Na Semana da Nutrição, especialista explica a relação entre alimentação e saúde

A nutricionista, 2º tenente e coordenadora técnica de nutrição da Diretoria de Saúde e Promoção Social da Polícia Militar do Tocantins, Drª Gilma Faquini, fala da importância dos cuidados com a alimentação para se ter uma boa saúde e explica como o Tocantins está inserido na geografia da alimentação.

Está encerrando a semana da nutrição, e nessa quinta-feira, 31, comemorou-se o Dia do Nutricionista, uma importante profissão, pois é um segmento da saúde que cuida de muitas áreas da vida das pessoas, como o combate à desnutrição, o controle de peso, a reeducação alimentar, a combinação de alimentos, o que se deve e o que não se deve comer…

Nutricionista é o profissional que atua nas áreas de nutrição clínica, indústria alimentícia, nutrição esportiva, nutrição infantil, nutrição aliada à estética, administração de unidades de alimentação e nutrição, saúde pública, marketing nutricional, assessoria, auditoria, consultoria, docência e pesquisa.

Na tarde de quarta-feira, 30, Gilma Cristina Faquini Moura Lopes, nutricionista, graduada em Serviço Social, diretora do Ministério da Saúde da Igreja Adventista Central de Palmas, 2º Tenente da Polícia Militar do Tocantins e Coordenadora Técnica de Nutrição da Diretoria de Saúde e Promoção Social da PM-TO, especialista em alimentação saudável, palestrante, coach em saúde através da alimentação, perda de peso e realinhamento alimentar, recebeu em seu gabinete, no Quartel do Comando Geral (QCG) em Palmas, TO, o portal Rede Jovem News para uma entrevista, na qual ela fala sobre vários temas relacionados à nutrição, alimentação e saúde, além de destacar a Semana e o Dia do Nutricionista.

Rede Jovem News – Como se sabe, profissional que fez faculdade de nutrição e se tornou nutricionista é responsável por nos orientar sobre a importância da ingestão adequada de nutrientes, além de planejar uma rotina alimentar que se adapte a cada organismo, auxiliando nas escolhas saudáveis e melhorando diversos aspectos da vida. Nesta semana, considerada a Semana da Nutrição no Brasil, comemora-se o Dia do Nutricionista em 31 de agosto. Fale sobre os profissionais, essa data e o papel do nutricionista na sociedade.

Gilma Faquini – O Dia do Nutricionista é comemorado em 31 de agosto desde 1949, quando a Associação Brasileira de Nutricionistas, do Rio de Janeiro, estabeleceu essa data para melhorar os estudos e ampliar os conhecimentos na área da alimentação e da nutrição no Brasil. Então, ficou estabelecido o dia 31 de agosto como o Dia do Nutricionista. É uma data lembrada todos os anos, e essa profissão teve um significado muito importante na época em relação à desnutrição, para cuidar das pessoas desnutridas. Hoje, continua com a mesma função, e maior ainda, ajudando aqueles que têm alimentares hábitos errados. Também trabalhamos para diminuir a questão da obesidade, sobrepeso, que é um grande desafio para muita gente. Isso tem sido a nossa função: melhorar a alimentação das pessoas e passar orientação sobre forma correta de comer, calorias e combinação dos alimentos. O nutricionista é um profissional que devemos valorizar, porque as pessoas estão cada vez mais precisando de orientação, educação alimentar. Estamos vendo pessoas cavando suas sepulturas com os dentes, pessoas que têm adoecido, que estão morrendo antes da época, por não saberem se alimentar corretamente.

Nesse momento, a nutrição entra para ajudar as pessoas e lhes passar uma orientação específica, para que elas tenham mais saúde e mais qualidade de vida. Então, essa é a nossa importância na questão das doenças crônicas não transmissíveis também, que é o que mais mata pessoas atualmente, por causa dos maus hábitos alimentares. As pessoas consomem, em grande quantidade, sódio, açúcar, gordura, sal, conservantes, óleo, álcool, alimentos refinados, enlatados, processados e industrializados; os maus hábitos alimentares têm levado muitas pessoas a adoecerem e até chegarem a óbito. Existe um ditado que diz “peixe morre pela boca”, mas não é só o peixe não, os seres humanos também. Por isto, estamos nessa luta para conscientizar as pessoas, para orientar  e mostrar que é possível ter uma alimentação saudável, um paladar melhor, com alimentos mais específicos, que possam ajudar em várias situações, como na prevenção e no combate a diversas doenças: aumento do colesterol ruim (LDL), hipertensão, obesidade e sobrepeso, doenças cardiovasculares, câncer, diabetes tipo 2, estrias, rugas, anemias, envelhecimento precoce, dentre outras. Nossa função vai muito além de apenas uma orientação nutricional,  trazendo mais qualidade de vida para as pessoas.

Rede Jovem News – Gostaria que a senhora falasse sobre os profissionais da nutrição no Tocantins, quantos fazem parte do Conselho Regional de Nutrição (CRN) do estado e a importância dos serviços prestados por eles.

Gilma Faquini – Na verdade, hoje, eu não tenho esses dados numéricos, com precisão, aqui comigo sobre quantos nutricionistas estejam registrados no Conselho Regional de Nutrição do Tocantins (CRN-TO). O que eu posso dizer é que só no grupo de nutricionistas do Tocantins de que eu participo são quase 300 e tem outro grupo com mais de 250 cadastrados; mas eu não posso afirmar que sejam todos aqui do Tocantins, porque pode ter colegas de outros locais nesses grupos, mas aqui na polícia nós temos três nutricionistas militares e uma colega civil. Esses profissionais trabalham na capital e no interior; nós fazemos viagens a todo o interior do estado para ajudar e acompanhar os colegas que precisem de atendimento nutricional; eu sou a coordenadora técnica de nutrição aqui da Diretoria de Saúde e Promoção Social. Nós quatro temos a responsabilidade de auxiliar e cuidar da saúde dos policiais militares do Tocantins nas diversas corporações, tanto na área operacional como na área nutricional, ajudando a melhorar a saúde dos nossos militares.

Rede Jovem News – A Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS), que é a base para identificar tendências e estatísticas de saúde em todo o mundo, tem catalogados cerca de 55 mil códigos únicos para lesões, doenças e causas de morte. Grande parte das doenças está relacionada a tipos de alimentação, má alimentação, excesso de alimentação e desnutrição. Fale um sobre a relação entre alimentação e saúde.

Gilma Faquini – Eu sempre faço a seguinte pergunta: “O seu prato o alimenta ou o preenche?” Porque o que as pessoas mais prezam é comer e matar a fome; só que existe uma grande diferença entre comer e nutrir-se, alimentar-se corretamente. E o nosso papel como nutricionistas é passar aos pacientes uma dieta alimentar nutritiva, correta, livre de tantos aditivos químicos que existem por aí, orientando e alertando as pessoas em seus hábitos alimentares, para que elas prefiram alimentos in natura, em vez de alimentos processados, enlatados ou industrializados. Um bom exemplo é o milho verde; em vez de comprar a latinha do milho em conserva, escolha comprar espigas de milho verde em supermercados ou feiras, porque o milho in natura é incomparavelmente mais saudável, já que não possui aditivos químicos (sal, corante, acidulante, conservante, sódio) e tem mais nutrientes. A gente sempre alerta as pessoas para que consumam mais alimentos naturais, porque é isso que vai nutri-las. O que tem adoecido a população é uma alimentação rica em sódio, açúcar, sal, gordura saturada… tudo junto, num pacote só. Às vezes, você come um alimento e ele contém um excesso de açúcar, gordura e sódio, produtos que realmente têm feito com que as pessoas adoeçam.

Assim, nossa função é mostrar que realmente é importante manter a vontade de buscar melhora na alimentação, estimulando-se a apurar o paladar e aprimorando-se para estar mais voltado ao produto natural, em vez de estar apenas envolvido com alimentação industrializada; é levar o paciente a pensar melhor na saúde, habituando-se a se alimentar da forma correta, porque, como eu já disse e reafirmo, o excesso de sódio, gordura, açúcar e outros produtos, já mencionados anteriormente, tem feito com que as pessoas fiquem com sobrepeso, obesidade; isso, associado ao sedentarismo, aumenta a possibilidade do surgimento de diversas doenças, conforme eu mencionei anteriormente.

Hipertensão, diabetes, colesterol e demais doenças cardiovasculares exigem uma alimentação mais exclusiva, à base de frutas, castanhas, vegetais. A própria OMS recomenda que nós tenhamos, pelo menos, 400 g de frutas e vegetais ao dia na nossa alimentação. Entretanto, as pessoas estão acostumadas a consumir mais produtos industrializados e enlatados do que deveriam.

Rede Jovem News – Na geografia da alimentação, estudam-se e discutem-se desde a escassez de alimentos em alguns países e classes sociais até a alta produtividade (como é o caso do Brasil e de outros grandes produtores de carnes, grãos, frutas e víveres de modo geral), a qualidade dos alimentos, o regime alimentar e a educação alimentar. Inclusive, a senhora Ana Letícia Espolador Leitão, membro do Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Territórios Rurais, uma das maiores autoridades no Brasil em matéria de alimentos, defendeu, em 2021, sua tese de doutorado sobre a geografia da alimentação no Brasil e no mundo: “O lugar do alimento no pensamento geográfico – uma análise a partir de Maximilien Sorre e de Josué de Castro”. Nesse contexto, como o Tocantins e, especialmente, Palmas estão inseridos?

Gilma Faquini – Nós temos dados importantes sobre esse assunto de alimentação saudável. Em se tratando de países do mediterrâneo, povos que têm o hábito de consumir uma alimentação mais natural, à base de verduras, frutas, sementes e castanhas, realmente a qualidade de vida é melhor; eles têm longevidade, mais saúde e estão livres de vários tipos de problemas, como câncer, diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares. Aqui no Brasil, temos uma região com índice altíssimo de incidência de câncer, principalmente no estado do Rio Grande do Sul, onde a cultura e hábitos da dieta alimentar levam a população a consumir, tradicionalmente, muita carne e poucas verduras, folhagens, vegetais, o que faz com que se eleve o nível de problemas de obesidade, câncer, doenças cardiovasculares, diabetes, colesterol… Aqui no nosso estado, o Tocantins, ainda estamos longe de ter uma alimentação adequada para toda a população, mas estamos no caminho. O Tocantins é um estado novo, foi dividido há poucos anos, apenas 35, mas nós temos visto um grande progresso nessa área. Aqui na nossa capital, Palmas, embora estejamos longe do nível ideal – ainda há muito desejar – já melhorou bastante. A população palmense consome mais verduras, frutas, sementes e legumes do que comia há algum tempo atrás; e a gente tem visto que o consumo per capta de carnes, principalmente carnes vermelhas, vem declinando. Temos visto o interesse das pessoas em melhorar a sua alimentação, buscando alternativas mais saudáveis, com alimentos mais específicos. A gente vê aí pra todos os lados hortas comunitárias, onde as pessoas podem comprar suas folhas (alface, rúcula, cheiro verde…). Vemos, também, feiras livres em diversos pontos da cidade, como 304 Sul, 1106 Sul, Aureny I, Taquari, 307 Norte e outras, repletas de muitas coisas, verduras e frutas fresquinhas, viçosas e saudáveis. Tem melancia o tempo todo, mas, nessa época do ano, período da safra da melancia, a fruta está bem docinha – é uma fruta muito deliciosa e saudável.

Rede Jovem News – Eu gostaria que a senhora falasse sobre o desenvolvimento da criança em relação à sua alimentação, desde os primeiros momentos de vida, na gestação, no período de amamentação e depois dessas fases. Como deve ser dada uma boa educação alimentar para os nossos filhos, com hábitos alimentares saudáveis, para que eles possam crescer bem alimentados, corretamente nutridos e se tornar adultos fortes e com boa saúde.

Gilma Faquini – Desde a gravidez, a mulher já tem que começar a cuidar da alimentação; ela deve comer alimentos saudáveis, para que sua criança venha a se desenvolver com saúde e possa nascer nutrida. Durante todo o pré-natal, ela deve fazer o acompanhamento com o seu médico, obstetra, e também com o seu médico ginecologista, mas, dependendo da situação, ela precisará ser cuidada também por um nutricionista, para fazer um acompanhamento melhor na sua dieta alimentar; quando o bebê nascer, ele precisa de amamentação exclusiva no peito da mãe; o leite materno deve ser o alimento exclusivo do bebê até os seis meses de vida; afinal, o leite materno é o melhor alimento do mundo – o alimento mais rico que existe; então, além do leite materno, a criança não precisa ter qualquer outro alimento nesse período de seis meses. Entretanto, em alguns casos, infelizmente, a mãe não tem a capacidade de produzir a quantidade suficiente de leite para alimentar o seu bebê; então, com a orientação de um médico neonatologista, poderá suplementar a alimentação da criança, para auxiliar na sua nutrição. Mas, no geral, só o leite materno já é suficiente para nutrir e proteger essa criança de várias doenças, de várias enfermidades.

Depois dos seis meses de vida da criança, já pode ir introduzindo na sua alimentação frutinhas e papinhas, para que ela comece a sentir o sabor dos alimentos; mesmo assim, a mãe deve continuar amamentando o bebê; o ideal é que a criança seja amamentada até os dois anos, mas coma também outros alimentos, acompanhando uma dieta específica – comidinha mais leve, sem gordura, pouco sal e nada de açúcar, porque o açúcar é muito prejudicial. Eu mesma oriento as mães para não darem açúcar para o seu filho na alimentação, porque, uma vez que sentir o doce do açúcar, ele vai gostar e vai querer ingerir açúcar sempre; então, eu sempre oriento as mães para não darem açúcar para as crianças em hipótese alguma até os dois aninhos, mas eu ressalto que, mesmo depois dos dois anos, é bom continuar não oferecendo açúcar, pois isto vai ajudar muito na saúde da criança, e a criança precisa ser educada na alimentação.

A partir dos nove meses de idade – ou até menos – a criança já tem possibilidade de aprender a comer sozinha, para não ficar dependente o tempo todo de um adulto que coloque a colher na sua boca; é preciso estimular a criança, para que ela não tenha preguiça de comer sozinha. O ideal é que a criança fique ali com seu pratinho, mas, claro, sendo acompanhada por uma pessoa adulta; assim, ela tem contato com a alimentação desde pequenininha, para sentir o gosto das coisas; aos poucos, devem ser introduzidos outros alimentos, como verduras e ovo, por exemplo; então, a alimentação da criança vai ficando cada vez mais rica e nutricional e ela vai crescendo saudável e livre de doenças.

Foto: Flávio Clark

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