov, ministro da Transformação Digital, mostra-se confiante no papel decisivo dos drones ucranianos – aéreos e submarinos – naquela região: “Haverá mais drones, mais ataques e menos navios russos. Isso é certo.”
cesar.avo@dn.pt