Acusações de racismo na China contra negros rejeitadas por Pequim

Denúncia é feita pelo Observatório de Direitos Humanos e tem como base a análise de centenas de vídeos. No ano passado, um documentário da BBC expôs um esquema de exploração de crianças vulneráveis em África para produzir vídeos racistas que são depois difundidos nas redes sociais chinesas.

O racismo contra negros é “predominante” nas redes sociais da China e as autoridades ignoram o fenómeno, acusa o Observatório de Direitos Humanos (ODH), organização que Pequim considera “sem credibilidade”, refutando as alegações.

Depois de a cadeia televisiva BBC ter exposto um esquema de exploração de crianças vulneráveis em África, para produzir vídeos racistas que são depois difundidos nas redes sociais chinesas, a ODH afirma num novo relatório que conteúdo racista na Internet chinesa direcionado a negros “tornou-se comum”, nos últimos anos.

Com base na análise de centenas de vídeos, o ODH apurou que as principais redes sociais na China – incluindo Bilibili, Douyin, Kuaishou, Weibo e Xiaohongshu – “permitem frequentemente” a publicação de conteúdo racista.

“O Governo chinês gosta de promover noções de unidade e solidariedade anticolonialista nas relações com África, mas ao mesmo tempo ignora o discurso de ódio generalizado contra os negros na Internet”, denunciou Yaqiu Wang, pesquisador do ODH, no relatório intitulado “China: Combater o Racismo Contra Negros Nas Redes Sociais”.

“Pequim deve reconhecer que realizar investimentos em África e abraçar a amizade China-África não anula os danos causados pelo racismo”, acrescentou.

Em comunicado enviado à agência Lusa, o Governo chinês disse “opor-se firmemente a todas as formas de discriminação racial” e garantiu que “combate ativamente o racismo”.

“A irmandade entre China e África passou pelos testes da luta e do tempo, e nenhuma força pode abalá-la”, lê-se na mesma nota.

Sem partilhar exemplos específicos, o ODH indicou que um género de vídeo amplamente partilhado retrata os africanos como um povo pobre e subordinado, enquanto os chineses radicados em África são exibidos como ricos e generosos, que fornecem aos locais emprego, casa, comida e dinheiro.

Outro tipo comum de conteúdo racista denigre as relações inter-raciais, segundo o ODH.

Neste caso, pessoas negras que estão casadas com cidadãos chineses são acusadas de “contaminar” e ameaçar a “raça” chinesa. Relacionamentos entre homens negros e mulheres chinesas são particularmente menosprezados.

Algumas mulheres chinesas que partilharam fotos com os seus parceiros negros nas redes sociais chinesas tornaram-se alvo de assédio online, incluindo ameaças de morte, ameaças de violação e a publicação das suas informações pessoais, segundo o ODH.

Alguns internautas instaram ainda as autoridades chinesas a proibir pessoas negras de se tornarem residentes permanentes na China ou de se casarem com cidadãos chineses.

Pequim mantém um mecanismo de censura online conhecido por “Grande Firewall da China” e que bloqueia portais como Facebook, Youtube e Google ou as versões electrónicas de vários órgãos de comunicação estrangeiros.

Conteúdo e comentários nas redes e espaços de discussão online são sujeitos a controlo das autoridades. Os algoritmos permitem censurar rapidamente conteúdo considerado politicamente sensível, enquanto determinadas palavras-chave, como “Massacre de Tiananmen”, estão interditas de serem publicadas.

Pessoas negras que moram na China citadas pelo ODH afirmaram terem denunciado “conteúdo racista” junto das empresas que gerem as redes sociais. Eles disseram terem recebido apenas respostas automáticas a indicar que o conteúdo não violava as diretrizes.

“Para mim, é chocante que conteúdo [racista] não seja censurado ou banido, face à rapidez com que o Grande ‘Firewall’ trabalha para proibir [criticas ao governo]”, disse um africano radicado em Xangai citado no relatório do ODH.

No comunicado enviado à Lusa, o Governo chinês disse que o ODH “está acostumado a fabricar e espalhar mentiras e rumores”.

“É basicamente um criminoso ao serviço de certos países para manipular a opinião pública e não tem credibilidade”, assegurou.

No ano passado, um documentário produzido pela cadeia televisiva BBC expôs um esquema de exploração de crianças vulneráveis em África, para produzir vídeos racistas que são depois difundidos nas redes sociais chinesas.

O documentário, com o título Racism for Sale (“Racismo à venda”, em português) mostra como criadores de conteúdo chineses venderam vídeos de crianças no Maláui a gritar insultos raciais contra negros, proferidos em chinês, sem entenderem o que estão a dizer.

Num desses vídeos, que remonta a fevereiro de 2020, um grupo de crianças africanas foi instruído a repetir a frase: “sou um monstro negro e o meu QI é baixo”.

“As principais redes sociais da China não estão a cumprir com as suas próprias diretrizes para lidar com conteúdo racista generalizado”, disse Wang. “As autoridades chinesas devem parar de facilitar este ambiente tóxico”, afirmou.

Fonte: dn.pt

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