As diferenças entre a acusação contra Donald Trump de conspiração para reverter os resultados das eleições de 2020 na Geórgia e as outras três de que o ex-presidente dos EUA é alvo começam logo no momento em que tem que se apresentar às autoridades – desta vez parece que haverá foto policial -, prolongam-se por todo o processo que pode ser transmitido pela televisão e vão até à eventual condenação e a um perdão mais difícil de alcançar. Por enquanto, os advogados do favorito à nomeação republicana para a Casa Branca tentam conter Trump, conseguindo que este cancelasse uma conferência de imprensa para revelar um relatório sobre todas as alegadas fraudes que diz ter havido na eleição nesse estado.
“Em vez de divulgar o relatório sobre a eleição presidencial fraudulenta e roubada da Geórgia em 2020 na segunda-feira, os meus advogados preferem colocar estas, acredito, provas irrefutáveis e esmagadoras de fraude eleitoral e irregularidades em registros legais formais enquanto lutamos para rejeitar esta acusação vergonhosa”, escreveu na sua rede social.
Trump foi acusado na segunda-feira pela procuradora de Fulton, Fani Willis, de 13 crimes, incluindo violação da lei de extorsão estadual – normalmente usada contra o crime organizado. Há outros 18 arguidos neste que é o quatro caso contra ele: responde também pela compra do silêncio de uma ex-estrela pornô em Nova Iorque; pelos documentos secretos encontrados em Mar-a-Lago na Florida; e por tentar interferir com a confirmação da vitória de Joe Biden em 6 de janeiro de 2021 em Washington.
No caso da Geórgia, Trump tem até dia 25 de agosto para se entregar voluntariamente na prisão do condado (e não num tribunal ou no gabinete do procurador como nos outros casos). O xerife local Pat Labat disse que, até receber ordens em contrário, o ex-presidente será tratado como qualquer outro arguido. Isso significa que lhe serão tiradas as impressões digitais e a sua fotografia entrará pela primeira vez nos registros policiais – nos três casos anteriores, isso não aconteceu. Contudo, segundo a CNN, a defesa estará negociando a hipótese de Trump se entregar no gabinete do procurador distrital, por questões de segurança.
A leitura formal das acusações (que na Geórgia é um procedimento diferente da identificação) e a declaração de culpado ou não culpado poderá ser feita na semana de 5 de setembro à distância. Caso seja feita de forma presencial, será a primeira vez que as câmeras de televisão podem captar esse momento. Nos tribunais federais, as câmeras não são permitidas e, no tribunal de Nova Iorque, só houve direito a fotografias. Os norte-americanos vão poder seguir todo o julgamento ao vivo, ouvindo em primeira mão os argumentos quer da acusação, quer da defesa.
Isto se os advogados de Trump não conseguirem passar o processo para um juiz federal. A defesa vai argumentar que os crimes foram cometidos quando era presidente e que só os tribunais federais o podem julgar. Isso fecha as portas às câmeras (e o julgamento poderá decorrer em plena campanha) e ajudará também mais tarde caso haja uma condenação. Se for condenado na Geórgia, um eventual perdão é muito mais difícil, pois depende de uma comissão específica (não do presidente – e Trump quer regressar à Casa Branca – nem do governador).
Mas muita água ainda irá correr até lá. Os procuradores propuseram a data de 4 de março – a véspera da Super Terça-feira (quando se realizam mais de uma dúzia de primárias) – para o início do julgamento. Algo que os advogados devem contestar, da mesma forma que estão querendo adiar o julgamento do caso de Washington. Propõem que só comece em abril de 2026, muito depois das presidenciais, quando os procuradores querem que seja já em janeiro.
O argumento a favor do adiamento prende-se à quantidade de documentos envolvidos, com a defesa alegando que seria preciso analisar quase cem mil páginas por dia para acabar a tempo da data proposta. Para os procuradores, 2 de janeiro é “um equilíbrio apropriado entre o direito do acusado de preparar a defesa e o forte interesse público em ter um julgamento célere”. A juíza Tanya Chutkan decidirá em 28 de agosto.
Dias antes, em 23 de agosto, será o primeiro debate entre candidatos republicanos na Fox, mas a participação de Trump não está prevista – segundo o New York Times, dará antes uma entrevista a Tucker Carlson, afastado da televisão conservadora. Ou poderá escolher precisamente esse dia para se entregar na Geórgia, marcando a agenda noticiosa.
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