Kremlin nega ordens para matar Prigozhin e obriga paramilitares a juramento

"Mentira absoluta", diz Peskov sobre acusações. Caixas pretas do avião em que seguia líder do Grupo Wagner já foram recuperadas.

O Kremlin rejeitou esta sexta-feira os rumores de que orquestrou ou ordenou a morte do líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, que terá morrido na queda de um avião dois meses depois da sua tentativa de rebelião falhada contra o antigo aliado, o presidente russo Vladimir Putin. Este assinou o decreto que obriga os membros de organizações paramilitares a jurar “fidelidade” e “lealdade” à Rússia.

“É claro que, no Ocidente, esta especulação [que que Putin é responsável] está a ser apresentada de um certo ângulo. Tudo isto é uma mentira absoluta”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. Este responsável, que oficialmente ainda não reconheceu a morte de Peskov, pediu ainda paciência para que sejam conhecidos os resultados das investigações à queda do avião em que seguia Prigozhin. Esta sexta-feira, foram recuperados os corpos dos dez passageiros e tripulantes, além das caixas negras. O Pentágono suspeita que houve uma explosão a bordo, tendo contudo afastado a hipótese de ter sido usado um míssil terra-ar.

O presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, que ajudou a mediar o acordo que permitiu acabar com a rebelião, disse não acreditar que Putin tenha sido responsável – apesar de ter alertado pelo menos duas vezes Prigozhin (e o seu braço direito Dmitry Utkin, que também ia a bordo), para as possíveis ameaças às suas vidas. “Eu conheço o Putin. Ele é calculador, muito calmo, moroso até. Não consigo imaginar que Putin o tenha feito, que Putin seja o culpado. É um trabalho rude e pouco profissional”, afirmou.

Lukashenko disse ainda que o Grupo Wagner, cujo futuro muitos dizem estar em risco, irá continuar na Bielorrússia – para onde os mercenários foram após a rebelião falhada, ao abrigo de um acordo de amnistia negociado com Putin. O Grupo Wagner viveu, vive e viverá na Bielorrússia”, disse Lukashenko, citado pela agência de notícias oficial Belta. “Dentro de alguns dias, todos estarão aqui, até 10 mil pessoas”, alegou.

Mas para o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, “já não existe atualmente um Grupo Wagner como havia há um ano, como uma força de combate séria”. Em entrevista ao jornal alemão Welt am Sonntag, resumiu: “Eles estão desfeitos”. Já Peskov, quando questionado sobre o futuro do grupo, limitou-se a dizer aos jornalistas: “Não vos consigo dizer algo neste momento. Não sei.”

Os analistas admitem que a morte de Prigozhin possa ser um golpe para os mercenários, mas acreditam que o modelo, indiretamente ligado ao Estado russo, deverá sobreviver. “Embora a Rússia tente manter o modelo dos grupos militares privados para a sua política externa e sua assistência à segurança, o mercado provavelmente vai se diversificar” para evitar o surgimento de um novo Prigozhin, disse à AFP Catrina Doxsee, do think tank norte-americano CSIS.

Nem a primeira nem a última

Entretanto, as autoridades ucranianas disseram esta sexta-feira que a operação especial realizada na véspera na Crimeia não é a primeira nem será a última. “Nem todas as operações podem ser contadas”, afirmou à Radio Liberty o secretário do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia, Oleksi Danilov. “A única coisa que posso dizer é que [as operações] não terminarão até que todo o território do nosso país, incluindo a Crimeia, esteja livre de terroristas”, referiu, insistindo que a opção de uma intervenção militar naquela península não está descartada enquanto os russos não entenderem que “têm de sair”.

Com agências

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