O Ministério da Defesa russo, no seu balanço semanal da “operação militar especial” na Ucrânia, revelou ontem ter abatido entre 25 de agosto e 1 de setembro um total de 281 drones ucranianos, incluindo 29 que sobrevoavam zonas ocidentais da Rússia. Não menciona contudo aqueles que atingiram os alvos. Os ataques com veículos aéreos não tripulados estão a tornar-se habituais, com Kiev a avisar que vão aumentar.
Só na quarta-feira, pelo menos seis regiões russas foram atingidas por drones, naquele que foi o maior ataque desde o início da guerra. Um dos alvos atingidos foi a base aérea de Pskov, a 700 quilómetros da fronteira ucraniana, causando a destruição de dois aviões de transporte militares e danificando outros dois. Ontem, o chefe dos serviços de informação ucranianos, Kyrylo Budanov, revelou que esse ataque partiu do interior da Rússia – sem assumir a responsabilidade.
O conselheiro do presidente Volodymyr Zelensky, Mykhailo Podolyak, avisou numa entrevista à Reuters que esses ataques vão continuar a aumentar. “Há um número crescente de ataques por drones não identificados lançados a partir do território da Federação Russa e o número destes ataques vai aumentar”, disse Podolyak. “Porque esta é a fase da guerra em que as hostilidades estão a ser gradualmente transferidas para o território da Federação Russa”, acrescentou.
Os ataques contra Moscovo e outras cidades russas, atribuídos a Kiev, tornaram-se quase diários desde há várias semanas. A Ucrânia tenta levar os combates para o território russo, enquanto prossegue a contraofensiva para recuperar o território perdido no leste e no sul do país. Apesar das queixas de vários aliados em relação à lentidão dessa contraofensiva – com Kiev a rejeitar as críticas e a insistir em pedir mais armas -, a Casa Branca tentou ontem mudar a narrativa.
O porta-voz de Segurança Nacional, John Kirby, admitiu que os combates têm decorrido mais lentamente do que até a Ucrânia esperava. “Dito isto, notámos que nas últimas 72 horas, progressos notáveis foram feitos pelas forças armadas ucranianas na linha da frente sul”, afirmou. “Alcançaram algum sucesso contra aquela segunda linha de defesa russa”, acrescentou.
Em causa estão os avanços de vários quilómetros entre Robotyne e Verbove, na região de Zaporíjia, com a Rússia a dizer contudo que capturou vários locais estratégicos próximo de Kupiansk, no leste. Além disso, os russos prosseguem os bombardeamentos em várias regiões, matando pelo menos um civil em Kherson no ataque com um míssil durante a madrugada.
O líder da agência espacial Roscosmos, Yuri Borisov, anunciou entretanto que Moscovo já tem à sua disposição os mísseis balísticos intercontinentais Sarmat, capazes de transportar uma dezena de ogivas nucleares. O primeiro teste deste míssil foi em abril de 2022, tendo em junho o presidente russo, Vladimir Putin, anunciado que em breve seriam uma opção. Com um alcance de entre 17 mil e 18 mil quilómetros, estes mísseis são uma peça-chave do arsenal de armas da Rússia, capazes de atingir alvos em toda a Europa e EUA.
Regresso às aulas
O dia de ontem foi de abertura do ano letivo para os alunos ucranianos e russos. Numa aula especial, Putin disse aos estudantes que a Rússia é hoje tão invencível como foi durante a II Guerra Mundial. “Compreendi porque é que ganhámos a Grande Guerra Patriótica: é impossível derrotar um povo com este tipo de mentalidade”, afirmou Putin, que compara regularmente o atual conflito à guerra contra a Alemanha nazi. “Éramos absolutamente invencíveis e, hoje, continuamos a sê-lo”, proclamou.
As aulas russas começaram com um novo manual de História, que ensina que a Ucrânia tem autoridades neonazis, que Moscovo é vítima de um bloqueio económico ocidental e que a invasão foi uma questão de sobrevivência. Os alunos dos dois últimos anos do ensino secundário terão de aprender sobre “A Rússia de hoje. Operação militar especial”, segundo a agência espanhola EFE. O manual inclui um mapa da Rússia com as regiões ucranianas de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporíjia, anexadas ilegalmente há um ano e não controladas totalmente por Moscovo.
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