O G20 manifestou-se este sábado profundamente dividido em relação ao petróleo, decidindo não apelar à saída dos combustíveis fósseis, mas sim apoiar, pela primeira vez, a triplicação das energias renováveis até 2030.
O compromisso do G20 com as energias renováveis, alcançado na cimeira de Nova Deli, foi encarado como um “vislumbre de esperança” para alguns e um “mínimo” para os outros, considerando que a decisão acontece três meses antes da COP28, a 28.ª conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que se realizará de 30 de novembro a 12 de dezembro, no Dubai.
O futuro dos combustíveis fósseis, principal causa da crise climática cada vez mais severa, está este ano no centro das negociações internacionais que culminarão em dezembro, na COP28.
Uma saída dos combustíveis fósseis sem captura de dióxido de carbono (CO2) também é considerada “indispensável” pelo primeiro relatório oficial de balanço sobre o Acordo de Paris, publicado na sexta-feira pela Organização das Nações Unidas (ONU). O G7 – Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido – já aprovou este ano a aceleração da saída dos combustíveis fósseis, mas sem calendário definido.
No final da cimeira do G20, grupo de países que representa 80% das emissões globais de gases com efeito de estufa, a declaração final apela à “aceleração dos esforços para a redução do consumo de eletricidade a partir do carvão”, que exclui o gás e o petróleo, e reafirma o compromisso de “reduzir e racionalizar, a médio prazo, os subsídios para utilizações ineficientes de combustíveis fósseis”, tal como em outras cimeiras anteriores.
O G20, cujas divergências geopolíticas são numerosas, seja sobre a Ucrânia ou por causa da rivalidade entre os Estados Unidos e a China, também se opõe sobre o futuro do petróleo, com grandes produtores como a Arábia Saudita muito relutantes sobre o assunto.
O G20 reúne as 19 economias mais desenvolvidas ou emergentes e a União Europeia. A União Africana passou a fazer parte do grupo desde hoje, não tendo sido ainda mencionada a alteração do nome para G21.
“Os líderes concordaram com o mínimo, uma repetição do compromisso do G20 de Bali em 2022 de reduzir progressivamente o carvão”, disse Lisa Fischer, especialista do grupo E3G sobre alterações climáticas.
No entanto, os líderes do G20 reunidos em Nova Deli reconhecem que limitar o aquecimento global a 1,5°C, o objetivo mais ambicioso do Acordo de Paris, “exige uma redução rápida, forte e sustentada das emissões de 43% até 2030 em comparação com 2019”, de acordo com as recomendações do IPCC (Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), que aponta para um pico nas emissões até 2025.
Embora 2023 esteja no caminho de se tornar o ano mais quente alguma vez registado, “este G20 deveria mostrar o caminho para um futuro sem combustíveis fósseis”, reagiu Friederike Roder, vice-presidente da ONG Global Citizen, denunciando “um muito mau sinal para o mundo”.
A redução dos combustíveis fósseis é uma das ambições do presidente da COP28: o próprio Sultan Al Jaber, ao mesmo tempo chefe da empresa petrolífera nacional dos Emirados Árabes Unidos – ADNOC, considerou a sua redução acentuada “inevitável e essencial”, uma vez construído, no entanto, o sistema de energia limpa do futuro.
Sobre este assunto, o G20 afirma, pela primeira vez, que “continuará e incentivará os esforços para triplicar as capacidades de energia renovável” até 2030, uma meta que deverá ter consenso na COP28.
“Este é um passo significativo e surpreendente do G20”, disse Aditya Lolla, do grupo Ember, saudando “uma grande reviravolta da Arábia Saudita e da Rússia”.
Fonte: dn.pt