Há quanto tempo não ouvia falar do coronavírus que, no final de 2019, invadiu o mundo – o SARS-CoV-2 – ou da Covid-19? Provavelmente, há três meses, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou o fim da pandemia numa reunião em 5 de maio.
Mas o aparecimento de uma nova sublinhagem do vírus, a EG. 5 Eris, que deriva de uma subvariante da ômicron, a XBB.1.9.2 – e que foi detectada em fevereiro deste ano, tendo sido identificada em Portugal há cerca de um mês -, fez com que os alarmes soassem de novo junto do Comitê de Peritos dessa organização, que já veio pedir aos países para estarem atentos e não se descuidarem da vigilância.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, fez na sexta-feira passada uma atualização do número de casos registrados diariamente em todo o mundo – 1,5 milhão, no último mês, o que representa um aumento da ordem dos 80% em relação aos 28 dias anteriores, atingindo sobretudo países como a China, os Estados Unidos da América, a Coreia do Sul e o Japão.
No entanto, no mesmo período, a mortalidade teve uma queda acentuada, da ordem dos 57%, ficando pelos 2.500 óbitos diários. Em Portugal, os últimos dados divulgados pela Direção-geral da Saúde dão conta de um pico no número de casos, desde o dia 6 de agosto até dia 10 (de 152 casos diários para 448), quase que triplicando em poucos dias, embora o número de óbitos se mantenha baixo (entre os 6 e 10 por dia).
Ao DN, o pneumologista e ex-coordenador do Gabinete de Crise Contra a Covid-19 da Ordem dos Médicos, Filipe Froes, explica que este aumento pode derivar da nova variante EG.5, que está se replicando rapidamente e deve mesmo tornar-se predominante, mas também do evento que foi a Jornada Mundial da Juventude, que reuniu muitos milhares de jovens.
“Se estiveram reunidas condições para que fosse possível uma maior transmissibilidade, é certo e sabido que teremos um aumento de casos em Portugal e nos países de origem dos peregrinos na semana passada e que este continuará a sentir-se nos próximos dias”. Mas, reforça, “a esmagadora maioria das pessoas que lá estiveram eram jovens e saudáveis, não integravam grupos de risco, e mesmo que haja aumento de casos não é expectável um aumento de hospitalizações”.
Filipe Froes argumenta que esta nova sublinhagem da ômicron veio relembrar dois aspectos essenciais: “O primeiro é que o vírus veio para ficar e que deve permanecer integrado nos sistemas de vigilância mundiais; o segundo tem a ver com a necessidade de vacinar os grupos de risco sazonalmente”. Ou seja, previsivelmente, no próximo outono-inverno “a campanha da vacinação contra a Gripe vai ter de incluir também uma campanha de vacinação contra o SARS- CoV-2”. O médico acrescenta que em termos de gravidade, pelo menos até agora, “não há indicação que esta tenha aumentado com a EG. 5”.
A própria OMS confirmou “não haver dúvida de que o risco de doença grave e de morte é muito menor agora do que há um ano, graças ao aumento da imunidade da população obtida por meio da vacinação, infecção ou ambos, e ao diagnóstico precoce combinado a um atendimento clínico melhor”. Mas, a verdade, sublinhava o diretor-geral na semana passada, é que “o risco da covid-19 para a saúde pública global ainda é alto”.
Ameaça futura
O pneumologista português destaca mesmo: “Vivemos um momento único” na luta contra o vírus, porque “a maior parte da população está vacinada com várias doses ou já teve a infecção; portanto, está protegida para as variantes e subvariantes da ômicron que vão aparecendo. Daqui a um ano será diferente, porque, provavelmente, já não temos o nível de proteção que existe agora, tendo os países que preparar-se para uma possível variante de maior gravidade”.
Para Filipe Froes este é um dos aspectos a ter em conta para o futuro: “Variantes com maior gravidade devido à perda de imunidade da população. Daí a importância de os países manterem uma monitorizada apertada através dos sistemas de vigilância mundiais”. Os EUA, onde os casos têm crescido, já avisaram que querem começar a vacinar a população no próximo mês com novas vacinas, mais adaptadas às subvariantes e sublinhagens da ômicron, mas os especialistas receiam que desta vez não haja uma adesão tão forte à vacinação.
Perante esta realidade, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, realçou na sexta-feira que “os números divulgados não refletem a situação real, já que os testes de diagnóstico e a monitorização da pandemia também diminuíram”.
Daí, reforçou, a necessidade de os países manterem “os programas nacionais para a covid-19 atualizados; manterem a manutenção da vigilância colaborativa para a doença, de forma a conseguir detectar alterações significativas no vírus e tendências sobre a gravidade da doença e imunidade da população, como manterem a continuidade da divulgação dos dados à OMS ou em fontes abertas, especialmente os relacionados com óbitos, casos graves, sequenciamento genético e eficácia das vacinas”.
Fonte: dn.pt